Decoração

Como aproveitar a arte feita pelos filhos na decoração da casa

Especialistas dão dicas de com expor as pinturas, as esculturas ou os desenhos feitos pelas crianças. Além de levar personalidade para o lar, elas se sentem valorizadas

A infância é uma fase repleta de experimentos sensoriais e de criatividade à flor da pele. Além das brincadeiras e dos jogos, as produções artísticas e os projetos escolares são atividades comuns na rotina dos pequenos. Mas você sabia que eles podem ocupar um espaço especial em casa — e, de quebra, resultar em uma linda decoração?

Segundo as sócias e proprietárias da Lez Arquitetura, Gabriella Chiarelli e Marianna Resende, o uso de elementos feitos pelas crianças é uma forma de trazer mais sentimento ao espaço e tornar o projeto afetivo. “O trabalho manual e a inserção de peças feitas com carinho resultam em um ambiente fraterno e cheio de significado”, afirma Gabriella. Para elas, a arquitetura tem que fazer sentido, por isso procuram conhecer e entender as vivências de cada cliente – inclusive os pequenos.

Juliana Cristina Carvalho Rattes, arquiteta e urbanista, também compartilha da preocupação de conhecer as particularidades dos clientes para proporcionar uma experiência sensorial pensada em seu estilo de vida. “Isso faz parte de um projeto humanizado: as crianças interagem com o ambiente e vice-versa. A versatilidade da arquitetura permite que os projetos artísticos delas harmonizem, sim, com o espaço”, afirma. O arquiteto ou designer de interiores pode conduzir os responsáveis para que eles encontrem a melhor forma de expor as produções dos jovens artistas.

Expressão e criatividade

A artesã e educadora social Joana Darque Bizerra Lima, 47, e sua família resolveram pintar a casa no início da pandemia. Dessa decisão, surgiu a ideia de desenharem e preencherem flores coloridas em uma parede da casa, para trazer alegria para o cômodo. Durante a atividade, ela contou com a parceria do marido e das filhas, Cecília, Isabella e Victoria.

“Não tínhamos muitas cores, pois só saíamos para ir ao mercado, então fomos misturando as disponíveis, e Cecília se encantava cada vez mais. Usamos pincel e buchas para fazer a pintura, e a experiência foi maravilhosa, tanto para nós quanto para elas. Todos estavam felizes, pintando do seu jeito”, explica Joana. O resultado ficou lindo e se tornou o local preferido para Cecília Lima Cortês, 7, brincar, fazer vídeos e alguns tutoriais que posta em seu perfil no Instagram (@ceclimac).

Além da parede que ajudou a pintar, a garota cria os próprios brinquedos, fez máscaras para bonecas, chaveiros de macramê, dispenser de comida e água para gatos e cachorros, casinha de bonecas de papelão, entre outros itens que se tornam detalhes charmosos no lar.

O talento de Cecília, aliás, manifestou-se desde cedo. “Enquanto eu fazia meus artesanatos, ela ficava querendo fazer também. Com 1 ano, ela já queria fazer arte. Eu e o pai dela somos artesãos do PVC, transformamos cano em belíssimas luminárias. Ela foi crescendo, pegando o gosto pela arte e fazendo.” Para a pequena artista ficar feliz, basta papelão, tesoura, cola, fita e tecidos para passar o dia todo criando.

Inspiração em filme

Arquivo pessoal - Os irmãos Olga e Salomão pintaram as paredes do quarto

Olga, 4, e Salomão Oliveira Ramirez, 8, também puderam fazer arte durante o isolamento social. A inspiração surgiu do filme A menina Índigo. “As crianças, na hora, falaram que queriam pintar o apartamento inteiro. Por enquanto, liberei o quarto. Eles se divertiram muito, e o único propósito era esse mesmo. Claro que tive um cuidado de orientar um pouquinho a paleta de cores e escolher os materiais”, explica a mãe, Beatriz Oliveira, 36, servidora pública. A farra foi tanta que todos acabaram pintados com respingos.

Beatriz, que antes da pandemia era empreendedora criativa na área de eventos, explica que inquietude e experimentação combinam com ela. Por isso, o processo criativo dos filhos e as artes em quadrinhos, pinturas temáticas e bagunça com tintas, lantejoulas, fitas e outros materiais sempre foram estimulados e liberados na casa. Para a obra que fizeram na parede e virou uma moldura colorida para a cama, foram usadas tinta guache — por questão de segurança —, glitter e borboletas de papel.

