Ao passar mais tempo em casa por causa da pandemia, muitas famílias começaram a prestar atenção na quantidade de lixo produzida e a buscar alternativas para diminuir o impacto ambiental negativo. Ao mesmo tempo, o isolamento aflorou em muitos a vontade de mexer com a terra. O cultivo de hortas, árvores, mudas e vasos ornamentais tornou-se uma espécie de terapia. Plantar e conviver com a natureza, mesmo que sejam pequenos vasos de suculentas, têm efeitos benéficos para a mente e o corpo.
A compostagem une as duas práticas — já que o descarte correto de resíduos orgânicos diminui a quantidade de lixo e permite a produção de adubo. Marcelo Lima Rodrigues, dono da empresa MC Agroecológica e especialista em compostagem, garante que, desde o início do isolamento social, houve um grande aumento na procura por minhocas e caixas de compostagem.
Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e desenvolvedor de tecnologias relacionadas à compostagem, Marco Antônio de Almeida Leal também notou um interesse maior na compostagem — o curso oferecido pela Embrapa fez bastante sucesso desde o início do isolamento — e ressalta a importância da técnica para a natureza.
Para o pesquisador, nosso modelo de consumo e produção caminha para se tornar insustentável, e o retorno dos resíduos orgânicos para o solo é uma forma de fazer com que esses nutrientes voltem ao seu lugar de origem, fechando um ciclo natural. “Hoje, vivemos uma via de mão única: esses nutrientes saem do solo e se concentram na cidade, gerando uma deficiência de nutrientes na produção e a poluição ambiental nos centros urbanos. A compostagem é uma das formas de reverter esses problemas, mesmo que em pequena escala”, afirma.
A facilidade de fazer compostagem em maior ou menor volume, tanto em casas quanto em apartamentos, com certeza, ajuda na popularidade da técnica. É possível comprar uma composteira pronta ou fazer a sua a partir do zero. Existe, também, a opção de usar ou não minhocas vivas no processo de decomposição.
De pais pra filhos
A família do bancário Adriano Arruda Alves, 39 anos, é adepta da compostagem com minhocas. Há cerca de 10 anos, ele e a mulher, a bancária Márcia Cristina Lopes Motta, 40, moravam em um espaço menor e tinham uma pequena composteira. Depois de alguns anos e dificuldades com as minhocas, o casal acabou desistindo. “Nós nos mudamos e eu já não estava sabendo manejar muito bem as minhocas. Deixamos de lado”, conta Adriano.
O bancário sempre teve preocupação com o meio ambiente e, durante o isolamento, houve um grande aumento na quantidade de lixo orgânico produzido pela família, que, agora, tem quatro integrantes. “Aquele desperdício dos resíduos estava me incomodando bastante e, com o tempo a mais dentro de casa, podíamos recomeçar a compostagem”, conta.
Buscando ensinar os filhos, Isabela e Marco Aurélio Alves, de 9 e 7 anos, a cuidar do planeta e aproveitando para adubar as árvores frutíferas do quintal da família, Adriano comprou uma nova composteira e começou a aproveitar o lixo orgânico de forma saudável.
“Tentamos reduzir ao máximo nosso impacto. Fazemos coleta da água do banho e da máquina de lavar para reaproveitar na descarga e na lavagem da área externa, por exemplo. Essa consciência faz parte da nossa família, e a compostagem se encaixa muito bem nisso”, completa Adriano.
Nada de minhocas
Marco Antônio explica que a compostagem é uma grande aliada do solo — quanto mais húmus, matéria resultante da decomposição de plantas mortas, folhas e lixo orgânico, maior a fertilidade da terra. As minhocas ajudam e aceleram a formação de húmus, mas é possível ocorrer sem elas. No caso das composteiras, as minhocas melhoram a eficiência e diminuem consideravelmente o tempo necessário para produzir adubo — em cerca de 30 dias já há produção.
Mas quem preferir pode fazer a compostagem sem as minhocas. Nesse caso, é ainda mais necessário ficar atento ao equilíbrio da matéria-prima. A proporção entre lixo orgânico, rico em nitrogênio, e material seco, como serragem e folhas secas, rico em carbono, é ainda mais importante.
A compostagem pode ser feita no próprio solo, em um canto no quintal, ou em um recipiente que reúna o material. Para começar, deve ser feita a mistura entre serragem, folhas secas, grama aparada e restos de verduras e legumes. “É uma boa opção, mas é melhor para quem tem quintal ou espaço para deixar a decomposição acontecer de forma mais lenta. Para apartamentos, sugiro as caixas de compostagem pequenas com minhocas”, ensina Marco Antônio.
E o chorume?
O chorume orgânico também é saudável para o solo, horta ou plantas envasadas. O líquido pode ser guardado em uma garrafa pet e deve ser diluído em água em uma proporção de 10 partes de água para uma de chorume. A solução pode ser usada como adubo a cada 15 dias.
Cuidados importantes
As caixas devem ser escuras e não podem ser transparentes. As minhocas são extremamente sensíveis à luz e podem morrer.
Não deposite nada de origem animal na composteira — nenhum tipo de proteína, laticínio ou ossos.
Restos do prato, como comida temperada, também devem ser evitados.
Cascas e frutas cítricas, como laranja e limão, também não podem ser colocados na composteira com minhocas. A acidez prejudica os animais.
Não coloque as minhocas em terra — a cama das minhocas deve sempre ser feita de substrato.
Minha composteira
O especialista em compostagem Marcelo Lima Rodrigues ressalta que o processo não é difícil, porém, antes de começar, é necessário se informar e buscar as orientações corretas. “Muitas pessoas desistem porque fazem de forma incorreta e acabam matando as minhocas”, explica.
Pode ser feita em baldes (com tampa) ou caixas de plástico, como as organizadoras.
São necessárias três caixas. A primeira, de cima para baixo, é onde vai ser depositado o lixo orgânico. A segunda é onde são colocadas as minhocas e o substrato.
A primeira e a segunda caixas precisam ter vários furinhos, tanto para que o chorume possa escorrer, quanto para a ventilação, necessária para o processo de compostagem.
A terceira caixa, que fica por baixo, tem a função de coletar o líquido que será extraído no processo de decomposição.
Ao iniciar o processo, as minhocas devem ser colocadas na caixa do meio apenas com substrato, chamado de cama das minhocas. Ali, elas passam 30 dias se alimentando.
Durantes esse mês, os resíduos orgânicos devem ser colocados na caixa de cima, onde começa o processo de decomposição. Por cima, é preciso pôr um material seco, como palha de arroz, serragem ou folhas. Ele vai cobrir a matéria orgânica, retendo o mau cheiro e ajudando no processo de decomposição.
Depois dos 30 dias, o lixo da cozinha se transforma em matéria orgânica e é hora de transferir as minhocas da segunda para a primeira caixa e inverter as posições das duas caixas.
Dessa forma, as minhocas passam para a primeira caixa, onde já tem matéria orgânica decomposta para continuar se alimentando e produzindo húmus.
O material da caixa do meio, onde estavam as minhocas, transformou-se em húmus e pode ser usado para a adubação do solo.
A caixa onde estava o húmus fica vazia e é colocada em cima. E a nova caixa com as minhocas desce para a posição do meio.
O processo deve ser repetido uma vez por mês.
Para facilitar a transferência das minhocas, pode ser usada uma rede de sombrite, uma tela que retém o húmus e permite que as minhocas passem.
Na terceira caixa, o líquido resultante do processo vai se acumular e pode ser removido de quinzenalmente.
Adriano, Márcia e os filhos, Isabela e Marco Aurélio, adotaram a compostagem durante o isolamento social
Composteira com suporte, da MC Agroecológica (preço sob consulta). Pode ser encontrada no site mc-agroecologica.negocio.site
Composteira, da Casalógica (preço sob consulta). Pode ser encontrada no site casologica.com.br