Na época da Páscoa, costuma passar pela cabeça de muita gente a ideia de ter um coelho como bicho de estimação. Eles ficam na gaiola, não precisam fazer passeios periódicos ao ar livre. Parece ser fácil e não dar trabalho. Mas engana-se quem pensa assim. Eles precisam de tanta atenção e cuidado quanto os pets mais comuns, como gatos e cachorros, e podem viver cerca de 10 anos. Portanto, a decisão deve ser bem pensada.
Para evitar compras impulsivas neste período, a pet shop Cobasi suspendeu a venda de coelhos desde o dia 20 de março e só deve retomá-la passada a data festiva. A campanha Coelho não é brinquedo acontece desde 2018. De acordo com a gerente de marketing Daniela Bochi, era comum na Páscoa as pessoas comprarem coelhos, principalmente para presentear crianças. “Ao descobrirem que é um pet que, assim como qualquer outro, precisa de cuidado, tempo e dedicação, acabavam devolvendo, abandonando ou repassando para terceiros.”
O médico veterinário Raoni Canal, da SPet Butantã, especialista em endocrinologia e metabologia de pequenos bichos, com ênfase nos silvestres, alerta que se deve ter responsabilidade. “Não se pode adotar um animal levianamente. Ele sente dor, solidão, afeto, alegria, temos que entender que temos o dever de dar uma vida com qualidade e saúde para ele”, afirma.
O especialista explica que não é uma expectativa real achar que o coelho vai ficar só na gaiola. “Dessa forma, ambos perdem. Deixar na gaiola vai limitar a relação da pessoa com o pet. A ideia é que ele tenha interação com os donos. O animal em casa é para isso: trazer o carinho para dentro de casa”, explica. No caso dos coelhos, ele afirma que são bichos de estimação muito afetuosos, que gostam de brincar, de buscar bolinha, atendem pelo nome.
Na prática
A estudante Mariana Borges, 24, tem um coelho há cerca de três anos, o Pincel, da raça teddy dwerg. Ela já tinha uma cadela de porte grande, que ficava na área externa da casa. “Sentia muita falta de um bichinho para fazer companhia dentro de casa. Eu estava em um momento emocional meu complexo”, relembra. Pesquisou bastante porque, se toda a família não se adaptasse ao novo integrante, não adiantaria.
Mariana explica que cada espécie tem suas características: “Os coelhos são menos necessitados de atenção que o cachorro. Nesse sentido, eles lembram um tico os gatos. Dependendo de como são tratados, sabem reconhecer o nome, o lugar de fazer xixi e o dono”. Ela descreve a personalidade do seu coelhinho: “É bem comum que o Pincel procure abrigo atrás da gente quando está com medo e ele, definitivamente, segue as pessoas pela casa. Quando recebe carinho, ele faz um barulho com os dentinhos que lembra o ronronar de um gato. Quando está bravo, fica batendo os pés no chão com toda a força. Ele também se lambe de forma parecida a que os gatos fazem, fica sempre branquinho”.
Além da gaiola, onde sempre faz xixi e cocô e que está sempre aberta, Pincel tem à disposição todo o espaço de uma varanda. Mas no período da noite e pela manhã, momentos em que fica mais ativo, costuma fica solto na casa com os donos. “Ele virou um filho para minha mãe. Os dois não se desgrudam. Ele vai, quando ela chama, e lambe, quando ela faz carinho”, conta. Pincel também faz passeios pelo jardim, mas sempre supervisionado, em especial por conta dos cachorros.
O veterinário Raoni explica que, embora não sejam roedores, os coelhos têm um comportamento semelhante: roem móveis, objetos de decoração, fios elétricos. Portanto, a atenção dos donos é importante quando estão fora da gaiola. Além disso, assim como os cachorros, eles também tendem a fazem xixi no lugar errado para marcar território. “A castração, além de evitar doenças em ambos os sexos, mas principalmente na fêmea, ainda inibe esse comportamento”, orienta.
O mito da cenoura
Nos desenhos, os coelhos comem cenoura. Na vida real, não é bem assim. Segundo a veterinária com especialização em clínica e cirurgia de animais silvestres Júlia Herter, o alimento principal dos coelhos é o feno, que deve estar disponível — assim como água fresca — o tempo todo. Além disso, deve-se complementar com folhas verdes escuras (20%), ração de qualidade (15%) e petiscos — frutas ou petiscos comerciais (5%) — uma ou duas vezes na semana.
Mariana precisa controlar muito bem a quantidade de ração e de outros alimento, ou o danadinho não come o feno. “Quando acaba a ração, ele vira a vasilha para falar que quer mais.” A família está sempre de olho para que a água e o feno estejam sempre disponíveis.
“O principal problema que encontramos no atendimento a coelhos e pets exóticos/silvestres, no geral, são erros graves na alimentação. Por exemplo: coelhos que nunca comeram feno na vida, que recebem apenas ração ou cenoura, que comem rações de qualidade ruim (para coelhos de produção e abate), que comem folhas verdes claras ou muita fruta, o que causa diarreia, disbiose” ressalta Júlia. Tendo em vista a anatomia e fisiologia do coelho — crescimento contínuo de dentes e microbiota especializada na digestão de fibras —, uma dieta adequada, garante a veterinária, é essencial para que o animal tenha qualidade de vida e, consequentemente, uma maior longevidade.
Por serem animais de estimação menos comuns, com fisiologia, alimentação e hábitos completamente diferentes de outros animais domésticos, ela alerta que é imprescindível que, sempre que um animal exótico ou silvestre for adquirido (ou até antes disso), o proprietário o leve a uma consulta com médico veterinário especializado, para receber as orientações de manejo correto. “O ideal é escolher um veterinário de confiança no início da vida do animal e que esse profissional o acompanhe durante toda a vida. A boa saúde de um pet exótico ou silvestre se baseia em práticas adequadas de manejo.”
Júlia orienta que o animal faça checapes anuais, quando jovens, e semestrais, quando idosos. Além disso, devem ser levados ao veterinário em caso de comportamento alterado — diminuição do apetite, diminuição da atividade, diarreia, alterações comportamentais, agressividade, diminuição da quantidade de fezes, aparecimento de lesões de pele, etc.
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