Pacientes que receberam alta da covid-19 podem apresentar sintomas após longos períodos, o que exige cuidados para uma reabilitação completa. “É muito comum fadiga crônica, falta de olfato, dor de cabeça, queda de cabelos, entre outros sintomas”, enumera a médica Beatriz Lassance, membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
A boa notícia é que ter uma boa alimentação e praticar exercícios físicos podem ajudar nesse processo de recuperação. “É muito importante, porém, procurar orientação médica. Verificar se há comprometimento pulmonar, porque o exercício físico poderá ser um fator de estresse para o organismo”, alerta. Segundo a médica, a falta de nutrientes, como proteínas e vitaminas, podem dificultar a prática. “Muitas vezes, são necessárias reposição nutricional e fisioterapia respiratória e motora.”
A orientação dela é respeitar o corpo. “A sensação de cansaço deve diminuir com o tempo. Tenha paciência e faça as atividades físicas de forma confortável. O importante nesta hora é não se cobrar”, expõe.
Beatriz explica que um dos estudo mais completos sobre o assunto foi realizado em Wuhan (China). A pesquisa avaliou 733 pacientes após seis meses da infecção: 76% deles ainda apresentavam algum sintoma. Desses, 63% tinham cansaço, 26% dificuldade para dormir, 23% ansiedade/depressão e cerca de 10% contavam perda de olfato. “Quanto maior o acometimento do organismo pela covid-19, maiores as chances da persistência de alguns sintomas.” A fadiga, por exemplo, deve-se a várias causas e pode ser decorrente da perda de massa muscular causada diretamente pelo vírus.
Exercício físico
Muitas pessoas que tiveram covid-19 têm dúvidas na hora de voltar à prática de atividades físicas. O personal trainer David Carvalho reforça o conselho de Beatriz Lassance: o primeiro passo é procurar um médico. “É necessário a realização de exames para verificar possíveis sequelas. Mesmo para os indivíduos com casos moderados.”
O segundo passo é procurar um profissional de educação física, pois a prescrição do programa de exercícios deve ser individualizada. “Isso dependerá, principalmente, do status de saúde geral do indivíduo”, diz Erick Carlos, também personal trainer. “É preciso organizar e adequar o programa, ou seja, prescrever o tipo de exercício, a intensidade e o volume, que são diferentes para cada pessoa. Isso é importante porque garantirá a segurança e a eficiência dele”, afirma Erick.
De acordo com David, geralmente não há restrições quanto ao tipo de atividade. “As principais precauções devem se ater a fatores como volume e intensidade. Quanto mais extenuante e volumoso for, mais estresse será imposto aos sistemas orgânicos. Isso, em alguns casos, pode trazer prejuízos à saúde geral, principalmente no momento em que está se recuperando da doença”, informa.
Exercícios com peso não são contraindicados. Na verdade, são importantes aliados na reabilitação pós-covid. “A baixa capacidade funcional está associada à queda na força e na massa muscular, frequentemente observada em indivíduos com doenças respiratórias graves. Nesse sentido, o treinamento com peso será importante para a melhora do indivíduo”, explica Erick.
David acrescenta que o treinamento com pesos promove adaptações positivas, como nos sistemas cardiorrespiratório, nas funções metabólicas corporais e na função cognitiva. Também a diminuição de índices de ansiedade e depressão.
É importante lembrar que, durante a prática dos exercícios, as precauções gerais recomendadas pelas organizações de saúde devem ser consideradas, como o distanciamento social, o uso de máscara e o monitoramento da temperatura.
O professor de educação Lucas Vivas, 26 anos, pegou covid-19 e não parou de se exercitar, mas diminuiu a intensidade e o volume. “As atividades ficaram mais leves e menos rápidas. Antes, eu fazia cinco vezes na semana, mas, com a doença, reduzi o número de dias” diz ele, que ficou assintomático.
O médico entrou em contato com um médico do filho dele, que é pediatra e infectologista. “O profissional me orientou a comer alimentos mais proteicos e gorduras boas, como azeites e castanhos. Também alimentos com cálcio e carboidratos, como laranja.” Segundo ele, os exercícios são ótimos e auxiliam na respiração, como caminhadas e os de baixa intensidade.
Nutrição
Para as pessoas que tiveram a forma grave da doença, a recuperação da massa muscular perdida está entre as prioridades. De acordo com a nutróloga Marcella Garcez, alguns alimentos têm seu sabor alterado pelas mudanças no paladar e no olfato. “Isso pode impactar no apetite e consumo alimentar. Muitas vezes, faz-se necessária a reposição de vitaminas, minerais e outros compostos bioativos, como suplementos, mas sempre com a prescrição de um profissional”, afirma a médica.
Deve-se aumentar a ingestão de proteínas, que precisam ser calculadas de acordo com as necessidades individuais e inseridas em um plano alimentar. “As principais fontes proteicas são as carnes, ovos, laticínios e leguminosas”, lembra Marcella. Ela explica que, no caso de não atingir o aporte protéico mínimo, suplementos podem ser indicados, sempre após o jantar, para não impactar no apetite. “O principal benefício é a recuperação da massa muscular, mediada por fisioterapia e atividade física.”
Para as pessoas com quadros de disfunções circulatórias, que podem ter várias consequências, desde a queda de cabelo até a formação de pequenos coágulos, vários alimentos funcionais podem ser inseridos no hábito alimentar, como os ricos em ácidos graxos (nozes, peixes de água fria, linhaça e chia)”, detalha Marcella, que faz parte da Associação Brasileira de Nutrologia
De acordo com a médica, é importante consumir alimentos ricos em polifenois, como as frutas vermelhas e o chocolate amargo, e que tenham ativos vasculotônicos, como as pimentas, especiarias, gengibre e canela. “Eles ajudam na recuperação do paladar e do olfato”, justifica. O consumo de alimentos os enriquecidos com probióticos, como iogurtes, kefir e kombucha, tambéwm é bem-vindo. “Os que têm fibras prebióticas (frutas e farelos) ajudam na recuperação da microbiota, que estará impactada pelos medicamentos, e também melhoram o perfil inflamatório do organismo.”
Por outro lado, há alimentos que não devem ser consumidos, como os ricos em açúcar. Os industrializados e os ultraprocessados, que trazem grande quantidade de açúcar, sódio, gorduras modificadas, corantes e conservantes, também estão vetados, assim como os que têm gorduras trans e modificadas. É preciso, ainda, evitar refrigerantes e bebidas alcoólicas em excesso.
Não fique parado
Confira quatro exercícios, com duração de 20 a 25 minutos, para sair do sedentarismo e melhorar a imunidade. Faça de 20 a 30 segundos de cada movimento, com descanso de 15 a 30 segundos entre um exercício e outro. Lembre-se de sempre contrair o abdômen:
Sentar/levantar
Trata-se do movimento natural, porém com algumas observações: coloque seu peso sobre o meio do pé e calcanhar e, assim que encostar o glúteo no banco, fique logo em pé, sem relaxar. Mantenha o tronco alinhado e sempre olhando para a frente durante a execução.
Prancha tocando os ombros
Esse exercício consiste em tocar os ombros de forma alternada na posição de flexão de braço. Para ficar mais fácil o movimento, você pode realizar o exercício com os joelhos no chão.
Abdominal curto
Deitado de peito para cima faça movimentos mais curtos, inspirando na descida e soltando o ar na subida do tronco.
Corrida estacionária
Consiste, basicamente, em simular o movimento de um trote. O segredo desse exercício é encostar a ponta do pé no solo o mais rápido possível, amortecendo o impacto.
Fonte: Walter Oliveira, professor e influenciador técnico da Fit Sul.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte