A escalada é um esporte que remete à prática de conquista de montanha, de explorar áreas desconhecidas. Segundo a Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE), a origem dessa modalidade é incerta, pois há registros de grupos de escaladores em regiões montanhosas por diversas partes do mundo ao mesmo tempo. A modalidade esportiva teve início na segunda metade do século 19 — e as primeiras competições ocorreram nos anos 1980.
As Olimpíadas que aconteceriam este ano, em Tóquio, adiadas para 2021 devido à pandemia do novo coronavírus, seriam a estreia da escalada como um esporte olímpico. Durante as competições, haveria três modalidades combinadas: boulder, dificuldade e velocidade.
O empresário e professor Davi Fantino, 37 anos, explica que falar sobre escalada significa falar sobre técnicas de ascensão. “A gente está se referindo a ascender uma determinada face de uma cadeia rochosa. Existem várias modalidades dentro da escalada, todas elas precisam de equipamento, mas algumas o utilizam como uma forma de ajudar a subir.”
Ele cita como exemplo a escalada no gelo, na qual são usados os martelinhos, aquelas picaretas para furar o gelo, que são transformados em ponto de apoio para puxar. “Esse tipo de escalada, chamamos artificial. Há outras em que não utilizam equipamento para ascender, os equipamentos estão lá apenas para proteger. Essa é a escalada livre”, detalha.
A escalada em bouldering é feita em blocos pequenos, de três a quatro metros de altura, e não usa corda porque a altura é mais baixa. O equipamento de segurança é o colchão móvel, a sapatilha e o próprio corpo. Demanda força do escalador. É uma modalidade muito difícil. “Já que é baixa e não tem tanto risco, a gente compensa isso com técnicas de ascensão bem complicadas e difíceis de serem atendidas”, conta Davi.
Há também a escalada esportiva, na qual você usa corda e escala paredes de trinta a sessenta metros de altura. Os equipamentos, como a corda, estão lá apenas para proteger o escalador de uma eventual queda. A ideia é subir o paredão usando apenas a parede.
As outras duas modalidades que seriam apresentadas nos jogos olímpicos seriam a disputa de dificuldade (lead), feita em dupla — ganha quem for mais alto na parede de 15 metros, dentro de um tempo fixo, e tem a corda para segurança. Nas competições de velocidade (speed), são dois competidores disputando para ver quem consegue bater primeiro no botão que fica no topo da parede, que tem uma média de 15 metros de altura.
Exercício completo
Hoje, a escalada é praticada em muros de academias, ambiente seguro, com quedas protegidas por colchão, além de ser uma atividade bastante divertida e indicada para todas as idades. “Tem todos os níveis de dificuldade, então até pessoas sedentárias conseguem fazer as ascensões mais fáceis. Atende a qualquer idade — a gente tem alunos mais velhos e jovens. Também pode ser praticada por pessoas com deficiência física — uma das nossas atletas não tem um dos braços”, completa Davi.
Em 2013, a escalada foi eleita pela revista Forbes como a terceira prática desportiva mais saudável, por combinar força e resistência muscular, resistência cardiorrespiratória, flexibilidade, alto gasto calórico e baixo risco de lesão. Davi completa que é uma atividade que exige muito das articulações dos quadris e dos ombros.
Mayron Martins Ricarte, artista visual, 29 anos, sempre gostou de esporte. Escala há pouco mais de um ano. E diz que os benefícios que ela trouxe para a sua vida vão além do físico. “Você precisa ler o caminho e, ao mesmo tempo, trabalhar sua criatividade para cumprir o percurso.Também tem a questão do equilíbrio e da ativação de músculos que, dificilmente, outros esportes vão trabalhar, principalmente a força dos dedos.”
Trabalhando corpo e mente
Davi Fantino escala há 18 anos, foi amor à primeira vista. Ele conta que começou porque achava academia muito chato e descobriu nesse esporte formas de bem-estar físico e mental. “É uma atividade muito complexa, que estimula de diversas formas. Tem uma questão física, mental e estratégica. Às vezes, você está fazendo uma ascensão muito difícil, que acha que não vai conseguir, e aí tem de lutar por aquilo.”
O professor explica que a escalada é um esporte muito democrático, que valoriza a inteligência. “Tem exemplos de campeões mundiais que são baixos, altos, superfortes, outros bem magrinhos. É uma prática que permite incorporar as suas características, desenvolver técnicas que são só suas no final das contas”, pontua. Davi é um dos fundadores da academia de escalada e parkour Eleva (@eleva.escalada).
Aprendendo a levantar
A estudante Rafaela Queiroga, 22 anos, escala há um ano e três meses. É fã de diversas modalidades de esporte. Ela explica que acompanhava a escalada pela tevê, mas não sabia que era tão acessível. “Um dia, estava na faculdade e um amigo comentou que estava formando um grupo para popularizar a escalada, chamado Cerrado Climb.” Esse foi o primeiro contato dela com o esporte.
Atualmente, Rafa trabalha como instrutora e route setter junior — pessoa que cria rotas, imagina movimentações e desenvolve percursos para outras escalarem, seja em academias e treinos, seja em campeonatos. “Não é só montar uma linha. É criar uma arte e torná-la atraente, é lidar com emoções, com críticas, mas sempre pensando em trazer novas experiências e diversão às pessoas”, explica.
O conselho que ela dá para quem quer começar a escalar é ter coragem. “Muitas vezes, só não conseguimos cadenar (completar a linha que nos propomos a subir) porque o medo e o pensamento nos bloqueiam, então vá e se divirta. Se não conhecer ninguém que escale e possa te levar para a pedra, procure uma academia de escalada.”
Ela conta os benefícios que o esporte trouxe para o corpo. “A escalada me trouxe muita noção corporal, uma conexão e evolução de movimentação diferente. Fui aprendendo a ativar músculos e regiões do corpo que eu não tinha nem noção de que era possível.” Rafa explica que o esporte a cativou também pelo lado emocional. “Quando estamos escalando, ela nos traz ao momento presente, uma espécie de meditação enquanto pratica. É preciso prestar atenção a cada movimento, cada músculo que você ativa — 99% da escalada é queda, assim nós vamos aprendendo que temos de insistir muito e cair muitas vezes para aprender o caminho certo.”
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte