Beleza

Ao natural: como assumir o cabelo branco com muito estilo

Mais mulheres estão abandonando as tinturas e as horas dentro do salão para aceitar os fios brancos. Especialistas ensinam como cuidar e acelerar o branqueamento

O cabelo branco é um fenômeno natural e progressivo que pode afetar qualquer pessoa a partir dos 35 anos. Além da perda de melanina nos fios, também costuma ficar mais opaco, quebradiço e fino. Por outro lado, o tabu que as mulheres enfrentam ao assumir os fios na cor natural faz com que muitas se sintam dependentes das tinturas e dos salões de beleza.

A professora Ana Blandim começou a usar cabelos brancos naturais alguns dias antes de completar 50 anos, no ano passado. Ela conta que esse sempre foi seu objetivo, então, programou-se ao máximo para conseguir colocar em prática. Como estava com metade dos fios brancos, pintar já não fazia o mesmo efeito de antes. “Meu cabelo estava com três cores: a natural, o branco e as pontas pretas com química.”

Ana passou por uma transição de um ano, tempo em que fez várias luzes para o clareamento dos fios tingidos e hidratou bastante o cabelo. A professora, hoje, diz se sentir mais livre. Não existe mais a necessidade de ficar retocando a raiz — apenas mantém o hábito de hidratar, usar matizador e desamarelador.

Uma parte da família aceitou bem a mudança, mas outra continua criticando-a. De uma coisa ela tem certeza: a autoestima melhorou muito. Ana aconselha quem está passando por esse processo: “Ame-se sempre e aproveite o momento que você alcançou, porque é único”.

Como surgem

Os fios brancos aparecem pela diminuição — ou perda — da atividade dos melanócitos, as células que produzem o pigmento melanina. De acordo com Clarissa Borges, dermatologista proprietária da clínica Harmonie, em pessoas brancas, costumam surgir por volta dos 35 anos e, em negras, a partir dos 45 anos. É possível também que eles apareçam na faixa dos 20 anos, ou até antes, se acontecer exaustão do reservatório de melanócitos ou defeito na ativação e migração celular. “Isso pode ocorrer devido a fatores ambientais, inflamações diversas ou estresse psicológico”, afirma.

Segundo João Gabriel Nunes, tricologista, especialista em transplante capilar e proprietário do Centro Médico Capilar, alguns grupos podem ser mais propensos à canície — popularmente conhecida como cabelos brancos. Entre eles, pessoas com hipotireoidismo, hipertireoidismo e anemia perniciosa.

Além de hidratar os fios, o profissional recomenda fazer checape médico — hormonal e endocrinológico — uma ou duas vezes ao ano. E manter uma alimentação saudável, porque, quando há desequilíbrio nutricional, o organismo reage por meio da fragilidade do cabelo e das unhas. “Sempre procure um médico tricologista de sua confiança para fazer esses exames periodicamente e para realizar a análise microscópica dos fios”, orienta.

Cuidados

As madeixas brancas têm características bem diferentes em relação ao restante do cabelo que ainda tem melanina. Contam com uma textura mais grossa, têm crescimento acelerado e, ao mesmo tempo, são mais frágeis, secas e com tendência a ficar quebradiças, por ter uma cutícula mais fina e porosa. Por isso, Clarissa recomenda cuidado redobrado com químicas e alisamentos.

João Gabriel complementa: evite a exposição solar prolongada, mas, se for inevitável, sempre use filtro solar para os fios. Ele explica que é necessário manter uma alimentação balanceada e evitar o sedentarismo. “Esses hábitos vão fazer com que diminua o estresse oxidativo e, consequentemente, desacelere a perda do pigmento”, completa.

Para ter os fios saudáveis, Clarissa recomenda manter a hidratação em dia, e, nos cabelos, crespos, fazer fitagem, que deixará os cachos bem definidos. Para dar uma aparência moderna e combinar com a cor, invista também em um corte diferente. “Aplique condicionadores, como leave-in, e protetores térmicos”, aconselha.

Sem amarelado

Além das dicas de cuidados, Clarissa ressalta a importância de utilizar produtos específicos para cabelos grisalhos. Como os cabelos brancos são mais sensíveis ao dano térmico (secador, chapinha, baby liss) e à radiação solar, é fundamental o uso de produtos capilares com fotoproteção, como leave-in, chapéus com proteção UV, óleos e brumas. “Para evitar o tom amarelado, um dos cuidados que devemos ter é usar um xampu neutralizador uma vez a cada 15 dias. Mas atenção: o uso excessivo pode ressecar os fios e deixá-los azulados”, alerta.

Para João Gabriel, é de extrema importância usar produtos de qualidade e, se possível, com poucos agentes químicos. De acordo com o tricologista, o melhor a se fazer é investir em tonalizantes, em vez de tinturas, pois são produtos que não danificam tanto os fios. “Vale ressaltar que são os tonalizantes sem amônia que fazem com que o dano ao cabelo seja quase nulo”, adverte.

Para quem está com pressa de chegar aos cabelos brancos, é recomendado o gray blending (leia box), uma técnica de transição gradual que pode auxiliar no processo de deixar os fios grisalhos. Já a opção mais radical é cortar toda a parte escura.

 

Transição capilar

O tricologista João Gabriel Nunes ensina que, para que os fios voltem à cor natural, é importante lavá-los com um xampu roxo — o mais adequado para os grisalhos, pois não deixam o cabelo com aspecto amarelado. Use os hidratantes de acordo com o tipo de fio. “Se possível, mantenha um corte curto, isso também ajudará na transição capilar”, aconselha.

A dermatologista Clarissa Borges mostra outro caminho para a transição. A profissional recomenda parar de pintar os fios aos poucos. No início, ela indica começar a tingir o cabelo de tons mais claros e que não cobrem completamente os brancos. Assim, a mudança será mais gradativa. As técnicas de iluminação e mechas específicas para esse momento de transição, principalmente para mulheres que estão com metade do cabelo escuro e metade grisalha, podem reduzir o mal-estar desse contraste.

Para ela, embora a técnica gray blanding pareça controversa ao usar tintura na migração para o natural, a ideia é abandoná-la quando o cabelo acinzentar por completo. “É uma opção para quem não se sente bem com várias cores ao mesmo tempo enquanto espera crescer”, justifica.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte