Crônica da Revista

Males que se transformam em bem

O criador do prêmio Nobel buscava uma saída para a culpa danada que devia atordoar suas noites de sono. Alfred Nobel havia inventado a dinamite e levado um número enorme de pessoas à morte, mas, quando decidiu destinar sua fortuna para grandes cientistas, encontrou a redenção.

Em 2020, o prêmio já agraciou, no quesito medicina, o trio de cientistas que descobriu o vírus da hepatite C. Na categoria física, o Nobel saiu, na semana passada, para um grupo que estuda os buracos negros — entre os cientistas, está uma mulher extraordinária chamada Andrea Ghez. Extraordinária mesmo, já que apenas 5% das premiações feitas desde o início do prêmio, em 1901, foram parar nas mãos delas. Isso no geral, pois, na física, os números são ainda menores: Andrea é a quarta mulher em toda a história a ganhar, ao lado dos outros 212 homens, a concorrida premiação.

Medicina, física, química, literatura, paz e economia são as categorias gerais do Nobel. Este ano, apenas um brasileiro, da etnia Caiapó, Raoni Metuktire, está concorrendo a receber a honraria na categoria paz. O cacique Raoni, como é internacionalmente conhecido, tem 90 anos e ficou viúvo recentemente.

Nos anos 1980, fez um tour com o cantor Sting. Os dois rodaram o mundo falando em preservação da Amazônia e demarcação de terras. Parece que o tempo voou. No entanto, os direitos indígenas ainda não são garantidos!

Vamos torcer para que a situação dos povos indígenas ganhe visibilidade com a indicação e que as violências praticadas contra eles cessem o quanto antes. E minha projeção otimista é a de que as mulheres cheguem, pelo menos, à metade do número de prêmios nos próximos anos. Amém!

Interrompi a série de parcerias, pois um brasileiro indicado ao prêmio Nobel da paz merecia uma crônica! Mas na semana que vem, retornamos aos jovens pensadores.