Encontro com o chef

Doces com inspiração paterna

Na infância, Yukie Vieira contou com o incentivo do pai para fazer bolos. Adulta, transformou a confeitaria em profissão

Yukie Vieira ganhou a primeira batedeira quando tinha 8 anos de idade — um presente do seu maior incentivador: o pai. “Desde pequena, gostava de cozinhar, mas minha mãe não queria que eu fizesse bagunça na cozinha. Então, ele me levava para a chácara da família, onde ficava a batedeira, comprava os ingredientes e dizia que eu podia preparar quantos bolos quisesse. Eu ia na intuição, sabia que levava ovo, farinha, manteiga, açúcar, e ia criando. Meu pai, coitado, comeu muito bolo ruim”, diverte-se. E até os últimos dias de vida, seu Alberto deu forças à filha e foi decisivo no caminho que ela seguiria.

“Sempre quis trabalhar com algo que pudesse criar. Por um tempo, fiquei dividida entre fazer moda e arquitetura. Gastronomia nunca chegou a ser uma opção. Mas, como boa brasiliense, acabei cursando direito com o objetivo de estudar para concursos”, conta. Yukie tinha o seguinte raciocínio: “Primeiro, vou me estabilizar financeiramente para, depois, fazer o que quiser”.

Mas alguns percalços acabaram mudando os planos da jovem. Duas semanas depois da formatura, o pai de Yukie sofreu um acidente e ela precisou, ao lado da mãe, cuidar dele. “Como ele era mais velho, a recuperação não foi fácil e acabamos descobrindo um câncer pelo caminho”, recorda-se. Durante três anos, a brasiliense dividiu o seu tempo entre os cuidados com seu Alberto e os estudos para concurso.

Mas Yukie não estava feliz. E o pai, mais que ninguém, sabia disso. “Uma semana antes de ele morrer, estávamos assistindo a um documentário sobre confeitaria francesa e ele me disse que lembrava o quanto eu ficava feliz quando fazia os meus bolos, e que eu deveria ir atrás dos meus sonhos.” E jogou a semente ao dizer à filha que ela deveria estudar confeitaria.

Yukie seguiu o conselho. Até como uma forma de terapia para superar a perda, matriculou-se um curso de confeitaria no Senac. Ela viu que levava jeito para a coisa, inclusive, uma professora disse que deveria investir na profissão, fazer cursos, aperfeiçoar-se. “Naquele momento, foi como se os planetas tivessem se alinhado”, resume. “Eu queria experimentar, criar, levar alegria para outras pessoas, exatamente como acontecia quando fazia os bolos para o meu pai.

Ganhando o mundo

Concluído o curso do Senac, Yukie foi atrás de outros, em São Paulo, pela internet, e começou a fazer bolos para vender. Surgia, assim, a Silvestre Bakery. “Queria algo que remetesse à natureza, trabalhar com Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) e flores comestíveis, tanto nos ingredientes quanto na decoração. Queria promover um escape da vida urbana, dar às pessoas a sensação de estar no campo.” Tudo isso por meio dos seus bolos e doces.

Mas Yukie sentiu que precisava se aperfeiçoar mais. Em 2019, ela fechou a Silvestre e foi para Paris. Fez cursos pontuais de confeitaria nas conceituadas escolas Le Cordon Bleu e La Cuisine. De volta ao Brasil, queria passar pela experiência de trabalhar em um restaurante. Surgiu, então, a oportunidade de estagiar na confeitaria do D.O.M e do Dalva e Dito, casas do renomado chef Alex Atala, em São Paulo.

Terminado o estágio, a confeiteira ficou na dúvida se permaneceria em São Paulo, mas aí veio a pandemia e ela decidiu voltar para Brasília e reabrir a Silvestre. “A receptividade foi muito boa. Tinha cliente que estava esperando minha volta. A Páscoa e o Dia das Mães me surpreenderam. Como faço um trabalho personalizado, muita gente me procurava para mandar afeto, em forma de doces, para pessoas queridas neste momento tão difícil.”

Além dos bolos, doces e cupcakes, Yukie trabalha com biscoitos decorados, tudo pintado à mão, um a um, em aquarela. “Já recebi encomenda de mais de 3 mil biscoitos de uma empresa. Mas tem cliente que pede apenas uma unidade. Muitos noivos me procuram para desenhar a foto do casal e distribuir de lembrança no casamento”, detalha.

A confeiteira continua a fazer experimentos com Pancs e flores. Em casa, cultiva algumas, como capuchinha, penta e cravina. Outras, compra em lojas especializadas. “Como se trata de um produto orgânico e com cultivo especial, ainda tenho dificuldade em encontrar algumas espécies, sem falar que são muito caras.”

Enquanto planeja abrir um espaço físico, Yukie segue criando, exatamente como sempre sonhou. No ateliê, guarda a batedeira que ganhou de presente do pai como uma espécie de amuleto da sorte. “Ela já não funciona, mas estará sempre comigo.”

Biscoitos amanteigados

Pedro Oliver/Divulgação - Biscoitos amanteigados, da Silvestre Bakery

Ingredientes
(na ordem de utilização)
1 xícara (200g) de manteiga em temperatura ambiente
1/2 xícara (116g) de açúcar refinado (pode ser substituído por açúcar mascavo)
1 ovo
1 colher de chá (5ml) de essência de baunilha
2 e 1/2 xícaras (350g) de farinha de trigo
1 colher de chá (5g) de fermento químico

Modo de preparar
Bata a manteiga e o açúcar até incorporarem. O creme terá uma cor mais clara e estará aerado e mais volumoso.
Adicione o ovo e misture bem (se for aumentar a receita, adicione um ovo por vez e misture bem entre cada adição).
Acrescente a essência de baunilha e misture.
Peneire a farinha junto com o fermento e adicione aos poucos à mistura. Misture bem.
Abra a massa com um rolo entre duas folhas de papel-manteiga até ficar com 0,5cm de espessura. Podem ficar mais grossos a gosto. O ideal é já cortar as folhas no mesmo tamanho da assadeira. Leve para descansar na geladeira por pelo menos duas horas.
Preaqueça o forno a 170°C.
Corte a massa assim que sair da geladeira com cortadores ou uma faca.
Asse por 10 a 15 minutos ou até ficarem com as bordas douradas.
Essa receita rende aproximadamente 20 biscoitos.

Serviço
Instagram: @silvestrebakery
WhatsApp: 99646-6885