Na capital federal dos anos 1980, o movimento Rock Brasília sacudiu a juventude local e tomou conta de todo o país, com bandas emblemáticas, como Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial, Obina Shock, Detrito Federal, entre tantas outras. O movimento foi além da música e se espalhou por diversas áreas, como teatro, cinema, literatura, dança e artes plásticas, despertando o interesse do Brasil e do mundo sobre o que os jovens da capital brasileira estavam fazendo em plena ditadura militar.
Os fotógrafos Nick Elmoor (Nicolau) e Ricardo Junqueira (Bolinha) eram amigos de praticamente todas as turmas da cidade e registraram os bastidores desse momento tão importante, que, carinhosamente, batizaram de Pós-New, ampliando para a década o conceito divertido de “mais novo que o novo”, que se autodeclararam lá atrás — eles eram a Pós-New Fotografia.
O fato é que arte e a política andam juntas, e a juventude brasiliense sabia bem disso: eram adolescentes vindos de todos os cantos do Brasil e nascidos em famílias de diferentes vertentes ideológicas, mas que tinham em comum a sede por novidades e liberdade — tão típica dos jovens em qualquer parte do planeta.
Esses registros, que ficaram guardados durante 30 anos, estão prestes a se transformar no livro Pós-New Brasília 1981-1989. A Biografia fotográfica de um tempo que não foi perdido, com 200 páginas de fotos icônicas de uma época. “Não tínhamos acesso aos grandes shows da música pop, não tínhamos lugares para expor nossas fotografias, não existia espaço para a publicação dos livros, então os artistas se viravam e faziam por conta própria. Todo mundo junto, com o espírito punk do faça você mesmo, sendo vivido em plenitude”, afirma Nick Elmoor, autor do projeto.
E foi agora, no isolamento social, imposto pela pandemia, neste estranho ano de 2020, que o sentimento do “vamos nos juntar e fazer acontecer” ressurgiu com toda a força, entre esses jovens senhores e senhoras que viveram os anos 1980 por aqui. E, para que o livro se torne realidade, foi lançado na sexta-feira 13 (data bastante auspiciosa em se tratando de artistas gestados num clima punk) um crowfounding, na plataforma digital Catarse, para viabilizar a impressão da obra.
Com essa intensa energia e com o auxílio das redes sociais, aliadas fundamentais a favor da causa, vídeos foram gravados por diversos artistas, como eu e meu parceiro de Casseta e Planeta Helio de La Pena, os músicos André Mueller e Philippe Seabra, da Plebe, a jornalista Ana Paula Padrão, os geniais humoristas do Os Melhores do Mundo e outros simpatizantes do projeto do livro.
Esse flashback da contracultura que surgiu tão espontaneamente, em meio ao caos político que vivíamos, chega num momento em que o mundo comemora a eleição de Kamala, primeira mulher negra, descendente de asiáticos, na vice-presidência dos EUA.
E, mesmo no Brasil, onde a cultura anda tão relegada a segundo plano, acende-se a esperança por dias melhores.
O livro prova, em belas imagens, que a geração dos anos 1980 “não foi tempo perdido”, como disse Renato Russo, e que o tempo de sonhar é sempre.
O livro ganhará vida por meio da página do Catarse, https://www.catarse.me/posnew, de 13 de novembro a 31 de dezembro de 2020, e com várias possibilidades de apoio — cada “lote” proporciona uma recompensa diferente. Colabore você também para que a biografia da nossa cidade e dos nossos movimentos culturais seja escrita.
Esta semana, minha parceira da série feita a quatro mãos com jovens pensadores é Katia Turra, jornalista da Tátika Comunicação e amiga dos tempos de adolescência nos anos 1980.