As paredes acabaram virando recordação afetiva de uma noite divertida em família. “Ter um resultado agradável aos meus olhos é só um detalhe. O mais importante é a sensação de pertencimento que eles têm ao entrar no território deles. É uma delícia quando um deles, já deitado, diz algo do tipo: mamãe, ainda cabe um pouco mais de tinta nesse teto.” A servidora descreve como impagável a satisfação das crianças ao perceberem que fizeram tudo com suas próprias mãos.

Quadro de memória afetiva

Arquivo pessoal - As artes feitas por Gustavo e Guilherme são expostos com orgulho pelos pais, Janaina e Giovani Medeiros

A psicóloga Janaina Medeiros, 43, acredita que os filhos Guilherme, 13, e Gustavo Campana Medeiros de Souza, 9, não só gostam de fazer pinturas quanto se sentem bem com o clima de descontração desses momentos. Na casa, eles têm artes feitas há mais de 10 anos, a galeria vai aumentando conforme novos trabalhos chegam. “A maioria é resultado de projetos escolares, mas há telas que fizemos em casa. Também temos algumas artes que são resultado de encontros com uma amiga artista, Ana Maurícia, nos quais fazíamos workshop de pintura em tela com os filhos quando eles ainda eram bem pequenos”, conta.

Em seu lar, a arte passa a ser decoração quando representa algo significativo na história da família. Os quadros dos meninos, além de proporcionarem um ambiente alegre e descontraído ao escritório, cultivam memórias afetivas. A mãe conta que Gustavo e Guilherme demonstraram orgulho de si mesmos quando as primeiras obras foram penduradas, e acredita que essa é uma forma de reconhecer e valorizar o esforço, a autoestima e a criatividade das crianças.

“Meus filhos representam a expressão de um amor indescritível, então ter a arte deles pela casa, representando cada momento do desenvolvimento, deixa o ambiente muito mais aconchegante e cheio de vida. Além das pinturas, gosto de ter quadros que representam as viagens realizadas em cada fase das nossas vidas, assim, temos muitos estímulos visuais para relembrar as coisas boas e proporcionar bem-estar emocional”, afirma a psicóloga.

Dica de especialista

Usar itens feitos pelas crianças nos cômodos é uma forma de integrar os pequenos e fazer com que se sintam parte do espaço. Mas essa não é a única forma de construir projetos pensados neles: “Na Lez, tivemos a oportunidade de conhecer crianças com muita personalidade, fizemos projetos em que o programa de necessidade foi passado por eles”, explica Marianna Resende.

Ela e sua sócia indicam colocar as pinturas das crianças em molduras, para ganharem mais destaque, criar composições e distribuir de forma orgânica pelos cômodos. “Variações de tamanhos e cores ajudam a compor. Brincar com proporções é muito legal. Chegou a hora de tirar o desenho dos pequenos da geladeira.” Caso seja um objeto, o recomendado é colocar em um local de destaque, que receba a incidência de luz. “Prateleiras e estantes são perfeitas.”

Quando Juliana Rattes pensa em quarto de criança, ela imagina um espaço para desenhar e criar. Em um dos projetos que compôs, o casal de clientes sinalizou que queria um local para a família inteira se expressar de forma artística. Ela propôs uma parede pintada em quadro-negro, no hall dos quartinhos dos pequenos.

A tinta de quadro-negro é sua principal dica para quem deseja aplicar projetos dos filhos na decoração de casa. “A vantagem é que ele pode ser apagado várias vezes com água. Outra dica é a aplicação de chapa imantada, que pode ser aplicada em paredes e painéis. Nela, os desenhos e brinquedos podem ser afixados. Outra opção são os quadros brancos, aqueles que, geralmente, utilizam em cursos. Eles são vendidos em chapas, que podem ser aplicadas em paredes, painéis e até portas. As crianças podem desenhar com canetas específicas.”

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

Arquivo pessoal - Os irmãos Olga e Salomão pintaram as paredes do quarto
Arquivo pessoal - As artes feitas por Gustavo e Guilherme são expostos com orgulho pelos pais, Janaina e Giovani Medeiros