Moda

Os vestidos de noiva em tempos de pandemia

O novo coronavírus impôs cerimônias mais intimistas. E isso se reflete nos vestidos, que estão mais simples, mas, nem por isso, menos belos

A pandemia afetou os grandes casamentos. Os cartórios passaram a estipular um número pequeno de convidados e as celebrações se tornaram bem menores. Diante desse cenário, o mercado de festas e noivas teve que se reinventar para passar por esse período de forma tranquila.

O estilista Fernando Peixoto calcula que 90% das noivas adiaram a data do casamento ou até reagendaram por mais de duas vezes. “Muitas estão esperando os anos de 2022 ou de 2023, mas não abrem mão de vivenciar o grande dia.” Nesse contexto, surgiu a noiva sonhadora. O que ela exige? O vestido perfeito! “Ele deve ser lindo, adaptar-se totalmente ao cenário atual e precisa ter um bom acabamento e uma ótima modelagem”, explica o estilista.

Monjardim Noleto/Divulgação - Modelos da coleção Brisas, do estilista Fernando Peixoto: tecidos leves, fluidos e clean, como pede o momento

Quando ao assunto é moda noiva, a pandemia trouxe como a tendência conforto, leveza, delicadeza, simplicidade e elegância. Fernando fez uma coleção de 30 peças com esse estilo. “A Brisa Collection é como uma brisa para afagar a nossa alma e trazer um ar puro e sutil, afastando esse sentimento ruim que estamos vivendo.”

Ele abriu mão dos tecidos estruturados e com muito volume, passou optar pelos mais leves e macios, como Chanel de seda, crepe Chanel, musseline de seda pura e trole de seda, os quais dão a leveza necessária e um ar esvoaçante, nas cores branca, off white ou nude. Outro tecido com destaque especial é o tule belga 100% poliamida, que ajuda a emoldurar perfeitamente a silhueta feminina. Também preferiu recortes com fendas, corset e barbatanas, que garantem uma modelagem sensual.

A outra proposta é transcender épocas, ou seja, evidenciar elementos que se destacam por serem fortes e impactantes. “A aposta da vez são os vestidos minimalistas, porque os modelos são fluidos, o design é confortável, versátil e sofisticado. O estilo princesa também está entre os mais procurados, mas com uma leveza mais acentuada, volumes menores e dando ênfase à definição da cintura”, aponta o estilista Kadu Fonseca.

Segundo ele, as mangas bufantes estão com tudo, o hit dos anos 1980 vem se reciclando e retomando o lugar na moda, mas com adaptação mais atual e planejada. “Os vestidos românticos sempre estão presentes, originalmente com rendas e detalhes tênues. Eles trazem um visual sofisticado e clássico”, explica. “Também há os decotes lineares e assimétricos. Tons off white e neutros são os mais procurados.”

Com ou sem véu?

Carlucio Cruz/Divulgação - A Ipê Noivas especializou-se na locação de vestidos para cerimônias no civil: simplicidade sem perder a elegância

O véu é um acessório único, pensado exclusivamente para uma noiva. “Eu, particularmente, sou apaixonado por ele. Mas existem detalhes, em vestidos, que o substituem muito bem, como capas que saem do ombro ou do pescoço”, sugere Fernando Peixoto. Segundo o estilista, existem cerimônias em que o uso do véu fica inapropriado, como um casamento em local aberto e com muito vento. “O acessório pode atrapalhar e voar no rosto da noiva, do noivo ou até dos convidados.”

As sobreposições também estão presentes, mas foram substituídas por algo mais leve, como capas ou tules pendendo dos ombros até a altura da barra do vestido. “Para o cabelo, um arranjo de flores naturais em fios soltos ou semipresos. Um fio de pérola passando em volta do cabelo também é bem-vindo”, sugere Peixoto. Para Kadu Fonseca, acessórios como coroas e tiaras são ícones. “No ar livre, as flores naturais estão bem presentes nos penteados das noivas, seguidos de diademas, fascinator e pentes.”

Arquivo pessoal - Beatriz Paiva se casou durante a pandemia: mudança na ideia inicial do vestido, que teve menos brilho

O alerta do estilista é sobre a escolha dos sapatos, pois beleza e conforto devem andar juntos. “A tendência para os modelos são definitivamente os clássicos, como scarpin, peep toe e Chanel. Os saltos grossos podem ser uma boa opção, porque permitem maior estabilidade e conforto. As cores devem estar de acordo com o tom do vestido”, sugere Kadu. A publicitária Beatriz Paiva dos Santos, 23 anos, casou-se durante a pandemia. “Optamos por manter nosso casamento, mas foi uma decisão difícil. Nós já estávamos namorando havia 10 anos, e não queríamos esperar mais. Para a celebração acontecer, tivemos que fazer diversas adaptações, começando pela lista de convidados”, conta.

A jovem conta que a escolha do vestido foi até engraçada. “Queria um que roubasse suspiros do meu noivo. Sempre fui apaixonada por brilho, coloco em tudo, então meu vestido não podia ser diferente. Também queria uma cauda bem longa e um modelo rodado (estilo princesa), porque, a princípio, não usaria véu”, diz. “A pessoa que ajustou meu vestido e esteve comigo nas definições dele me fez mudar de ideia.” Beatriz até usou um véu com brilhos, porém bem discreto.

Vendas e locações

Na La Fiancée/Divulgação - Os vestidos estilo sereia são muito apreciados pelas brasileiras, segundo as sócias do ateliê Na La Fiancée

Carolina Moraes, sócia do ateliê Na La Fiancée, vende e aluga vestidos há cerca de 10 anos. Ela conta que os modelos mais vendidos são do estilo sereia e princesa. “O primeiro tem como marca registrada a sensualidade, pois, modela e realça os quadris. As brasileiras gostam muito dele.” Já modelagem princesa é superatemporal. “O próprio nome remete à realização de um sonho que começa a ser construído ainda na infância e culmina com o ‘sim’ no altar.”

Segundo ela, as noivas chegam ao ateliê em busca de vestidos simples, mas, quando começam a provar, logo desistem porque não têm muitos detalhes. “Passam a querer rendas trabalhadas e bordados em cristais. Isso faz parte de ser noiva, porque é um momento de grandes descobertas, em que ela está se descobrindo e amadurecendo.”

Na La Fiancée/Divulgação - Princesa moderna, um clássico atemporal: coleção Fall 2021 do ateliê Na La Fiancée

Liliane Andrade e Laíssa Costa são microempreendedoras da Ipê Noivas, uma loja de locação de vestidos de noiva para cerimônias no civil, localizada em Taguatinga Norte. Uma das proprietárias trabalhava no ramo de aluguel de vestidos para outro segmento, mas compreendeu que, em meio a tantos problemas ocasionados pela pandemia, poderia nascer uma alternativa.

A ideia da modalidade de locação é estar elegante no grande dia, mas economizando. Para as sócias, um vestido de noiva no civil não pode ser comum. “Buscamos peças sofisticadas, com cortes e molduras de qualidade, independentemente do estilo que tenha a noiva — seja romântica, minimalista, camponesa ou praiana. A ideia é valorizar a qualidade do tecido, o corte e a costura, sem deixar de acompanhar as tendências do mundo da moda”, afirma Laíssa.

Ela expõe o que está em alta. “Vestido midi, justo e evasê, com aplicações em guipir, pérolas, rendas sofisticadas, tules e tecidos finos. Todos eles contemplam muito bem as novas demandas, sejam elas em casa, no cartório, no campo ou na praia.”

Segundo Liliane, a pandemia enfatizou ainda mais os estilos intimistas e com menos tecidos, ligados ao momento que estamos passando. Mas quais são as outras propostas? “O que as passarelas internacionais nos informam é uma tendência caracterizada por traços mais sóbrios e padrões geométricos. Quanto aos cortes, há aqueles que se destacam, como ombro a ombro, alças. Para ambientes mais informais, umeral e manga flare contemplam as mais românticas.”

Para garantir a autenticidade e o conforto, ela sugere que a noiva deva perguntar a si mesma qual é o próprio estilo? “É mais esportivo? Por que não apostar em um tênis, um All Star? É mais moderno, minimalista? Um scarpin vai muito bem. É mais romântico? Uma sandália seria uma boa pedida. Em todos os formatos, o conforto é extremamente necessário”, sugere Liliane.

Renovação de votos

@naianaalmeida - Em tratamento de câncer, Danúbia Randon renovou os votos de casamento durante a pandemia: flores na cabeça careca

A pedagoga aposentada Danúbia Rodrigues Barão da Costa Rondon, 39 anos, foi diagnosticada com câncer de mama pela segunda vez no ano passado. Na primeira vez, em 2014, a doença estava em estágio avançado e agressivo, mas foi curada. “O câncer é só mais uma pedra no caminho. No princípio, eu me recolhi e a minha autoestima despencou, mas a minha personalidade é forte e decidi criar uma rede social para ajudar outras mulheres”, conta.

Quando decidiu renovar os votos de casamento, Danúbia pensou em um vestido simples. “Acabei casando com o vestido de uma amiga, Naquele momento, ele era perfeito. O estilo foi um clássico romântico e suave”, relata. “Como eu estava enfrentando um segundo câncer de mama, não queria véu, nem tiara. Optei por uma coroa de flores bem delicada e que expressasse o que mais queria naquele momento: beleza e simplicidade.”

O casamento veio para celebrar a vida e o amor pelo companheiro. “Vivemos em meio ao caos no momento mais lindo de nossas vidas! Fizemos a renovação de votos com nossos filhos presentes e as pessoas mais importantes.” A aposentada fez uma surpresa para o companheiro. “Eu falei que faríamos um comercial de casamento. Quando ele chegou para a gravação ficou surpreso, pois os figurantes eram as pessoas que mais amavam!”

Arquivo pessoal - Rubia Brasil optou por uma boina, acessório muito usado durante todo o tratamento de câncer, também no casamento

A bancária Rubia Brasil Silva Menezes, amiga de Danúbia, 35 anos, também se casou careca. “Descobri o câncer em 2010, exatamente seis meses antes do meu casamento. Na hora, foi um choque e meu mundo desabou. Também tinha ficado uns bons anos sem cortar cabelo para casar com cabelão”, conta. “Na época, fiquei com muito medo de o meu marido desistir do casamento. Eu perguntei: Você quer remarcar o casamento? Ele respondeu: ‘Eu vou casar com você de qualquer jeito, com câncer ou sem câncer, com cabelo ou sem cabelo. Você aceita casar sem cabelo?’. No mesmo minuto, respondi é claro!”

Rubia relata que explicou ao estilista como queria. “Foi apenas um desenho, uma escolha e duas provas. Eu estava bem no meio do tratamento do câncer e não conseguia ficar indo experimentar”, diz. A bancária explica que não sabia o que queria usar na cabeça no grande dia. “Primeiro, tentei fazer um lenço com o mesmo pano do vestido, mas ficou muito estranho.” A segunda tentativa foi com uma coroa de flores, mas não deu certo. A última alternativa foi a escolhida. “Eu usei apenas boinas durante todo o meu tratamento e entrei com ela.”

Quanto ao vestido, ela usou novamente em 2015, durante a renovação de votos. Este ano, está programando uma nova celebração, mas não pode contar os detalhes, para não estragar a surpresa.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
 

Monjardim Noleto/Divulgação - Modelos da coleção Brisas, do estilista Fernando Peixoto: tecidos leves, fluidos e clean, como pede o momento
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