Bichos

Os pets também podem ficar na moda, mas com responsabilidade

Especialistas advertem para os perigos que o uso de roupas pode trazer e explicam como garantir o bem-estar e o conforto dos animais de estimação com camadas a mais sobre o pelo

Raquel Ribeiro*
postado em 20/06/2021 08:00
Pethy tem até uma página no Instagram em que exibe looks diversos -  (crédito: Arquivo pessoal)
Pethy tem até uma página no Instagram em que exibe looks diversos - (crédito: Arquivo pessoal)

Quando o inverno chega, é comum que a dúvida venha à mente dos tutores: coloco ou não roupas no pet? Ao se pensar na natureza dos animais, é possível deduzir que a resposta seria não. Afinal, as vestimentas são uma invenção da cultura humana. “A gente corre o risco de ir contra a naturalidade e a ancestralidade do animal e acaba atrapalhando que ele expresse o comportamento natural. Mas estamos em um mundo moderno”, pondera a médica veterinária Jaqueline Sousa, da clínica Vet Baruc.

Em geral, a própria pelagem atua como isolante térmico. A médica veterinária Tatiana Brasil, da clínica Bravet, explica que o pelo evita que o animal perca ou receba calor em excesso, ajudando a equilibrar a temperatura corporal dele. Mas há casos em que o uso de roupas pode ser útil. “Dependendo da temperatura, cães e gatos podem, sim, sentir frio, ficando suscetíveis não somente ao desconforto causado pela baixa temperatura, como também a doenças e até hipotermia. Para animais de pelo curto, filhotes, idosos e doentes, as roupas podem ser indicadas”, afirma.

Jaqueline Sousa recomenda o uso de vestimentas para pets de pelagem curta ou tosados. “O animal de pelo curto sente frio, porque, normalmente, a pelagem na barriga e no peito é muito rala. Quando faz a tosa, ele fica estressado, estranha, e a temperatura desregula.”

Quanto ao animal de pelo longo, a veterinária ressalta que é necessário atenção redobrada. “Às vezes, a pessoa procura o veterinário porque o cachorro está estranho, arfando, com falta de ar. E, quando chega aqui, percebemos que é porque ele está com calor, pois o dono está colocando roupas ou cobertores de forma desnecessária.” Os animais acima do peso são outros que vão sentir mais calor, por causa do excesso de gordura. Em razão disso, não é seguro vesti-los.

Sinais de alerta

Pethy tem até uma página no Instagram em que exibe looks diversos
Pethy tem até uma página no Instagram em que exibe looks diversos (foto: Arquivo pessoal)

Segundo Jaqueline, é importante observar o comportamento do bicho para ver se ele se sente bem nas roupinhas. “Já vi animal que fica paralisado. Alguns não bebem nem comem. Por isso, é importante observar o comportamento de cada um para ver se ele se adapta. Há donos que, por quererem deixar o animal na moda, ignoram os sinais que o animal está dando.”

Na visão de Tatiana, bom senso é a palavra de ordem para garantir o bem-estar do pet. “É muito importante respeitar a vontade do animal. Muitos cães e gatos não se sentem confortáveis com roupas, podendo deixá-los estressados. Nesse caso, não é indicado”, reforça. Ela alerta para o risco de o pet se enfocar com determinadas peças ou modelos, como cachecol ou gola alta.

A especialista recomenda, ainda, que os sapatos sejam evitados: “Os bichos de estimação transpiram e realizam a troca de calor pelos coxins, aquela almofadinha nas patas. Caso seja necessário o uso dos sapatos por motivos específicos, ele não deve ocorrer por períodos prolongados, pois isso poderá prejudicar a saúde do animal”.

Escolha cuidadosa

Na hora de escolher a roupa, Jaqueline orienta observar a modelagem e investir em marcas confiáveis e de qualidade. “Eu já vi roupinha causando assadura, porque, às vezes, a costura fica roçando. O ideal é o tutor observar a costura, se a roupa está bem encaixada, se ela serve direitinho.” O lugar mais comum de haver atrito é embaixo das patas, podendo causar assadura e ferida.

O tipo de tecido também deve ser levado em conta. “Os tutores precisam ter cuidado com o material porque, às vezes, pode machucar. Aí vai depender de cada animal — uns vão aceitar melhor um determinado tipo de tecido em detrimento de outro. Se aquela roupa não está incomodando ou machucando, está tudo bem usar”, aconselha Jaqueline.

Tatiana, por sua vez, indica que se dê preferência a tecidos confortáveis e que não restrinjam a mobilidade do animal. “Materiais sintéticos e de lã devem ser evitados, pois, geralmente, causam coceira e problemas de pele.”

Fashionista saudável

A empresária Janaína Lopes, 38, não encontrou problemas para vestir a maltês Pethy, de 1 ano e 5 meses, “A aceitação dela aos looks foi muito natural. Deve ter sido porque associei a algo de que ela gosta muito, que é ir ao shopping”, justifica. A cadelinha é uma espécie de blogueira canina e tem até um perfil no Instagram. “Como eu gostava de tirar muitas fotos dela, preferi criar um perfil, pois poderia guardar um álbum on-line. Na época, também passei a acompanhar outros perfis com fotos de looks de cachorros. Achei o conceito fofo e decidi introduzir a Pethy no universo fashion”, conta Janaína.

Para a empresária, o respeito à personalidade do pet vem em primeiro lugar. “Se ele não aceita roupas, podemos adequar uma guia de pérolas ou um adereço na cabeça, mas jamais impor algo por vaidade.” Janaína classifica Pethy como uma “fashionista saudável”.

Como forma de controlar a qualidade das peças, a empresária encomenda looks sob medida e só põe roupas na cadelinha quando elas saem para passeios em locais frescos ou no shopping. “É muito importante analisar o tipo de tecido para respeitar o clima e não desidratar o animal. Em casa, eu não coloco roupas nela, pois o uso prolongado é prejudicial. Para passear no parque, também a deixo sem roupas para que fique livre para brincar na grama.”

Driblando o frio

Para saber se o animal está sentindo frio, Tatiana elenca os indícios mais comuns: “Sentir tremores, encolher-se, procurar locais mais quentes e estar com orelhas geladas podem ser sinais de que o pet está com frio. Ofereça um local sem corrente de ar e quentinho para que possa se aquecer.”

Jaqueline destaca que existem outras formas de manter o bicho aquecido. “Coloque-o dentro de casa, para não ficar pegando friagem, e em uma caminha fofinha. Não precisa embrulhá-lo.” A veterinária lembra que a temperatura dos animais é de um a dois graus mais alta que a dos humanos. Logo, a tendência natural é que eles sintam calor com mais facilidade. Ela acredita que o mais importante é não subestimar a inteligência e o instinto do animal. “Ele sabe como usar o próprio corpo para se aquecer.”

* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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