Na casa de Leila Ibrahim de Faria, o tradicional feijão com arroz era item raro à mesa. No dia a dia, esfirras, charutos, quibes, kaftas e outras delícias árabes sempre fizeram parte do cardápio. Tudo preparado com esmero pelas mãos da matriarca da família, Fatima. A filha, ainda criança, observava tudo e ajudava a mãe nos preparos, tanto que se tornou também uma cozinheira de mão cheia. “Quando ia visitar o meu pai, ele logo pedia para eu ir pra cozinha, pois gostava mais do meu tempero”, orgulha-se.
A brasiliense aprendeu a preparar os quitutes exatamente como é feito originalmente. “Se tem duas coisas que sei fazer bem, é cozinhar pratos típicos e falar a língua árabe.” E não é para menos. Filha de mãe e pai palestinos, na casa dela, seguia-se à risca as tradições do povo de origem.
O pai de Leila veio para o Brasil em busca de uma vida melhor. Primeiro, desembarcou em São Paulo; em seguida, viu na nova capital em construção uma oportunidade de crescer profissionalmente. Em Brasília, começou a trabalhar como mascate e, quando se estabeleceu, mandou buscar a esposa, que tinha ficado na Cisjordânia com os três filhos do casal. Infelizmente, dois deles não tinham sobrevivido e a mulher chegou apenas com a filha mais velha. Aqui, a família cresceu e mais seis filhos foram gerados, inclusive Leila.
Apesar de ser criada dentro das tradições palestinas, Leila frequentava a igreja católica e, desde cedo, começou a trabalhar fora. Assim como o pai, que sempre atuou com vendas, ela conseguiu um emprego em uma loja de roupas, onde se tornou gerente e conheceu o marido. “Na época, meu pai não aceitou o fato de eu me casar com um brasileiro. Chegou a cortar relações comigo, mas, três meses depois, ele me procurou e ficou tudo bem”, relembra.
Há 23 anos, o patriarca decidiu voltar para a Palestina com a mulher e cinco dos sete filhos. Leila e a irmã mais velha, já casadas, ficaram. Há cinco anos, seu Ibrahim faleceu, mas a família continua a viver em Umm Safa, vilarejo na Cisjordânia. “Já fui visitá-los umas seis vezes.” Sempre que vai, a brasiliense volta com a mala repleta de temperos típicos do local.
Cozinheira
Depois de casada, Leila aperfeiçoou ainda mais os dotes culinários. E acrescentou às suas especialidades quitutes mineiros, que aprendeu com a família do marido. Mas as delícias árabes sempre foram imbatíveis na preferência de todos. “Costumava preparar lanches, e o meu marido levava para os colegas do Senado, onde trabalhava. Todos diziam que eu deveria abrir um restaurante.”
Ela, frequentemente, era convidada a cozinhar para parentes e amigos. “As festas de aniversário da minha filha sempre tinham tema árabe”, exemplifica. “Uma vez, meu cunhado falou que um amigo estava indo morar no Irã e queria fazer uma festa temática. Ele perguntou se eu podia ajudar. Acabei fazendo tudo praticamente sozinha, inclusive a decoração”, diverte-se. Nas reuniões familiares, seus pratos eram garantia de sucesso.
Mas a cozinha sempre foi encarada como um hobby. Até que veio a pandemia, e Leila sentiu a necessidade de “ocupar a cabeça”. Por que não, então, comercializar suas delícias? Ela, o marido e a filha usaram as respectivas redes sociais para anunciar a novidade. E o retorno veio de imediato. Os amigos começaram a fazer encomendas. O namorado da minha filha criou uma logomarca. E, assim, com tudo feito em família, surgiu o Quitutes da Leila.
No cardápio, esfirra de carne, quibe cru, homus de grão-de-bico e de berinjela, pasta de alho, charutos de repolho e kaftas, cuja receita a cozinheira divide com os leitores da coluna. Mas, se o cliente quiser algo diferente, nada impede que ela o faça. “Uma vez me pediram para preparar o charuto com folha de uva, que é o original, e eu fiz.” Também houve o pedido de quibe assado, prontamente atendido. “Agora, devo acrescentar o assado e o frito ao cardápio”, planeja. Os pães, que ela costumava preparar com a mãe, também devem entrar no menu.
Leila explica que o grande segredo dos quitutes árabes está nos temperos. Sempre que vai à Cisjordânia, ela traz alguns produtos, inclusive a snoubar — semente de uma espécie de pinheiro nativo da região do Mediterrâneo — cujo valor do quilo pode ultrapassar os R$ 1.000 por aqui. “Lá, é vendido na feira, bem baratinho.” Em Brasília, Leila compra os temperos em feiras livres. “Como sei exatamente quais entram como ingredientes, peço para fazerem as misturas.”
Leila aceita as encomendas com 24 horas de antecedência. O cliente pode buscar na casa dela, no Guará, ou pagar o Uber para que a encomenda chegue à casa dele. E, no cardápio, além das delícias árabes, a brasiliense acrescentou biscoito de queijo e sequilho de limão, influência das origens mineiras do marido. Uma bela miscigenação cultural e gastronômica.
Kafta com tabule
Ingredientes
2kg de carne moída
2 cebolas picadas
5 dentes de alho
1 maço de hortelã
1 maço de cebolinha verde
1 maço de cheiro verde
1 colher de tempero árabe
Sal a gosto
1 porção de farinha de rosca
Modo de fazer
Coloque a carne em uma bacia pequena e acrescente o resto dos ingredientes. Misture bem e, por fim, acrescente a farinha de rosca para dar liga. Faça os bolinhos da maneira que quiser e asse no forno ou na churrasqueira.
Para acompanhar, faça um tabule: 1/2 xícara de trigo cortado (de fazer quibe), 1 tomate, 1/2 pimentão verde, 1/2 pimentão vermelho, 1/2 pimentão amarelo, 1/2 pepino, 1/2 cebola pequena, 2 dentes de alho, hortelã a gosto. Ponha o trigo cortado de molho na água por 30 minutos. Pique todas as verduras, acrescente o hortelã e o trigo cortado, escorra a água antes e tempere a gosto.
Serviço
Quitutes da Leila
WhatsApp: (61) 9 8116-5830
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