Assim como os seres humanos, é comum que cães e gatos desenvolvam verminoses ao longo da vida. Durante o contato com diversos ambientes — em casa, nas áreas de convivência coletiva ou mesmo nos rotineiros passeios —, é possível que os pets tenham contato direto ou indireto com animais contaminados e adquiram algum parasita. Por isso, é importante estar atento aos sinais da doença que, em casos mais graves, pode levar a óbito.
A médica veterinária Daniela Baccarin, gerente de produtos pet da MSD Saúde Animal, explica que as verminoses podem ser internas e acometem órgãos como o intestino, ou externas, como os ectoparasitas, pulgas e carrapatos. “Esses vermes e parasitas colocam em riscos os pets e também os humanos”, diz. Patologias que acometem animais também podem ser contraídas por humanos na ingestão de água ou alimentos contaminados, por exemplo.
Quando um animal está infestado por vermes, libera ovos de parasitas em suas fezes e dá início a um possível ciclo de contaminação. “Um animal sadio, ao ter contato com esses ovos, ingerindo ou até inalando-os, também passa a ser parasitado. Em alguns casos, os vermes podem ser transmitidos aos pets por meio de carne contaminada”, afirma Élida Patricia Cunha Ribeiro, médica veterinária e proprietária de clínica.
Entre os sintomas comuns de verminoses estão diarreia, vômito, apatia, anemia, coceira intensa, perda de peso ou pelo, diminuição do apetite, aparecimento de pontos avermelhados na pele, entre outros. Os casos mais severos podem ocasionar até obstruções de vasos sanguíneos. O importante é que, a qualquer movimento estranho do animal, o tutor leve-o para o veterinário.
Tudo começou com a posição de prece que a golden retriever Malu Lopes, 3 anos, fazia. É normal que cachorros deitem a parte dianteira do corpo e levantem o bumbum ao se espreguiçar, mas a tutora Nathália Lopes, 31, empresária, percebeu que a frequência e o tempo na posição estavam maiores. “Foi o que me chamou a atenção. Falei com a veterinária e ela disse que poderia ser um desconforto abdominal, provavelmente causado pela gastrite que já tinha”, explica. Depois, vieram alguns episódios de vômitos e regurgitação, apatia e dificuldade de deglutição. O que os tutores não esperavam é que o diagnóstico seria uma grave verminose, a espirocercose.
O achado do parasita foi possível devido ao exame de endoscopia, solicitado pela veterinária. “É um verme de difícil diagnóstico e é mais comumente encontrado em achados de necropsia”, afirma a Élida Patrícia. A morte súbita é um dos risco da verminose ao organismo canino e passou a ser a preocupação dos tutores.
“Em um primeiro momento, não consegui entender, pois recebi a mensagem pelo telefone e tive que acalmar minha esposa. Finalizei a ligação e já fui pesquisar se havia risco de morte e, para me deixar mais preocupado, só havia relatos disso”, relembra o arquiteto Marcelo Lopes, 29.
Mas, para a felicidade da família, o destino de Malu reservava ótimas notícias. Com rápido diagnóstico, cuidados por parte dos tutores e intenso acompanhamento médico veterinário, ela tem se recuperado da espirocercose. Como marcas da patologia, ficaram uma gastrite agravada pelo verme, inflamação no intestino — provavelmente causada pela baixa imunidade e pelo tratamento mais agressivo — e 50% do esôfago comprometido, local onde o parasita se instalou.
Tratamento
No último fim de semana, a médica veterinária Élida Patricia e a tutora Nathália Lopes fizeram uma live no perfil da clínica DOGGATO (@doggatopet) para compartilhar informações sobre a espirocercose, diagnóstico e tratamento de Malu. Uma das alternativas para conter a patologia seria a cirurgia, mas, devido aos riscos da intervenção invasiva e do quadro da paciente, a melhor opção seria o tratamento com medicações. Para auxiliar nessa fase, o médico veterinário Pedro Ilha passou a integrar a equipe e acompanhar o caso.
O tratamento de Malu é longo e específico. As imagens dos últimos exames mostram melhora, mas as medicações continuarão até fevereiro para concluir os cinco meses prescritos. Além disso, uma alimentação específica foi indicada. “Ela vem respondendo bem ao tratamento e espero que em breve esteja completamente curada”, afirma a veterinária.
Ela explica que os medicamentos para verminoses, disponíveis no mercado, são popularmente conhecidos como vermífugos e faz um alerta sobre o uso: “É recomendado o uso quando há a presença da verminose, por isso a importância de ficar atento aos sinais do pet e realizar, com certa frequência, exames de fezes nos animais.”
Segundo Daniela Baccarin, há tratamentos para as diferentes verminoses e o médico veterinário é a melhor pessoa para indicar e fazer o uso dos medicamentos corretos. “No entanto, falamos que as medidas preventivas, como o uso de produtos antiparasitas, são a melhor solução e também mais barato do que um tratamento”, diz.
Cuidados especiais
Para evitar contaminação ou recontaminação com verminoses, alguns cuidados são fundamentais. Élida Patrícia indica manter a água sempre limpa, o ambiente bem higienizado e fazer exames de fezes de rotina para garantir que não há sinal de parasitas nos pets. Recolher as fezes em casa e na rua também é indispensável para quebrar novos ciclos de contaminação.
Pulgas e carrapatos também transmitem patologias, por isso Daniela Baccarin indica selecionar produtos de eficácia duradoura e rápida ação para matá-los antes que coloquem ovos e evitar, desta forma, nova contaminação desses parasitas.
No caso de tutores de pets que apresentam quadro de verminose no momento, torna-se ainda mais importante manter os cuidados de higiene da casa e lavar sempre as mãos para manter o organismo longe dos parasitas.
Verminoses comuns nos pets
Ancilostomose — Vermes pequenos, de coloração acinzentada, que se alimentam de sangue das paredes intestinais do hospedeiro. Pode infectar cães e gatos. Os principais sintomas são fezes escuras, anemia, emagrecimento e, em casos crônicos, pode levar o animal a óbito. Esses vermes também podem contaminar o homem. Nos humanos, é conhecida como “bicho geográfico”.
Toxocara canis e toxocara cati — Entre os vermes cilíndricos que parasitam o intestinos de cães e gatos, o toxocara é o mais frequente e, por vezes, podem ser vistos com facilidade nas fezes ou no vômito dos animais parasitados — já que apresentam comprimento de, em média, 15cm. Essa patologia afeta órgãos como olhos, pulmões, fígado, rins e cérebro. Os sintomas mais comuns são cansaço excessivo, perda de peso, anemia e distensão abdominal. A toxocaríase é também uma zoonose, portanto, pode ser transmitida ao ser humano, sendo conhecida popularmente como larva migrans visceral quando os acomete.
Dipilidiose — Pode acometer tanto cães quanto gatos e o contágio ocorre a partir da ingestão de pulgas. Os sintomas mais comuns são prurido — ou coceira — anal, apatia, diarreia, retardo no crescimento, no caso de filhotes, quando há uma grande infestação. Nas fezes podem ser observados pontos brancos que se assemelham a grãos de arroz. O ser humano também pode ser acidentalmente acometido.
Giárdia — Zoonose causada pela ingestão de protozoários presentes em fezes, alimentos ou água contaminada. Seu principal sintoma é a diarreia crônica, que pode levar à desidratação. Vômitos e flatulências também podem estar presentes. Acomete principalmente filhotes de cães e gatos.
Dirofilariose — Verminose transmitida por picada de mosquito infectado. O parasita é conhecido como verme do coração, uma vez que se aloja nesse órgão vital, causando lesões e complicações. Entre os sintomas estão dificuldade para respirar, insuficiência cardíaca, alterações hepáticas e hipertensão. O hospedeiro comum é o cão, mas também pode infectar gatos e, em situações mais raras, os humanos.
Fontes: as médicas veterinárias Élida Patricia Cunha Ribeiro e Daniela Baccarin
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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