Desde muito jovem, Luciana Albuquerque tinha duas determinações em mente: abrir o próprio negócio e na área de gastronomia. De uma família mineira de empreendedores, ela foi criada para assumir a empresa do pai. Até começou a seguir a cartilha à risca. Cursou administração na cidade natal, Juiz de Fora, mas decidiu seguir os próprios passos ao se mudar para Brasília, há sete anos, para se especializar em contabilidade e custos.
Por aqui, além de estudar, começou a trabalhar — primeiro, em uma empresa de publicidade e, depois, no cerimonial do Ministério da Agricultura, onde saiu um pouco do foco dos números. “Aprendi a lidar com gente”, recorda-se. Mas o sonho de empreender continuava forte. Como sempre teve em mente que precisava conhecer bem o negócio antes de investir nele, decidiu fazer um curso de gastronomia no Senac.
Lá, além de aprender as técnicas de gastronomia, passou a entender como funciona uma cozinha profissional. “O meu objetivo não era me transformar em uma chef, apesar de amar cozinhar. Sempre quis ter um negócio na área de alimentação, porque é um setor que não tem sazonalidade.”
Na mesma época, um amigo apresentou a Luciana o dadinho de tapioca, uma criação do chef Rodrigo Oliveira, do restaurante Mocotó, em São Paulo, e que conquistou todo o Brasil. A mineira ficou encantada com o sabor da iguaria e tentou reproduzi-la. Passou meses fazendo testes e adaptando a receita. “Acrescentei manteiga, que não tem na receita original, mudei a proporção de leite e queijo e procurei desenvolver um produto que fosse bem na air fryer, já que muita gente tem evitado fritura”, detalha.
Ela tinha em mãos um produto que, estava segura, podia comercializar. No início de 2019, começou a vender para os vizinhos, em pacotes de 400g. “Eu morava em um condomínio onde viviam quatro mil pessoas. Em pouco tempo, estava distribuindo cerca de 250 pacotes por mês. Era o limite da minha produção, já que tudo era feito na minha cozinha, e eu só tinha um freezer e uma geladeira.”
Expansão
Quatro meses depois, em julho de 2019, Luciana alugou uma sala de 15m², investiu em maquinário, embalagem e marketing e passou a produzir 70 pacotinhos por dia. “Decidi que, se ia expandir, precisava ser profissional.” Surgia, assim, o Ao Quadrado. “Meu grande desafio era, primeiro, desmistificar o produto, antes muito relacionado a petisco. Queria que as pessoas o incorporassem ao café da manhã, ao lanche da escola. Depois, começamos um trabalho de marketing para mudar de dadinho para quadradinho, em uma alusão a Brasília”, explica.
O negócio deu tão certo que Luciana se mudou para uma sala de 30m² e, hoje, encontra-se em uma de 300m², onde produz uma média de 2 mil pacotes por dia. “Temos mais de 250 pontos de venda e já exportamos para Tocantins, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Bahia”, comemora.
Recentemente, depois de um ano e meio de pesquisas e experimentos, desenvolveu um segundo sabor — desta vez, com carne seca e queijo coalho. “Criei essa receita do zero”, orgulha-se. Luciana garante que, apesar de ser um produto industrializado, o quadradinho é feito de forma artesanal. “Tem uma pessoa mexendo a panela, e até a máquina de corte é operada de forma manual”, exemplifica.
Outra grande preocupação da mineira é com os insumos do produto. Depois de muita pesquisa, escolheu os fornecedores a dedo. “O queijo coalho e a manteiga vêm de Pernambuco e a massa de tapioca, do Paraná”, detalha. A fabricação dos quadradinhos de tapioca consome, mensalmente, mais de 1,5 tonelada de queijo coalho, 1,4 tonelada de tapioca granulada, 3.300 litros de leite desnatado e 300kg de carne seca — uma realidade bem distante daquela em que preparava o produto na cozinha de casa.
E Luciana não pretende parar por aí. Para o futuro, quer lançar uma nova linha de alimentos. “Empresa de um produto só não prospera”, acredita.