Especial

Sem combustível: pandemia leva ao aumento de casos de burnout

A mudança da rotina de trabalho e a necessidade de conciliar a vida profissional com a pessoal dentro do lar contribuíram para o desenvolvimento de sintomas como estresse e exaustão emocional

A maioria da população mundial que convive com a crise pandêmica deve estar familiarizada com a nova realidade de trabalho: várias reuniões virtuais, inúmeras mensagens no WhatsApp, caixa de e-mail lotada, horários confusos, vida profissional misturada com a pessoal. Em 2020, as atribuições da atividade laborativa invadiram nossos lares sem que tivéssemos tempo para preparar nosso emocional.

Segundo pesquisa realizada entre 2018 e 2019 pela International Stress Management Association (Isma-BR), 72% dos brasileiros sofrem alguma sequela de estresse em diferentes níveis, sendo que, desses, 32% apresentam sintomas da síndrome de burnout. Se antes da pandemia os níveis de estresse já estavam nas alturas, durante o isolamento social eles alcançaram patamares ainda mais preocupantes.

O professor doutor Carlos Augusto Medeiros, psicoterapeuta e docente do Centro Universitário de Brasília (CEUB), acredita que a transferência da rotina para dentro dos lares gerou impactos no emocional das pessoas. “Como esse isolamento social e a adoção do home office vieram de supetão, um efeito prejudicial foi gerado para muitas pessoas.”

Por um lado, o teletrabalho promoveu benefícios, como o ganho do tempo de deslocamento, além do conforto e da segurança que só o ambiente familiar oferece. Por outro, tornou a rotina confusa, fazendo com que diferentes demandas se embaralhassem. “O horário de trabalho ficou muito confuso, tanto para gestores quanto para funcionários, e os recursos eletrônicos e grupos de trabalho possibilitam ainda mais o contato constante entre os membros da empresa. Além disso, as pessoas tiveram que lidar com a demanda do trabalho, da casa e dos filhos ao mesmo tempo, o que gerou uma situação muito estressante”, explica.

A psicóloga clínica Dilma Guimarães tem sentido uma maior procura nos consultórios. “Percebi um grande aumento de demanda devido à pandemia. Tanto homens quanto mulheres estão procurando muito os terapeutas, pois não sabem como lidar com as crianças em vários momentos e ficam imersos no trabalho e nas obrigações sem poderem extravasar, porque não saem do ambiente estressante, isto é, a casa.”

A síndrome

O cenário caótico contribuiu para o desenvolvimento de doenças psicológicas relacionadas ao trabalho, como é o caso da síndrome de burnout. “É um fenômeno do trabalho de caráter mais psicossomático, ou seja, que tem uma alta correlação com o estresse e que acaba gerando um adoecimento que torna a pessoa incompatível para o exercício da atividade laborativa”, descreve o professor Carlos Augusto.

Anibal Okamoto Jr, 33, psiquiatra graduado em medicina pela Universidade de Brasília (UnB) e com residência em psiquiatria na Secretaria de Saúde do DF, acrescenta: “É importante notar que não envolve apenas estresse excessivo, mas também a dificuldade ou a impossibilidade em lidar com esse estresse, gerando a sensação de impotência, ocasionando sensação de cansaço e fadiga, distanciamento mental e emocional do trabalho e diminuição da eficácia nas atividades laborais.”

De acordo com a pesquisadora Cristina Maslach, existem seis principais componentes que podem favorecer o desenvolvimento do burnout: carga de trabalho, grau de controle e autonomia sobre o processo de trabalho, sistema de recompensas e reconhecimento, relacionamentos em grupo e comunidade da organização, equidade e valores.

Quando ocorre incompatibilidade em um desses fatores, entre a pessoa e o trabalho, o burnout pode acontecer. “Mesmo tendo uma carga de trabalho adequada, uma pessoa que não se identifica com os colegas ou o ambiente da empresa pode desenvolver a síndrome. Outro exemplo comum é quando o chefe dá muitas tarefas em curto período de tempo e pouco crédito pelo trabalho. Demandas urgentes, que mudam sem previsibilidade, também podem ser uma causa”, explica Anibal.

Crise generalizada

Carlos Vieira/CB/D.A.Press - Fernanda Lima recebeu o diagnóstico de síndrome de Burnout em julho do ano passado: medicamento e terapia

A mudança da rotina aliada à jornada pesada de trabalho foi o ponto de partida para que a servidora pública Fernanda Lima, 40 anos, começasse a desenvolver sintomas da síndrome de burnout. A partir de uma fadiga prolongada, o quadro evoluiu para dor no corpo, enxaqueca e chegou a insônia, ataque de pânico e profunda depressão. Como resultado, Fernanda foi diagnosticada com a síndrome em julho do ano passado. “Chegou um ponto que eu não conseguia levantar da cama, tamanha exaustão física, mental e emocional que eu sentia”, relata.

Segundo ela, a maior dificuldade era atender as demandas de trabalho que surgiam em horários diferentes ao longo do dia. “Eu já vinha trabalhando bem mais do que no presencial. Por termos uma certa liberdade no home office para trabalhar em um horário mais conveniente, eu tinha demanda de chefes em horários distintos. Enquanto uma gostava de trabalhar de manhã, outra trabalhava à noite, o que deixava minha rotina confusa”, conta.

Autoestima abalada
A tentativa de conciliar o papel de mãe e professora dos filhos, com o de dona de casa, além de profissional, era outra dificuldade que favoreceu o adoecimento dela. “Foi bem difícil porque a escola só foi assumir essa parte de educação da criança no segundo semestre. Meus filhos também foram pegos de surpresa, todo mundo também estava meio perdido, e isso acabava sobrecarregando os pais. Eu acredito que lidar com todo esse pacote foi desafiador para a mulher.”

Durante o processo da crise, Fernanda ainda se deparou com abalos na própria autoestima, no casamento e até chegou a questionar se valia a pena viver. “Essa síndrome é muito difícil, porque, além da questão do esgotamento, leva a duvidar de você mesma. A autoestima fica prejudicada e gera uma insatisfação com a vida. Acho que você começa a perder confiança na sua capacidade no geral. Comecei a me questionar como mãe, esposa, como várias coisas ao mesmo tempo”, confessa.

Hoje, após o início de um tratamento terapêutico e com uso de medicações, Fernanda se encontra melhor. Contudo, o esforço para superar a crise é diário, um passo de cada vez. “Estou tentando, por recomendação do terapeuta, buscar minha alegria, minha vontade de viver, fora desses espaços profissionais, de maternidade e cuidados da casa. É uma coisa que estou tentando desenvolver dia após dia, mas não é fácil.”

Como diagnosticar?

Segundo o psiquiatra Anibal Okamoto Jr, a síndrome de Burnout envolve vários sintomas e pode se manifestar de forma muito diferente. Mas, geralmente, tem em comum exaustão emocional, despersonalização e redução da sensação de realização profissional. A exaustão emocional pode se expressar como cansaço, fadiga, indisposição, falta de vontade de ir ao trabalho, irritabilidade ou mesmo sintomas físicos.

Já a despersonalização se evidencia ao tratar os colegas, clientes ou chefes de forma fria, cínica, crítica ou deliberadamente negativa. Por conta disso, há um forte sentimento de desumanização no trabalho. “Pessoas que têm o trabalho envolvido em alguma forma de serviço são afetadas com frequência. Alguns traços de personalidade também favorecem a síndrome, como o perfeccionismo e a instabilidade emocional.”

É comum que a pessoa tenha alguma doença com sintomas depressivos ou transtorno de ansiedade. “Essa diferenciação é importante porque a síndrome se relaciona muito ao ambiente de trabalho, enquanto a depressão e a ansiedade envolvem todas as áreas da vida. Nos estágios graves (quatro e cinco) do Burnout, é muito comum que outros transtornos já estejam presentes, o que faz essa diferenciação um pouco mais complicada”, relata Anibal.

De acordo com o psiquiatra, o primeiro passo é reconhecer a situação. Na maioria dos casos, procurar algum tipo de assistência médica será essencial.

 

Burnout mommy

ED ALVES/CB/D.A.Press - Os afazeres com a casa, os estudos e os dois filhos levaram Marília Barros a desenvolver mommy bornout

Graças à cultura machista enraizada, a mulher moderna ganhou o estigma de ser polivalente e, por isso, é incumbida de desempenhar diversas funções de forma simultânea: cuidar da casa, dos filhos e da carreira. Mas não é preciso estar na pele feminina para chegar à conclusão de que é humanamente impossível alguém dar conta de tantos afazeres ao mesmo tempo sem sofrer prejuízos no bem-estar físico e emocional. Durante a pandemia, as responsabilidades das mulheres não cresceram, no entanto, vieram juntas, de uma só vez, sem nenhuma pausa para descanso.

O psicoterapeuta Carlos Augusto Medeiros afirma que a mulher foi ainda mais onerada durante a pandemia. “Estamos diante de um problema social, em que precisamos ter uma transformação social para que os papéis sejam partilhados e tanto o homem quanto a mulher assumam as responsabilidades do cuidado da casa e dos filhos. Pela nossa cultura ainda machista, estando em casa, presume-se que a mulher tem certas atribuições que o homem não tem. Por isso, ela vai acabar sendo muito mais sobrecarregada.”

Para Medeiros, é preciso que as mulheres busquem um espaço para cultivar a própria individualidade. “Elas precisam do tempo de lazer, momento de olhar para elas mesmas, se desligarem. No caso delas, devido aos resquícios da cultura machista, fica muito mais difícil se desvincular do papel de mãe, esposa, dona de casa e funcionária.”

Divisão de tarefas
Na contramão dessa perspectiva, a psicóloga Dilma Guimarães notou uma mudança positiva a respeito da divisão de tarefas durante o período pandêmico. “As funções tiveram que ser divididas, porque, tanto o homem quanto a mulher, trabalham em home office, o que não acontecia antes. Vejo, por meio de relatos de pacientes, que os homens estão se adaptando um pouco mais a esse serviço doméstico e ajudando a criar os filhos.”

Entretanto, ela concorda que, quando se trata da maternidade, as mulheres tendem a ser as mais sobrecarregadas. A necessidade da mulher auxiliar os filhos nas aulas on-line somado ao convívio 24 horas desencadearam o esgotamento de muitas mamães. Conhecido como mommy burnout, o fenômeno está relacionado ao desgaste mental causado pela experiência materna.

Quando a mãe deseja atingir a perfeição, o limiar entre o que é considerado saudável e prejudicial é ainda mais estreito. “Com esse negócio de ser multifuncional, você não consegue fazer tudo com perfeição. As mães perfeccionistas sofrem bem mais com a síndrome”, destaca a psicóloga.

Rotina estressante

Marília Barros, 36 anos, gestora de recursos humanos, é mãe de Calebe, 11, e Clarice, 6. Ela começou a sentir os sintomas da síndrome de Burnout Mommy no terceiro mês após o início da pandemia. “Sentia cansaço físico extremo, insônia, desânimo e perda de apetite.”

Apesar dela não trabalhar fora, a rotina de cursa uma segunda graduação e duas pós-graduações, tendo que dividir a atenção com os dois filhos, passou a ser estressante. Havia uma rotina estabelecida, em que as crianças tinham horário para ir para a escola. Mas, de repente, todos estavam dentro de casa, incluindo o marido.

“Tivemos, ainda, que nos adaptar ao ensino remoto das crianças. Um filho adaptou-se relativamente bem, já minha filha, não. Tinha de estar ao lado dela durante toda a aula. Até que desisti de tentar fazer com que ela assistisse às aulas virtuais e tentei alfabetizá-la eu mesma. Isso tudo me causou um extremo esgotamento e sensação de fracasso”, relata Marília.

A partir dessas situações, Marília começou a sentir enorme cansaço e desânimo. Ela conta que a hipertensão dela piorou e foi necessário trocar a medicação. “A melhor hora era a de dormir, porém nem isso conseguia fazer com qualidade. Além disso, sentia apatia, dificuldade de concentração, lapso de memória.”

Saúde mental

Para prevenir o desencadeamento de mais sintomas, a gestora conta que, com a flexibilização das normas de segurança contra a covid-19, optou pela volta das crianças ao ensino presencial. “Isso já fez muito bem à minha saúde mental. Não que eu não goste de tê-los comigo, mas, como não trabalho fora, preciso de um tempo de qualidade para organizar minhas tarefas e estudos.”

Ela tem também a ajuda do marido em momentos que realmente não está dando conta e está procurando outras alternativas para tentar cuidar da sua saúde mental. “Sempre que sinto um esgotamento maior, o marido intervém, sai sozinho com as crianças para que eu possa descansar a mente. Tenho tentado caminhar, fazer meditação, e isso tem me feito muito bem.”

Por tudo por que passou, Marília recomenda que as mamães tirem um tempo para si mesmas. “Quando sentem algum sintoma de estresse extremo, procure ajuda. A saúde mental de uma mãe afeta toda a família. Precisamos estar saudáveis para nós e para os nossos.”

 

Inspiração para pesquisa

Arquivo pessoal - A estudante de medicina decidiu fazer seu TCC sobre a síndrome de burnout

Para a estudante de medicina, Carolina Peres, 21, manter a rotina de estudos a distância foi um desafio. Sintomas como exaustão física e mental, cansaço, ansiedade e insônia apareceram com frequência no dia a dia dela. “Adaptar-me a essa nova realidade foi um processo árduo, que demandou esforço da minha parte. Mas, no final, com muita disciplina e foco, consegui me reinventar para aprender da melhor forma possível.”

O excesso de autocobrança, além da pressão comum aos estudantes e profissionais da área, foram os fatores determinantes para o desenvolvimento dos problemas emocionais. “A rotina dentro da medicina é puxada e exige abdicação de algumas coisas para conseguir alcançar os objetivos. Eu sempre senti muito essa pressão e na pandemia não foi diferente”, conta.

A prática da terapia e de caminhadas ao ar livre foram as ferramentas que ajudaram Carol a buscar calma em meio à tempestade de obrigações. Ela também criou estratégias para lidar com o aprendizado de forma mais saudável, como ter constância nos estudos e equilibrar o lazer com as obrigações.

Inspirada pela própria experiência e pelo contexto do momento, Carol decidiu fazer seu TCC sobre a síndrome de burnout. “O que me motivou a escolher esse tema foi o fato de ser um problema mundial e com uma prevalência cada vez maior. Sinto que, depois dessa pandemia, a saúde mental de grande parte da população estará prejudicada. Meu trabalho tem o intuito de contribuir para compreensão do problema e, assim, colaborar com o bem-estar das pessoas.”

 

O desafio de quem cuida

Arquivo pessoal - A enfermeira Danyella Soares teve que se cuidar emocionalmente para conseguir tratar os pacientes

Os profissionais de saúde, especialmente os que atuam na linha de frente no combate à covid-19, tiveram o emocional afetado. Afinal, conviver de perto com a perda e lutar contra o tempo para salvar a vida de um paciente é uma provação. A psicóloga Dilma Guimarães aponta que a condição de estresse extremo que acomete os profissionais dessa área é chamada de fadiga por compaixão. “É uma espécie de síndrome de burnout voltada para os profissionais da área de saúde.”

A enfermeira Danyella Soares, 30, do Hospital Regional do Guará (HRGU), foi uma das profissionais que sentiram na pele as mudanças. A área de pediatria, em que ela trabalhava, fechou para dar lugar ao atendimento de casos de coronavírus. Diante de tamanha responsabilidade, ela abdicou do contato com a família, incluindo os filhos, para amparar os pacientes. “No começo, foi muito difícil trabalhar com esse público, até pelo medo de me contaminar. Eu fiquei bem preocupada de contaminar minha família e comecei a ver muitas coisas ruins, muitos óbitos, coisas com que eu não convivia antes”.

