É raro encontrar uma mulher que não tenha desejado ou sido presenteada com uma joia pelo menos uma vez na vida. Seja qual for a época, as joias permanecem despertando o encanto de muitos, especialmente do público feminino. “Como as mulheres têm o histórico de se adornarem e se enfeitarem mais, as joias chegam como um complemento e até mesmo como estrela principal da forma delas se vestirem e de se expressarem. Pela raridade, sentimento, lembrança, história que as joias carregam, as mulheres vestem emoções”, sinaliza a designer de joias Isabella Nasser.
A artista elege os diamantes como os brilhantes preferidos das mulheres e destaca que pedras coloridas, chamadas de “joias arco-íris”, estão caindo no gosto feminino nos tempos modernos. Dado o caráter versátil e atemporal que possuem, as joias sempre fizeram parte da história da humanidade. “Desde a pré-história já existiam adornos rudimentares, feitos com madeira e folhas. Inclusive, em muitos desenhos rupestres é possível ver pessoas usando joias”, contextualiza a designer de joias Juliana Lobão.
Esse uso evoluiu ainda mais quando o homem aprendeu a trabalhar com o metal. Segundo a designer, o metal passou a ser a principal forma de adorno do corpo humano. “No último século, esse uso evoluiu com técnicas mais avançadas de trabalho do metal, pois antigamente era algo bem rudimentar. Mas o uso de joias é bem ancestral. As pessoas até questionam, hoje em dia, se a joalheria vai continuar no futuro, e eu sou da opinião de que as joias sempre vão estar presentes, pois nunca existiu o homem sem o adorno”, acredita Juliana.
Se antes o uso das joias se restringia a ocasiões especiais, hoje, elas consolidaram espaço no dia a dia das pessoas. “Antigamente, as joias mais valiosas eram usadas apenas em ocasiões especiais. Hoje, já é possível observar pessoas no seu dia a dia usando joias de todos os tipos, mesmo com roupas simples ou em eventos do cotidiano. O que se vê são pessoas querendo aproveitar a beleza que as joias lhes proporcionam independentemente da ocasião”, aponta a joalheira Stella Guerra. Ela acrescenta que essa popularidade se explica pelas características e sensações que as joias transmitem: “Além de embelezarem e gerarem fascínio e atração, as joias trazem conforto, segurança e empoderamento para quem as usa”.
Mudança de comportamento
Durante a pandemia, ficou mais claro o papel importante que as joias adquiriram. A designer e idealizadora da marca Juliana Lobão Joias notou um crescimento de 30% das vendas de brilhantes no primeiro semestre de 2020, enquanto em 2021 as vendas saltaram para 50%. De acordo com ela, isso se explica não só pelo fato de o ouro ser um ativo mais seguro em momentos de crise, como pelo valor afetivo que as joias possuem.
“Em momentos de crise, primeiro o dinheiro já vai para o ouro porque é um ativo mais seguro. Quando você compra uma joia você está, de uma certa forma, fazendo um investimento, porque é um elemento de valor que vai durar para sempre. Além disso, eu acho que a gente não ter sofrido com a crise indica o quão forte é esse apego e esse valor afetivo das joias para as pessoas”, explica Juliana Lobão.
A joalheira Stella Guerra também registrou um aumento do consumo de joias na pandemia, induzido tanto pela segurança que esse adereço traz em termos de valor econômico, quanto por uma maior necessidade de demonstração de afeto. “Eu percebi que as pessoas, principalmente os casais, sentiram uma necessidade maior de agradarem uns aos outros, com demonstrações sólidas de carinho que só uma joia consegue realizar”.
Valor afetivo
O valor afetivo atrelado às joias é uma das razões que as fazem ter um lugar de destaque na vida das pessoas. É comum elas serem associadas a momentos marcantes, como o casamento, o nascimento de um filho e o encerramento ou início de uma etapa. “A maior parte das pessoas tende a usar joias com um valor afetivo. A primeira joia da maioria das pessoas, por exemplo, é a aliança de casamento. Mas também é comum fazer joias que remetem à maternidade e que são dadas em momentos especiais, como quando a mulher se forma ou completa 15 anos”, ilustra Juliana.
Incentivada desde pequena pelos seus familiares a apreciar as joias, a influenciadora digital e designer de produto Maria Eduarda Amorim nutre uma forte ligação emocional com elas. “A joia faz parte da minha história porque meu pai sempre foi fascinado por joias. Ele comprava muitas para a minha mãe. Então, eu venho de um lugar onde a joia era muito valorizada, mais do que qualquer outro acessório. Também herdei várias, que já foram da minha mãe e da minha avó”, justifica.
A influenciadora conta que as joias, carregadas de histórias das suas ancestrais maternas, foram usadas em momentos especiais. “No meu casamento, eu usei joias que foram passadas de geração em geração. Além disso, todas as minhas primas já usaram o mesmo brinco, que é um brilhante com pérola. Eu acho que joias e brilhantes são peças imbatíveis quando se trata de objetos de valores, porque você vai ter para o resto da vida”.
Tendência de joias na edição Nº 51 do SPFW
Na edição de número 51 do São Paulo Fashion Week, a label Esfér inovou ao se tornar a primeira joalheria a integrar o lineup do desfile e divulgar peças inéditas para seu lançamento. As peças desenvolvidas pela dupla de designer: João Viegas e Aldo Miranda eram marcadas por contornos minimalistas para dar forma a materiais nobres, como o ouro e a prata. Os anéis, brincos, colares, pulseiras e ear cuffs ganharam “formas esféricas em aros, elos, cápsulas, engrenagens e origamis”, como descreveu a joalheria, em comunicado.
Mistura de estilos
Por gostar de transitar entre vários estilos, ao montar um look, a designer e influenciadora digital Maria Eduarda Amorim procura combinar as joias com as roupas de forma a refletir o seu estado de espírito. “Se eu etiver me sentindo bem no dia, eu construo um look com estilo mais dramático, como um vestido e um brincão com um designer diferente. Já se eu estiver muito alegre, normalmente uso muitas cores e jogo brincos mais pesados. Também gosto muito de usar jeans e camisetas acompanhadas de várias correntes pesadas e finas, que acho que é superfeminino e também dá uma bossa para o look”, exemplifica a designer de produtos.
A arquiteta e também influenciadora digital, Carolina Adriano, 25, não vive sem joias. “A maioria das minhas joias tem significado especial, seja por ter sido um presente ou porque usei em alguma data marcante. Como joias são investimentos, procuro peças que vou usar pra sempre e até de formas diferentes”, explica a influenciadora sobre a sua relação com o adorno. Ela adora apostar na mistura de joias pesadas com leves para montar uma composição mais descolada. Quanto à mistura de estilos, considera que ela é bem vinda, caso essa seja a intenção. “Acredito que cada estilo tem seu complemento. Um look mais romântico, por exemplo, tende a cair bem com peças mais delicadas. Já um look mais moderno, casa com correntes. Contudo, nada impede uma quebra com um contraste de estilos. Tudo vai da ocasião e do gosto de cada um”, declara.
Joias sustentáveis
Cada vez mais, a sustentabilidade tem se tornado uma preocupação dos consumidores, e consequentemente, das marcas. No mercado das joias não é diferente. Pouco a pouco, as joalherias têm se adaptado para trabalhar com o conceito de joias eco friendly, feitas com materiais sustentáveis e com pedras preciosas garimpadas em condições de respeito aos direitos humanos. “Essa questão da sustentabilidade é bem relevante para os consumidores. É importante que eles saibam de onde vêm o ouro e as pedras para garantir que elas não são originárias de zonas de conflitos ou frutos de trabalho escravo. Acho que toda marca de joias tem de se preocupar com isso”, acredita a designer de joias, Juliana Lobão.
No entanto, a percepção dela é que os consumidores brasileiros ainda não estão atentos a isso, especialmente a geração millenial, que é mais apegada a questões básicas, como preço e qualidade dos materiais, do que a questões sustentáveis. Tendo em vista a importância de se posicionar, a designer tem adotado práticas sustentáveis para a sua marca, como comprar ouro de empresas certificadas, e a se preocupar com a origem das pedras de seus fornecedores. Mas, ela salienta, que por ser uma empresa pequena fica um pouco mais difícil acompanhar a cadeia de produção das pedras: “Uma marca grande teria mais recursos para acompanhar a cadeia inteira de produção das pedras, para saber se elas estão vindo de zonas de conflito, se são de garimpo legal ou não”.
Outra ação incorporada pela marca de Juliana nos últimos tempos é a campanha anual de doação de ouro. “Uma das ações que a gente faz é aceitar ouro como parte do pagamento o ano inteiro. Isso já é uma prática comum no mercado da joalheria, que costumam fazer isso uma ou duas vezes por ano. Mas eu vejo que renovar esse ouro, usar o que está parado no armário, o que já foi extraído da terra e transformar em joias novas faz parte de uma política de sustentabilidade”. Para a joalheira Stella Guerra a própria ideia da joia já implica conceito de sustentabilidade. “Joias são sustentáveis. Nunca perdemos o ouro ou as pedras preciosas, sempre podemos transformá-los. Além disso, as joias têm valor constante, crescente e são completamente customizáveis”, pontua.
Sucesso do momento
A designer de joias Juliana Lobão afirma que “correntes mais grossas, pingentes com um aspecto mais bruto e martelado, muitas pedras coloridas, sobreposições de colares e anéis de chancela” são as tendências que estão fazendo sucesso atualmente. “Está muito em alta essa moda de uma joalheira mais extravagante, popular entre rappers americanos, além da pegada dos anos 1990 e 2000”, sintetiza.
Antenada nas trends fashionistas, a influenciadora digital Maria Eduarda Amorim está vendo muitas marcas investindo em joias orgânicas, em formatos de nariz e boca, por exemplo. Outro desejo de consumo dela que está em alta são anéis coloridos com formatos diferentes e brilhantes nas pontas. “As joias estão ganhando esse significado dramático, que eu gosto e acho superfashionista”, comenta.
Já a designer Isabella Nasser acredita que o momento atual é propício para uma maior valorização e ressignificação das joias: “Pelo momento que estamos vivendo, as joias vão imprimir fluidez, movimento, fé, diversão, reformas e reaproveitamento. Além disso, mais pessoas vão investir em peças colecionáveis com significado”.
Para preservar a joia, a designer Isabella Nasser recomenda que alguns cuidados sejam tomados: “É importante evitar produtos químicos e alguns cosméticos, pois eles podem estragar as pedras, deixando-as esbranquiçadas, assim como o metal. Além disso, as joias podem ser arranhadas no impacto com superfícies duras, riscando o metal e podendo até quebrar as pedras, inclusive, os diamantes”.
*Estagiária sob a supervisão de Taís Braga