Elas não serão encontradas nas boutiques ou lojas de departamento nem, tampouco, estarão penduradas no cabide com as demais peças do seu guarda-roupa. Mas, provavelmente, você as verá em algum aplicativo ou software. Novidade no mercado, as roupas digitais são feitas para usar na internet e podem custar alguns milhares de reais. “Elas nunca poderão ser adquiridas fisicamente. Grandes marcas de luxo, como Valentino, Marc Jacobs, Louis Vuitton, entre outras, criam looks virtuais para games”, detalha a influencer de moda Illa Kadidja (@modanoar). Um jogo que chamou a atenção dos profissionais de moda foi o League of Legends.
O objetivo de quem compra é postar nas redes sociais e, assim, conseguir mais likes e comentários. “Eu não posso comprar uma peça dessas no momento, mas confesso que me surpreenderam e me encantei com a beleza delas.” De acordo com Illa, as roupas virtuais também podem ser peças de vestuário inseridas digitalmente em fotografias. “Os clientes adquirem uma roupa on-line e, após a compra, enviam uma foto, que será manipulada e editada virtualmente, utilizando programas de efeitos”, detalha.
Para Juliana Cunha, especialista em moda e influenciadora digital, as peças digitais passam um ar futurista e lembram até a estética usada na série Black mirror. “Elas são criadas por meio de programas de computador e apresentam novos interesses de produção, venda e consumo da moda no século 21.” É uma tendência tecnológica, que rende muito dinheiro para os criadores. “Para se ter ideia, no ano passado, um vestido de pixels ficou famoso depois de ser leiloado em Nova York por US$ 9.500, ou mais de R$ 53 mil, na cotação atual. A peça foi criada pela marca holandesa The Fabricant, especializada em vestes e avatares virtuais e desenvolvedora da plataforma Leela, na qual é possível criar de graça o seu Eu Digital”, expõe.
Segundo Juliana, nos países desenvolvidos, 9% dos habitantes compram peças novas só para postar nas redes sociais. No Brasil, as roupas digitais estão começando a tomar forma e a cair no gosto do público. “A empresa Genyz, fundada por Cairê Moreira, é a pioneira dos avatares no Brasil. A organização é responsável pelas peças das influencers virtuais, chamadas Mia Bot e Princess A.I. Essa marca também é a primeira da América Latina a oferecer um serviço de escaneamento corporal digital para fabricação de roupas físicas”, diz ela.
No Brasil, o Studio Acci, desenvolvido por Henrique Assis e Letícia Acciarito, faz roupas 3D a partir de desenhos, fotografias e ideias para empresas do setor, que podem usar as peças tanto em propagandas quanto em editoriais. “É uma ótima maneira para a indústria da moda se reinventar e aumentar os lucros, já que dispensa parte da sua tradicional mão de obra, materiais e viagens”, observa Juliana Cunha.
Produção
A estudante de moda Rani Sousa, 23 anos, começou a criar roupas virtuais/digitais como hobby. “É uma maneira de aperfeiçoar meus conhecimentos. Hoje, uma das minhas rendas extras vem dela. Eu costumo fazer meus desenhos pelos programas CorelDraw ou Autodesk SketchBook”, conta. Ao contrário das peças digitais que nunca saem do papel, as peças criadas pela jovem podem, sim, transformar-se em roupas físicas.
A jovem trabalha como costureira, no Sebastiana Rocha Ateliê, e observa que a ferramenta digital possibilita enxergar rapidamente um modelo de roupa com mais cores e estampas. “A tendência de usar as roupas digitalmente veio para ficar. Vivemos de tecnologia. Na moda, não seria diferente, por fazer parte do nosso contexto social.”
Rani explica que os clientes a procuram para expressarem a ideia em forma de desenho. Na hora, usar a roupa digital é a melhor solução para visualizar. “Eles querem ver e saber a cor ou como será a estampa, se combina com o modelo que escolheram. Isso tudo antes de confeccioná-las”, afirma.
De acordo com Mábel De Bonis, CEO da Escola de Moda e empresária, no Brasil, podemos citar o excelente trabalho de Cairê Moreira, designer de moda e especialista em 3D e Indústria 4.0, que desenvolve estudos da área. “Ele montou, em parceria com a empresa desenvolvedora Anormal, um filtro de realidade virtual para a gigante do setor Renner, em sua coleção de outono-inverno 2021.”
Outro exemplo é o da marca Carlings, que desenvolveu roupas digitais para serem inseridas em fotos dos clientes por menos de 30 euros. “O que podemos esperar é que as experiências digitais se tornem cada vez mais usuais em vestuário, sinalizando para uma radical mudança no setor produtivo, provavelmente eliminando modelagens tradicionais”, constata ela, que também é professora.
Tecnologia e sustentabilidade
Como todos novos recursos tecnológicos que surgem, os aplicativos de roupas virtuais são uma boa alternativa para consumidores. “Para aqueles que preferem a comodidade de comprar de casa e têm facilidade com uso de tecnologia, os aplicativos de roupas virtuais vieram para ficar. Mas sempre haverá um público que dará preferência às lojas físicas, onde podem experimentar as vestimentas de forma não virtual”, observa Cauê Zaghetto, professor e pesquisador doutor em engenharia mecatrônica.
As roupas, além de agradarem por suas cores e formas, precisam vestir bem no corpo de cada um. “Por isso, é possível que muitos consumidores continuem saindo de casa para fazer suas compras. Contudo, são muitos os benefícios trazidos pelos aplicativos de roupas virtuais, como comodidade, economia, personalização e segurança.”
Para os empresários do ramo, a economia obtida com a diminuição das lojas físicas pode reduzir o preço final das roupas. “O que, naturalmente, atrai clientes e aumenta o percentual do lucro. Por consequência, muitos empregos irão se transformar no processo de transposição de lojas físicas para virtuais”, diz o professor. “Alguns profissionais se tornarão obsoletos, mas outros passarão a ser muito necessários e valorizados. Esses novos tempos exigirão novos empreendimentos, profissionais e modelos de negócio.”
As lojas e aplicativos virtuais de roupas têm potencialidades nos três eixos — financeiro, social e ambiental. “No aspecto financeiro, é possível reduzir os gastos com manutenção de estoques e lojas físicas, o que, potencialmente, pode aumentar a taxa de lucro.”
No que diz respeito à sustentabilidade social, com a redução de gastos e custos desnecessários, a empresa, além de poder investir mais no capital humano, continuará sendo necessária na idealização, produção e distribuição de roupas. “Ela poderá tornar seu produto mais barato e acessível a novos clientes. No aspecto ambiental, a ausência de lojas e estoques físicos, por si só, já contribui para evitar degradação ambiental advinda da produção desnecessária em escala.”
Juliana Cunha explica que, para quem deseja comprar uma peça digital, o caminho é o seguinte: o cliente envia fotos suas à equipe que vende o produto e escolhe a peça. “O prazo de envio, que ocorre por e-mail, é de dois a três dias. O preço varia de acordo com a complexidade, o tempo depositado nos processos de produção e de vestimenta. Vale lembrar que os valores das roupas estão entre US$ 25 (ou R$ 140) e US$ 200 (cerca de R$ 1.000).”
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.