Mesmo com pandemia, cirurgias plásticas continuam em alta

Nem mesmo o coronavírus impediu que algumas pessoas fizessem intervenções. Muitas colecionam mudanças e dividem as experiências nas redes sociais

Correio Braziliense
postado em 17/01/2021 10:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

 

Nem mesmo a pandemia impediu que algumas pessoas fizessem mudanças no corpo, sejam elas por meios cirúrgicos ou por técnicas não invasivas. Com protocolos de segurança, como uso de máscara durante consultas e exigência do exame da covid-19 atualizado entre os exames pré-operatórios, algumas pessoas procuraram melhorar a aparência.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) deixa claro que os últimos dados que possui sobre quantidade de cirurgias realizadas são de 2018, portanto, não é possível afirmar se a quantidade de cirurgias, em 2020, aumentou, diminuiu ou se manteve em relação ao ano anterior. Alguns cirurgiões afirmam que houve, sim, uma diminuição nos primeiros meses de pandemia, mas logo os números voltaram a crescer chegando ao patamar do ano anterior. No Centro de Estética HOB, por exemplo, o crescimento foi nos procedimentos estéticos.

Entre cirurgias, botox e preenchimentos, o relações públicas Daniel Abem passou por uma verdadeira transformação em 2020. No período de um mês, entre setembro e outubro, ele passou por cinco plásticas e ainda alguns procedimentos estéticos como preenchimento para

harmonização facial. Ele conta que sempre teve vontade de fazer mudanças na aparência, tanto que já tinha colocado lentes nos dentes e, em fotos antigas, sempre fazia retoques e consertava tudo que não gostava ao ver aplicativos. Agora, aposentou o Facetune e garante que, no máximo, usa algum filtro para melhorar a pele.

Daniel tinha dinheiro reservado para isso, mas faltava um empurrão, algo que lhe tirasse a preguiça de tantos exames e médicos. O incentivo final não foi algo tão bom. O casamento dele chegou ao fim e, diante das questões comuns de um término de relação, entrou em muito sofrimento. “Foi quando decidi que deveria fazer algo por mim, algo que sempre quis, que melhoraria a minha autoestima”, conta. Começou, então, a maratona: rinoplastia, otoplastia, bichectomia (pela terceira vez), lipoaspiração do contorno do rosto e da papada, implante capilar.

Segundo ele, muita gente tentou convencê-lo a não fazer, familiares e amigos. “Diziam que eu ia virar o Ken humano, não iriam me reconhecer, que eu ia ficar igual ao Michael Jackson”, conta, rindo. Nada disso o incomodou e, depois de feitas as cirurgias, todos acharam que, realmente, a aparência dele ficou bem melhor. E a autoestima também. “Tudo muda quando a gente começa a se sentir bonito, vê as pessoas te olhando, pessoas bonitas que antes não te olhavam”, alegra-se.

Embora tenham sido várias alterações, Daniel nunca quis que a mudança fosse tão radical a ponto de qualquer um perceber o que ele fez diferente. E deu certo. Ele próprio também não tem dificuldade de se reconhecer no espelho. O resultado, acredita, ficou natural e satisfatório. “Difícil é ver as fotos antigas”, brinca. “O único arrependimento é não ter feito antes”, finaliza. Nos primeiros momentos após tirar a tala do nariz, assustou-se um pouco, mas logo passou.

Para completar a transformação, está cuidando do corpo com modulação hormonal, muita atividade física e uma dieta equilibrada. Mas já planeja que, se isso não der um jeito na barriga, volta ao centro cirúrgico novamente sem medo.


Glossário

Harmonização facial: é um conjunto de procedimentos estéticos na face. Ela pode incluir cirurgias como bichectomia, cirurgia de pálpebra, implantes faciais, lifting facial, lifting de sobrancelhas, cirurgia de queixo de orelha, de nariz, lifting de testa ou se limitar a procedimentos estéticos como a aplicação de toxina botulínica e o preenchimento com ácido hialurônico, que foi o que Daniel fez.

Rinoplastia: cirurgia feita na estrutura nasal para melhorar a estética ou a respiração.

Otoplastia: cirurgia que visa corrigir defeitos estéticos da orelha, que pode variar de tamanho, posição e formato, inclusive no mesmo indivíduo.

