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Amor felino: por que os humanos gostam de ter os gatos como companhia

Durante a quarentena, cresceu a procura por adoção de gatos. Independentes, eles fazem companhia aos tutores, mas não dão tanto trabalho

Para fugir da solidão da quarentena, muita gente recorreu à adoção de um animal. E o campeão da preferência entre os brasilienses, segundo pesquisa realizada pela Royal Canin, foram os gatos. O levantamento, feito em agosto, mostra que cresceu em 30% o número de lares da capital que, agora, têm um felino.

A preferência por felinos é uma tendência em todo o país. Como o gato é um animal muito independente, que não precisa ser levado para passear diariamente, não dá tanto trabalho quanto os cachorros na hora de fazer as necessidades e é mais tranquilo, combina perfeitamente com as rotinas aceleradas dos tutores e com os ambientes pequenos. “O aumento da presença dos felinos nos lares brasileiros é um fator que vem acontecendo nos últimos anos”, diz a médica veterinária Natalia Lopes, gerente na área de comunicação e assuntos científicos da empresa Royal Canin Brasil.

Segundo ela, embora o gato tenha entrado no processo de domesticação muito depois dos cães, houve uma mudança nos últimos anos. “Tanto a situação social quanto econômica e urbana contribuíram para que mais gatos sejam adotados”, acredita Natalia. E ela justifica: “Há cada vez mais lares com uma só pessoa, casais com menos intenção de ter filhos. Junto a isso, a verticalização e o fato de o gato ser um animal facilmente adaptável a ambientes pequenos são alguns fatores que fazem com que a população de felinos cresça no Brasil.”

Orcileni Arruda de Carvalho, 55, fundadora do Abrigo Flora e Fauna, localizado próximo ao Gama, explica que um dos maiores problemas entre os tutores e os gatos é a dificuldade de entender a natureza do felino com o passar do tempo. “Eles têm um gatinho lindo, maravilhoso enquanto ainda é filhotinho. De repente, ele cresce e fica rebelde, marcando território em todos os lugares, subindo nos locais que não querem que suba”, comenta a dona do abrigo.

Arquivo pessoal - Orcileni Arruda de Carvalho reforça que, na hora de adotar um gatinho, é importante entender a natureza do animal

Na hora de adotar, a preferência ainda é por filhotes. E, quando adultos, Orcileni trabalha da seguinte maneira: apresenta os gatos mais calmos e tranquilos para os futuros tutores.

Adoção responsável

A psicóloga Cecília Prado, 35, é uma das fundadoras da ONG Clube do Gato no Distrito Federal. O projeto surgiu para tentar mudar a imagem de que o felino é um animal traiçoeiro e para provar que, na verdade, ele é um bom companheiro. Ela conta que houve um aumento de 125% de pessoas interessadas em adotar um gatinho entre março e maio de 2020, se comparado ao mesmo período 2019.

Arquivo pessoal - Cecília Prado criou a ONG Clube do Gato para desmistificar a ideia de que o felino é um animal traiçoeiro

Mesmo com os abrigos e ONGs cheios, a procura maior é por filhotes. Além de serem muito fofos quando pequenos, há também a questão de que a família vai acompanhar todo o crescimento do felino e acostumá-lo desde novo com o ambiente. Segundo a psicóloga, a grande dificuldade no momento da adoção é em relação aos gatos adultos.

Ao contrário do que muitos pensam, gatos com alguma doença ou deficiência têm sido procurados para adoção. Durante o isolamento social, a gestora de recursos públicos Ana Sena, 40, adotou dois gatinhos: Amora e Bagheera. Amora não tem um olho e é portadora do vírus FeLV, e Bagheera sofre da mesma condição, que é uma leucemia exclusiva dos gatos.

Amor à primeira vista

Arquivo Pessoal - Com Malik, Stephanie de Paulo realizou, durante a quarentena, o sonho de ter um gato

Ana comenta que adotou Amora por impulso. “Uma amiga que oferece lar temporário a gatos resgatados me mostrou a Amora e eu enlouqueci. Foi amor à primeira vista. Fulminante”, afirmou. “Acabei adotando no mesmo dia, sem nem pensar.”

Apesar de ambos os felinos serem FeLV positivo, ela não se importou. O único cuidado na hora de adotar algum outro gato é que ele também tenha a doença. Essa recomendação é para que não passe o vírus, já que é transmitido por mordida, contato com urina, saliva ou fezes do animal infectado.

A gestora cuida diariamente dos dois com as medicações necessárias para aumentar a imunidade dos animais, que é mais baixa. Eles também necessitam de uma ração de excelente qualidade, e os tutores precisam estar sempre em alerta se os pets apresentarem falta de apetite ou diarreia. “Qualquer sintoma desses pode representar uma ameaça à saúde deles”, conta Ana. “Fiquei feliz em saber que dei oportunidade de adoção aos gatinhos que teriam maior dificuldade para serem adotados.”

A estudante de línguas estrangeiras aplicadas da Universidade de Brasília(UnB) Stephanie de Paulo, 21, adotou o Malik, seu primeiro gato, em outubro. Ela já tinha quatro cadelas e era um sonho ter um gatinho, desejo realizado durante a quarentena. A parte mais complicada tem sido socializar todos os pets. “Em relação à minha família, está sendo ótima. Todos aqui gostaram dele, mesmo não me apoiando no princípio”, comenta a estudante.

Antes de adotar

A médica veterinária Natalia Lopes avisa que é importante tomar cuidado no momento da adoção. “Tem de ser algo planejado. A gente fala muito sobre a posse responsável dos animais, principalmente quando está chegando o Natal. Os pets não são presentes para você dar em momento de euforia. Deve ser uma aquisição planejada e consciente.”

Entre outras precauções, é de extrema importância que o adotante saiba onde vai ser a casinha do pet, avalie se tem condições financeiras de arcar com alimentação, saúde e lazer do felino e, se morar em apartamento, coloque grades e telas para evitar a queda dos animais.

Mesmo que o gatinho não tenha apresentado nenhum sinal de doenças, faça checapes regulares para garantir que ele esteja saudável. E, por fim, mantenha as vacinas de raiva, fiv e FeLV em dia.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
 

Arquivo Pessoal - Com Malik, Stephanie de Paulo realizou, durante a quarentena, o sonho de ter um gato
Arquivo pessoal - Cecília Prado criou a ONG Clube do Gato para desmistificar a ideia de que o felino é um animal traiçoeiro
Arquivo pessoal - Orcileni Arruda de Carvalho reforça que, na hora de adotar um gatinho, é importante entender a natureza do animal