Os pássaros atraem por sua beleza, pelas cantorias e por todo o carinho que gostam de receber. Mas é importante conhecer as espécies que podem ser criadas em casa, os cuidados que precisam ser tomados diariamente e, principalmente, os benefícios que o pet pode trazer para a sua vida. Raquel Sabaini, coordenadora de gestão, destinação e manejo da biodiversidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), explica que é necessário distinguir espécies nativas das exóticas.
As do primeiro grupo não podem ser criadas e devem permanecer soltas na natureza, como as aves canoras, os papagaios e as araras. “A exceção são os pássaros provenientes de criadouros autorizados pelos órgãos estaduais/distritais de meio ambiente — pois nasceram em cativeiro e não são retirados da natureza”, explica a coordenadora.
Já as aves exóticas são pássaros não naturais do Brasil. Por isso, existe uma criação controlada e é necessária a autorização do órgão ambiental, a exemplo da cacatua. Já o canário-belga, o periquito australiano, a calopsita, a galinha e a codorna são isentos de controle e podem ser criados livremente de forma doméstica. Mas, claro, com todos os cuidados.
A coordenadora explica que algumas aves não se adaptam ao cativeiro doméstico e exigem recintos e ambientes que não condizem com residências. “Existem animais que vivem em bandos e necessitam do convívio de indivíduos da mesma espécie. Outros podem desenvolver doenças e vir a óbito devido ao manejo incorreto e local inadequado.”
Cuidados ao adquirir uma ave
O primeiro passo no momento em que se decide criar uma ave é ter certeza de que o animal não é traficado. A coordenadora explica que, quando o animal é de criadores ilegais, tendem a ser mais mansas. “Muitas estão acostumadas com seres humanos desde que nascem. Desconfie de aves que não são muito ariscas — alguns traficantes costumam furar os olhos delas para ficarem mansas — e sempre exija o certificado de origem e a nota fiscal”, recomenda Raquel.
A coordenadora ressalta outros pontos importantes que devem ser observados na hora de adquirir um pássaro: “Busque informações sobre o criadouro junto ao órgão estadual/distrital de meio ambiente, observe se a anilha (pequeno anel no metatarso do animal) está fechada e não tem deformidades, e se os dados que constam nela conferem com o que está descrito no certificado de origem”.
Mariana Pestelli, médica veterinária formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e funcionária da Petz, conta que, como a fauna brasileira é muito rica, existem algumas aves silvestres que podem ser criadas como pets — mas só se forem procedentes de criadouros legalizados. Para outros pássaros, realmente não há essa possibilidade. “O conselho mais importante em relação a esta informação é que não devemos pegar uma ave da natureza e colocá-la em uma gaiola, independentemente da espécie em questão.”
A coordenadora do Ibama acrescenta que, para ter um animal silvestre, é necessário que ele tenha origem legal. “No caso de passeriformes (aves canoras e outras da mesma família), também é possível se cadastrar como criador amadorista e adquirir animais de outros criadouros. O registro é feito junto aos órgãos estaduais ou distrital de meio ambiente”, esclarece Raquel.
Além desses cuidados, pesquise sobre a espécie que você tem interesse, analise os hábitos do animal e veja se você tem condições de manter o que o ele necessita. “Por exemplo, um papagaio é barulhento, faz sujeira. Você e sua família estão dispostos? Seu condomínio permite? Uma arara ocupa espaço, não tem como ter em um apartamento, é necessário ter uma casa. E, sim, o animal faz barulho o dia inteiro. O que seus vizinhos vão achar?”, indaga a coordenadora do Ibama.
Feita essa análise, é hora de buscar um animal que tenha origem legal. Procure o órgão ambiental estadual/distrital, peça o certificado de origem e solicite ao vendedor as informações quanto ao manejo alimentar e higiene do animal. “Adquira a gaiola e, no caso de psitacídeos, alguns brinquedos. Lembre-se que algumas aves vivem muitos anos”, diz Raquel.
Cuidados recomendados
A médica veterinária diz que os pássaros de vida livre se alimentam do que o habitat oferece. “Porém, para aves pets, em nossas casas, já existem rações extrusadas de boa qualidade, que são a melhor opção para uma ave que não voa o tempo todo e que vive na forma domesticada”, explica Mariana.
Raquel conta que cada espécie tem uma dieta específica e deve ser variada, devendo o responsável pelo animal procurar se informar sobre o cardápio que deve oferecer ao animal. “Alimentos processados, como biscoitos, macarrão, pão, chocolate, café e leite, nunca devem ser dados aos animais. E sempre deve ser ofertada água ao animal”, aconselha a coordenadora.
Os pássaros devem ter um espaço só deles. Mariana aconselha que, quanto maior a gaiola, melhor para o animal. “Vale atentar para a qualidade das gaiolas e o espaçamento das grades. Existem as com malha fina (para aves menores) e com malha grossa (aves maiores).”
Ela explica também que algumas espécies de psitacídeos (aves de bico torto) são mansinhas e podem ficar períodos fora da gaiola, porém sempre com supervisão de alguém, para evitar acidentes. E para quem mora em apartamento, colocar redes nas janelas é a recomendação mais segura.
Mariana recomenda ficar atento ao animal e não negligenciar cuidados básicos, como qualquer outro pet de estimação. “Não esqueça de ofertar alimentação específica, água filtrada e fazer limpeza das gaiolas. Atenção, interação e banhos de sol também são recomendados.”
As aves apresentam comportamento mais “manso” caso tenham interação com humanos desde filhotes. “Dificilmente conseguimos isso com pássaros já adultos ou que não foram criados ‘na mão’ desde filhotes”, explica Mariana.
Paixão pelas aves
A família de Luiza Dantas, 20 anos, estudante de comunicação organizacional, decidiu adotar uma calopsita durante o isolamento social. Como mora em apartamento, não tem muito espaço para cães e parte dos parentes é alérgica a gatos, a ave foi a melhor escolha. A jovem garante que há, sim, troca de carinho e de interação. “O que mais gosto de fazer com o Thor é carinho na bochecha. Ele fica piando baixinho, pedindo mais.”
Mas nem sempre foi fácil. Luiza lembra que o processo de adaptação é difícil, porque ter um pássaro é sinônimo de paciência. “Estávamos loucos para ele vir para cima da gente, andar pela casa, ficar cantando e interagindo, mas isso requer tempo e segurança”, relata. “É um passo de cada vez. É o jeitinho da ave e é preciso aprender a respeitar e conviver.”
Thor se alimenta com um mix de semente e toma vitamina na água. “Ele é bem seletivo e deixa de comer várias sementes — ele não come a de girassol, algo muito raro em calopsitas. É legal dar outras frutas e verduras que são benéficas para a ave, mas requer bastante paciência e rotina para introduzi-las na alimentação”, detalha Luiza.
É preciso ficar atento também às asas e às unhas. “Até hoje, nós o levamos uma vez por mês na pet shop para cortar as unhas e as asas. No caso das unhas, elas nos machucam e podem atrapalhá-los. Optamos pelo corte das asas porque moramos em apartamento com móveis e janela, acaba sendo uma questão de segurança.”
O cuidado e a preservação
Marlon Oliveira, proprietário de um canaril com permissão da Federação Ornitológica do Brasil (FOB), começou a criar canários depois de procurar criadores que pudessem oferecer aves em boas condições e informações importantes sobre manejo e cuidados. “A partir de então, passei a cuidar com amor e dedicação até chegarem à fase adulta. E tenho desfrutado de um ótimo retorno na época de reprodução.”
Ele recomenda que, antes da compra, analise com cuidado a espécie. “Estude o tipo de ave que lhe interessa, adquira os animais novos de criadores que realmente garantam qualidade de vida. Depois de ter o pássaro, dedique tempo, amor e paciência, porque ele depende somente de nós. Mas tal esforço é gratificante.”
* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte