Os característicos tijolos aparentes, a madeira de demolição e os móveis de couro envelhecido compõem o cenário que remete ao final da década de 1950, quando os elementos industriais foram incorporados à decoração de residências nos Estados Unidos, dando origem ao estilo industrial.
A tendência se consolidou em um período em que o país vivia uma crise econômica, o que levou muitos a alugarem e comprarem espaços destinados à indústria, como galpões e armazéns, por terem um caráter mais compacto e terem baixo custo de manutenção. “O estilo industrial foi muito utilizado nos lofts em Nova York nas décadas de 1960 e 1970, no bairro do Soho, onde intelectuais e artistas ocuparam esses ambientes industriais para se instalarem como moradia em razão de ser barato e descolado”, lembra o arquiteto Bruno Moraes.
Em razão do caráter econômico e sustentável, a decoração industrial está novamente em alta, acredita a arquiteta Rafaela Cunha. “Além de os espaços serem mais integrados, é possível aproveitar o que o próprio ambiente fornece”, justifica. Para a arquiteta Edna Côrtes, jovens empresários se encaixam no perfil de pessoas que buscam esse tipo de decoração. “Normalmente, eles querem chocar, querem algo diferente, além de pensarem na economia e na praticidade”, destaca.
Bruno compartilha da visão de que há uma preferência de jovens pelo estilo. “A decoração industrial serve para todas as idades, mas existe uma predominância do público mais jovem. Além disso, pessoas mais modernas, artistas ou que trabalham com atividades intelectuais costumam gostar muito.”
Elementos-chaves
Segundo o especialista, o estilo industrial combina elementos rústicos e modernos, criando um cenário informal e despojado. “Infraestruturas aparentes, luminárias de sobrepor com cúpulas grandes, uso de chapas metálicas nos móveis, além da valorização da laje aparente no teto, em vez de escondê-la com um forro de gesso, são as principais vertentes”, aponta Bruno.
Edna também elege a laje aparente como característica marcante. “Apartamentos antigos de Brasília não têm a característica industrial. Porém, a gente tem condição de deixar a laje aparente. Também é possível fazer pinturas nas lajes, as chamadas colmeias de teto, para dar um ar mais industrial”, ilustra.
Outra estratégia citada por ela é o uso de revestimentos que imitam tijolos. “Hoje, temos duas opções: arrancamos parte do reboco para deixar o tijolo aparente ou colocamos um revestimento. Há várias marcas no mercado que imitam esses tijolinhos. Eles vão desde bege até marrom escuro”, diz.
Para Bruno, o principal objetivo de uma decoração industrial para o lar é proporcionar conforto. Isso difere dos projetos comerciais, que tendem a explorar de forma mais acentuada os adornos. “São conceitos diferentes. A residência, geralmente, é mais acolhedora. Dependendo da proposta, o ambiente comercial não é tão acolhedor e precisa de mais iluminação para destacar os produtos à venda e chamar a atenção dos clientes”, diferencia.
Combinação de estilos
Em residências, a presença de elementos da decoração industrial é mais sutil e, por isso, costuma ser associada a outros estilos. “É preciso saber misturar o estilo industrial com outras tendências. O minimalista, marcado pelo uso de peças pontuais e poucos elementos, por exemplo, dá para trabalhar bem com o industrial, porque o foco é justamente ter menos custo. Ele também traz um contraste para o estilo industrial, que causa mais impacto ao usar tons sóbrios e fortes”, explica a arquiteta Rafaela Cunha.
Bruno acredita que o segredo para apostar na decoração industrial é ter equilíbrio. “Se utilizar em excesso, deixando as paredes, o piso e o teto em concreto aparente, todas as superfícies rústicas, vai dificultar para fazer limpeza no dia a dia e, também, pode deixar o ambiente impessoal, mais triste.”
Ele acrescenta que o ideal é misturar duas técnicas distintas para diversificar: “Executar uma parede em cimento queimado natural, para valorizar, e nas outras, investir na pintura. Nesse caso, estamos chamando a atenção para a parede em cimento queimado, já que ela é diferente das outras. O contraste é o grande segredo na arquitetura de interiores”.
A questão da iluminação também exerce papel importante. “É legal valorizarmos esses elementos rústicos com a iluminação. Um bom projeto é aquele que sabe mesclar luz e sombra. Se houver proporção e harmonia entre os elementos, vamos ter um projeto muito mais rico, cheios de surpresas”, completa o arquiteto.
Cuidados especiais
A dica de Rafaela Cunha antes de trabalhar com o estilo industrial é observar o ambiente ao redor. “É importante analisar o que já existe de características desse estilo que possa ser utilizado para avaliar qual é a melhor opção para o local, tanto em relação a custo quanto a estilo pessoal. Eu sempre costumo dizer que em arquitetura não existe só uma opção, são várias”, recomenda.
Já Edna Côrtes adverte que, ao aplicar o estilo em cômodos como cozinha e banheiro, alguns cuidados são necessários: “As tubulações aparentes na cozinha têm de ser especial, para não ter risco de pegar fogo. Para banheiro, também é preciso ter alguns cuidados com relação à tubulação exposta, pois é um ambiente molhado”.
Para dar roupagem industrial
* Móveis metálicos, como os de vergalhões, que estão sendo muito utilizados.
* Também há muitas opções de cadeiras e banquetas metálicas, algumas imitando um metal já desgastado pelo tempo.
* Móveis de madeira rústica, maciça.
* Uso de neon, como luminárias fixadas na parede ou apoiadas em móveis
* Hoje, encontramos muitos objetos de decoração de cimento, como vasos para plantas, bancos, suportes para velas e outros.
Fonte: arquiteto Bruno Moraes
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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