Bichectomia: retirada da bola de Bichat, uma bola de gordura na região da bochecha.

Lipoaspiração: cirurgia estética que remove gordura de diversos locais diferentes do corpo. A gordura geralmente é removida através de uma cânula e um aspirador.

Abdominoplastia: procedimento cirúrgico para tirar o excesso de pele, gordura localizada e recuperar a firmeza dos músculos da região abdominal.

Lipoenxertia: cirurgia plástica em que a gordura do corpo da paciente é retirada de uma parte e usada para preencher, definir ou dar volume, a outras partes como seios, glúteos, ao redor dos olhos, lábios, queixo ou coxas.

Mastopexia: é a cirurgia que tem o objetivo de remodelar e levantar os seios flácidos e caídos (a chamada ptose mamária). 

Desfazendo a harmonização

Em 2020, o cantor Lucas Lucco, contou que havia passado por uma harmonização facial e se arrependeu. Por sorte, ele só tinha lançado mão de procedimentos estéticos, ou seja, nada definitivo, e estava desfazendo as mudanças. Depois que o caso do famoso foi exposto, diversos dermatologistas começaram a receber pessoas na mesma situação. “Queriam que ficasse mais natural, não tinham gostado do excesso”, explica a dermatologista Adriana Isaac.

No caso da toxina botulínica (o botox), ela explica que só o tempo faz com que seu efeito passe. No entanto, o ácido hialurônico, usado para preencher, pode ser desfeito com a aplicação de uma enzima, a hialuronidase, mas há um limite. “Ela derrete todo o ácido hialurônico, inclusive o da pele, então, ela vai ficando feia, fina. É importante fazer uma combinação de procedimentos para reverter”, afirma.

As redes sociais

Daniel Abem não tentou esconder o que fez. Pelo contrário. Além de ir a eventos com as orelhas enfaixadas e com o nariz ainda com curativo, ele ainda mostrou tudo em seu perfil no Instagram. Com isso, muita gente criou coragem e tirou dúvidas. “Eu quis ajudar outras pessoas que tinham vontade de fazer, mas tinham medo, tinham uma ideia errada de valores, de dor. Muita gente me envia mensagem perguntando sobre cirurgiões”, relata.

O cirurgião plástico Bruno Luitgards, do Centro de Estética HOB, vê vantagens em receber “pacientes bem informados, que entendem que vai ter resultados diferentes de uma mulher para outra, que sabem que existem complicações, quanto tempo vai ficar parada”. Por outro lado, algumas pessoas chegam querendo mudanças que não são factíveis com o corpo delas ou com as técnicas cirúrgicas existentes. “Além de, no Instagram, algumas pessoas colocarem fotos muito trabalhadas, outras ficam com desejo de procedimentos que não cabem para os corpos delas”, afirma.

Daniel, por exemplo, embora esteja feliz com os resultados que teve, se autodenomina “fresco” e acha que o nariz e as orelhas dele não ficaram perfeitamente simétricos. É quase imperceptível, mas ele vê. “Mas o cirurgião me explicou muito bem que poderia realmente dar uma pequena diferença. Mas na orelha, ele vai tirar um pontinho para que fiquem mais iguais e talvez também faça mais algum retoque no nariz, que pode ser algo maior ou não, ele ainda vai avaliar”, conta.

Graças à clareza do cirurgião no pré-operatório, isso não foi um problema para o relações públicas. No entanto, em alguns casos, há uma distorção entre o que o paciente espera da cirurgia e as possibilidades técnicas do médico. “Esse é o grande desafio do cirurgião plástico, é o leão que ele mata no consultório todo dia. As pessoas chegam com a expectativa muito alta, porque viu o resultado de uma amiga ou um antes e depois na internet. A gente explica, mas, muitas vezes, elas encontram outra pessoa que faz e o resultado não é bom”, relata o cirurgião plástico Marco Antônio Venturini.


Imagem como trabalho

Quem vê uma foto da influenciadora digital Joyce Catharine aos 25 anos e outra atual, não imagina que é a mesma pessoa. Também não cogita que a mulher, hoje, aos 31 anos, é mais velha que aquela de 25. Mas ela não liga de mostrar a diferença. Questionada se não teve dificuldade de se reconhecer depois da transformação, brinca: “Nada, já nasci assim. Nem lembro como era antes”.

Joyce fez a primeira plástica aos 21 anos, uma cirurgia para diminuir os seios. Mas foi uma questão de saúde, tanto que nem cogitou colocar próteses de silicone. De tão grandes, eles lhes davam dores nas costas. Em 2018, já pensando na estética, ela fez a harmonização facial com procedimentos estéticos divididos em várias sessões que só terminaram em 2019. “Como era aos poucos, as pessoas não percebiam de cara. Eu não cheguei com o rosto diferente de uma vez”, conta.

É assim que a dermatologista Adriana Isaac prefere trabalhar. “Além de evitar uma transformação drástica, também evita um pós-operatório dolorido, boca muito inchada, dolorida. O ácido hialurônico pode causar ações inflamatórias. Acima de 10ml, pode causar edema, inchaço, dor no local”, explica.

Depois de gostar da modelação feita no nariz, decidiu partir para a plástica de fato e, em agosto de 2020, fez rinoplastia, lifting e lipo de papada. Adriana explica que esse é um caminho comum dos pacientes incertos sobre uma cirurgia plástica. “Cirurgia plástica é para a vida, então, faz a rinomodelação, coloca ácido hialurônico no nariz, que depois de um ano míngua, vê se gosta e vai mais certo para a rinoplastia. Mesma coisa com quem quer mandíbula: coloca preenchedores, aumenta o queixo com ácido hialurônico e depois, se tiver gostado, coloca prótese de silicone e já se define”, explica.

Meses antes, Joyce também já havia passado por uma abdominoplastia, uma lipoenxertia e uma mastopexia com prótese. Dividiu cada etapa das cirurgias, cada incômodo, cada dor e cada felicidade com os seguidores do Instagram, o que lhe trouxe delícias e também dificuldades. “Por algum motivo, as cirurgias trouxeram mais haters. Mas minha autoestima melhorou em 90%. Você vestir qualquer roupa e gostar de como fica não tem preço”, conta.

O tabu e o risco

Enquanto muita gente prefere esconder as intervenções que fazem no corpo, Joyce as expôs. E se abriu para opiniões. “Algumas diziam que era só emagrecer, só malhar, me chamavam de preguiçosa”, conta. No entanto, o corpo dela havia mudado muito com a gestação da única filha e havia indicação cirúrgica. Ela, no entanto, só se importou com a própria vontade e com o apoio do marido e disposição dele para ajudá-la, tanto na recuperação quanto nos cuidados com a filha do casal. Mesmo com o rosto bem roxo, a pequena não se assustou. “As pessoas vinham me visitar e ela dizia que a mamãe tinha feito um narizinho novo”, conta sorrindo.

Também falavam o quanto uma cirurgia era perigosa e ela admite que teve um pouco de medo por ter uma filha. Mas ela havia escolhido os médicos a dedo, checado o Conselho Regional de Medicina e feito todos os exames pré-operatórios. O cirurgião plástico Marco Antônio Venturini explica que, de fato, qualquer cirurgia existe risco. “Mas é um risco muito controlado. Um pré-operatório bem-feito, checando se tem tendência à trombose, ou outras doenças, prevê e minimiza risco. Se tiver uma urina alterada, a gente já não faz. A gente corrige e depois procede”, explica. Além disso, ele afirma que as drogas e técnicas anestésicas estão muito modernas.

Só depois de operada, Joyce sentiu-se confortável para mostrar o corpo antes e foi quando as pessoas entenderam melhor a necessidade da plástica. Depois de verem o resultado do nariz, também se impressionaram e concordaram que foi uma boa decisão. Por isso, ela aconselha a não levar em conta a opinião de outras pessoas em relação à cirurgia.


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  • Daniel Abem:
    Daniel Abem: "Difícil é ver as fotos antigas. O único arrependimento é não ter feito antes" Foto: Arquivo pessoal
  • Lucas Lucco usou as redes sociais para dizer que tinha passado por uma harmonização facial e havia se arrependido
    Lucas Lucco usou as redes sociais para dizer que tinha passado por uma harmonização facial e havia se arrependido Foto: Reprodução do Instagram
  • Joyce Catharine antes e depois das plásticas
    Joyce Catharine antes e depois das plásticas Foto: Reprodução do Instagram
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