Diagnosticada com crise de ansiedade, além de sintomas de insônia, ela realizou terapia por cerca de três meses e tirou uma folga do trabalho por 14 dias para lidar com os problemas psicológicos. “Eu senti muito impacto no meu psicológico, já saí várias vezes do plantão chorando, bem desesperada. Na verdade é como se você tivesse perdendo uma pessoa próxima, porque você convive todos os dias com aquele paciente, você vê a família dele e cria vínculos”, acrescenta.

Impotência
No caso da enfermeira, o sentimento de impotência é o que mais predominou ao testemunhar as famílias no processo de luto. “O pior é você ver pessoas morrerem sem ter a chance de se despedir, pois a maioria não teve o último adeus, o último acalento. Isso é o mais triste. Muitas das vezes, eu me sentia impotente, porque eu fazia o meu melhor, mas não era o suficiente.”

Nos dias atuais, com mais segurança para lidar com as próprias emoções e mais conhecimento sobre a covid-19, Danyella se sente pronta para a missão de cuidar do outro.

A síndrome em fases

* A primeira fase é chamada de lua de mel. É quando o trabalho é muito satisfatório, com alto engajamento, criatividade e energia, que, geralmente, acontece no início. “As estratégias de gerenciamento do estresse desenvolvidas aqui é que vão nos dizer se a pessoa vai progredir para as outras fases ou não”, esclarece o psiquiatra Anibal Okamoto Jr.
* Já na segunda etapa, conhecida como tentativa de equilíbrio, começam a surgir os primeiros sinais da síndrome. Alguns dias são percebidos como melhores que os outros. Sintomas comuns incluem insatisfação com o trabalho, ineficiência e erros leves (evitar algumas decisões ou perder objetos), fadiga, insônia e comportamentos de fuga (assistir à televisão demais, beber, fumar e comer compulsivamente).
* Durante a terceira fase, começam a surgir os sintomas crônicos. Além dos citados acima, ocorrem exaustão crônica, adoecimento físico, irritabilidade e depressão.
* A quarta fase da crise é marcada pelo aumento crítico dos sintomas, que se tornam mais intensos e frequentes. “Os sintomas físicos pioram, surgem pensamentos obsessivos sobre as insatisfações no trabalho, o pessimismo e a dúvida dominam o pensamento. A pessoa desenvolve uma ‘mentalidade de fuga/sobrevivência’.”
* A quinta e última etapa é conhecida como a etapa do esgotamento. Os sintomas se tornam persistentes e diários. “Há uma chance muito grande de que apareçam complicações, como doenças físicas ou mentais crônicas, como hipertensão arterial, asma, síndrome do intestino irritável, transtorno de ansiedade ou estresse pós-traumático”, adverte Anibal.

Gestores no cenário pandêmico

Arquivo pessoal - Funcionários da SysCoin Commerce alugaram uma casa em Porto de Galinhas: desestressar

O papel dos gestores e chefes se tornou ainda mais relevante durante a pandemia no que diz respeito ao desenvolvimento de estratégias para adaptar a equipe à nova realidade. Leonardo Miranda, fundador da SysCoin Commerce, agência de negócios digitais, procurou escutar as necessidades dos 20 funcionários.

Um modelo híbrido, com flexibilidade de horário, além da possibilidade de cumprir o expediente tanto na empresa quanto em casa, foram algumas das soluções pensadas para gerar um maior engajamento e lidar com o problema da procrastinação, enfrentado por alguns funcionários. Como ele já teve síndrome de burnout, sabe bem da importância da saúde mental para o exercício da atividade laboral.

Essa experiência prévia o ajudou a estar capacitado para lidar com as exigências do período de crise. Ele reconheceu, por exemplo, o quanto é prejudicial que o trabalhador tenha um ritmo de trabalho acelerado. “A gente tem cuidado de não dar demandas fora do horário de trabalho, não exercer pressão e fazer com que a pessoa consiga respirar durante as atividades e os compromissos diários, porque se a pessoa não consegue aliviar a tensão, isso acaba gerando prejuízos consideráveis para todos,”

Leandro deu liberdade para que os colaboradores trabalhassem de onde desejassem. Com o propósito de aliviar o estresse e motivar a equipe, no mês passado, todos os funcionários alugaram uma casa em Porto de Galinhas (PE), onde dividiram o tempo entre obrigações e lazer.

As iniciativas só geraram benefícios para o desempenho dos integrantes da empresa. “A gente percebeu, depois de uma pesquisa sobre o clima da empresa, que todos os critérios referentes à qualidade de vida melhoraram bastante. Percebemos que as pessoas estão produzindo o mesmo ou até mais em questão de entrega, de resultado.”

Como tratar

A síndrome está diretamente relacionada ao ambiente de trabalho. Portanto, é indispensável refletir sobre a quantidade de trabalho (em horas por semana) que a pessoa executa e considerar se leva trabalho para casa.

A partir disso, é possível pensar em estratégias para flexibilizar os horários ou diminuir a exposição a chamadas urgentes, avaliar a relação com os colegas, chefes e com a cultura da empresa. O psiquiatra Anibal Okamoto Jr sugere ponderar se o reconhecimento e as recompensas são suficientes, identificar se há tratamento diferenciado ou algum tipo de injustiça, e como isso lhe afeta.

Segundo Anibal, nem sempre isso vai implicar em mudar de profissão ou carreira. O que acontece é que serão necessários alguns ajustes. “Conseguir decidir um pouco mais o próprio horário já costuma ter um efeito muito positivo. A mudança nas relações, sobretudo quando o clima organizacional é muito competitivo e hostil, também pode ajudar bastante.”

É fundamental que a pessoa consiga desenvolver estratégias de gerenciamento de estresse eficientes. Isso vai ajudar a prevenir o desenvolvimento da síndrome e promover a assertividade, que é a capacidade de se afirmar de maneira positiva. E, por fim, a ser resiliente, que é a habilidade de lidar com estresse e experiências emocionalmente difíceis com mais facilidade.

Tenha em mente também que é importante aprender a definir limites sadios às demandas, estar atento às próprias necessidades pessoais de descanso, sono, espaço e reconhecimento, saber monitorar o acúmulo de estresse e, principalmente, agir para promover as mudanças no ambiente, mas mantendo o comprometimento e a responsabilidade.

De acordo com o psiquiatra, as pessoas que possuem a síndrome de burnout têm direito a licença médica. Ele explica que, em um primeiro momento, o afastamento da atividade laboral será necessária, porque é comum que já exista um esgotamento e alguns sintomas graves. “Muitas pessoas costumam chegar nos estágios quatro e cinco. Nesses casos, dificilmente vai ser possível avaliar e implementar as mudanças sem que haja uma interrupção daquela rotina”, adverte Anibal.

Tome cuidado ao se autodiagnosticar. A depressão e o estresse do dia a dia são problemas parecidos e há um grande número de pessoas que apresentam as duas condições. O psiquiatra finaliza: “Se você acha que pode estar passando por esse problema, ou se identificou de alguma forma com o que está sendo falado, procure ajuda. O trabalho é importante e essencial; o sofrimento, não.”

*Estagiárias sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

 

Carlos Vieira/CB/D.A.Press - Fernanda Lima recebeu o diagnóstico de síndrome de Burnout em julho do ano passado: medicamento e terapia
ED ALVES/CB/D.A.Press - Os afazeres com a casa, os estudos e os dois filhos levaram Marília Barros a desenvolver mommy bornout
Arquivo pessoal - A estudante de medicina decidiu fazer seu TCC sobre a síndrome de burnout
Arquivo pessoal - A enfermeira Danyella Soares teve que se cuidar emocionalmente para conseguir tratar os pacientes
Arquivo pessoal - Funcionários da SysCoin Commerce alugaram uma casa em Porto de Galinhas: desestressar