Vocês irão concluir que o oxigênio do título acima refere-se ao espaço verde, mas tem outras conotações também. Pesquisas têm revelado que durante a pandemia as pessoas têm procurado mais contato com a natureza. O mais recente estudo foi conduzido no estado de Vermont, nos EUA, durante os primeiros meses da pandemia, em uma época de fechamento de escolas e comércio não essencial e restrição de viagens.
Dois terços dos moradores passaram a visitar os parques naturais com maior frequência e 80% declararam que as visitas aos parques passaram a ter uma importância ainda maior na pandemia para o equilíbrio físico e mental. Entre aqueles que em 2019 não tinham o hábito de frequentá-los, 26% passaram a aproveitar os parques nesse período.
Em tempos de crise como a que vivemos agora, a garantia de acesso ao espaço verde deve ser vista como uma questão de saúde pública para mitigar os impactos mentais negativos em situações dramáticas. Em 2011, a cidade de Futaba, no Japão, sofreu simultaneamente um terremoto, um tsunami e um acidente nuclear. O governo imediatamente recriou uma série de ecossistemas na cidade para promover o bem estar psíquico da população.
E falando um pouco mais de catástrofe e governos, o presidente da Coalizão de Saúde Mental Mundial recentemente rejeitou a orientação da Associação Americana de Psiquiatria ao dar um diagnóstico psiquiátrico a uma pessoa pública, no caso, Donald Trump, sem examiná-lo pessoalmente. A Coalizão se valeu da Declaração de Genebra que defende que médicos podem se expressar quando frente a governos destrutivos, Declaração criada após a experiência do Nazismo.
De acordo com a Coalizão, o fenômeno Trump e seus seguidores estão embasados em um narcisismo simbiótico e uma psicose compartilhada. Por narcisismo simbiótico devemos entender que um líder, faminto por adulação para compensar sua baixa autoestima, projeta uma onipotência grandiosa, enquanto seus seguidores, carentes pelo estresse social e econômico, buscam ansiosamente por uma figura parental.
Quando esses indivíduos assumem posições de poder, eles elicitam a mesma patologia numa parte da população com encaixe perfeito, como uma chave feita para aquela fechadura. Quanto à psicose compartilhada, eles a chamam também de folie à million.
Folie à deux (loucura a dois) é um fenômeno descrito na psiquiatria desde o século XVII e refere-se a sintomas delirantes compartilhados por duas pessoas geralmente da mesma família ou próximas. A folie à deux também é chamada de transtorno psicótico induzido, e folie à million, socorro! Quando um indivíduo muito sintomático é colocado em posição de poder e influência, seus sintomas podem se propagar à população por meio de ligações emocionais, amplificando patologias pré-existentes e afetando até indivíduos previamente saudáveis. E o fator delirante provavelmente é mais forte do que um cálculo estratégico, pois ele se dissemina mais facilmente.
É importante salientar que os indivíduos com transtornos mentais como um grupo não são mais perigosos que a população geral, mas quando o transtorno mental vem acompanhado de componentes destrutivos, esses indivíduos são mais perigosos sim. E de onde vem esse elemento destrutivo? Simplificando, se uma pessoa não recebe amor, ela busca respeito. Se ela não tem o respeito, ela realiza ameaças. Trump vive hoje a rejeição e a violência, é uma compensação à perda de poder.
Esta não é uma história de ficção e qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real aqui nos trópicos não é mera coincidência.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília