Nosso cérebro tem um mecanismo de alarme que acende a “luz vermelha” quando fazemos algo de perigoso, errado ou imoral. Contar uma mentira tem o poder de disparar esse alarme, ativando as amígdalas das regiões temporais. Uma elegante pesquisa publicada no periódico Nature Neuroscience demonstrou como o cérebro colabora para o fenômeno de uma mentira levar a outra.
Pesquisadores do University College of London estudaram, por meio de ressonância magnética funcional, os cérebros de 80 voluntários durante um jogo em que eles tinham a possibilidade de mentir para aumentar as chances de ganhar. Uma pequena mentira era capaz de estimular as amígdalas e, à medida que novas mentiras iam sendo contadas, as amígdalas iam ficando menos estimuladas, iam adormecendo. Com as amígdalas adormecidas, o cérebro ficaria mais encorajado a contatar mentiras mais robustas.
E foi exatamente isso que os cientistas encontraram: à medida que eles iam mentindo, as amígdalas iam se apagando e as mentiras ficavam cada vez mais ousadas. Fico aqui pensando nas amígdalas de alguns depoentes da CPI da Covid. Adormecidas é pouco. Elas devem estar em coma.
O presente estudo só testou o ato de desonestidade, mas o mesmo poderia ser aplicado à tomada de atitudes de risco e comportamento violento. Isso ainda precisa ser testado.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília
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