Saúde

Casca grossa, mas partida: saiba por que os pés racham

Nos dias mais secos, é comum ocorrer o chamado pé rachado. Mas, quando o problema persiste, pode ser sinal de doenças mais graves

Embora seja motivo de piada para alguns, qualquer pessoa pode sofrer com pés rachados. A época da seca brasiliense predispõe todos ao problema — até crianças. Ainda mais no momento atual, de pandemia e de isolamento social para alguns, em que se passa muito tempo em casa, de chinelo ou mesmo descalço. Isso faz com que mais pessoas tenham esse contratempo.

A situação, além de constrangedora para quem quer usar sapatos abertos, causa dor, pode significar problemas mais sérios e favorece infecções. “Quando se tem uma rachadura no pé, há perda da barreira cutânea. Ela abre portas para a entrada de bactérias e fungos. É o que a gente chama de infecção secundária”, explica a dermatologista Luanna Portela, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Distrito Federal.

Portanto, é preciso prevenir, tratar e ficar de olho, se não melhorar. Nesse caso, é necessário uma avaliação médica. Pode ser que a causa não seja apenas a secura, mas outras doenças. “Psoríase, dermatite de contato e algumas micoses causam descamação”, exemplifica a especialista.

Como acontece

Fatores externos fazem com que a pele do calcanhar fique mais espessa. Alguns deles são:
- Secura
- Andar muito descalço
- Lixar o pé: a prática é uma agressão à pele, que fica mais fina temporariamente, mas pode até agravar o quadro

Outras causas

De tão espessa e dura, a pele começa a ter fissuras, as famosas rachaduras, especialmente se houver:
- Excesso de peso
- Uso de sapatos desconfortáveis
- Uso de sapatos abertos

Tratamento e prevenção

Segundo a dermatologista Luanna Portela, é importante tratar as rachaduras, mesmo que a questão estética não incomode ou que não causem dores, para evitar infecções. As medidas de tratamento coincidem também com a prevenção. Ela recomenda:
- Cuidar da hidratação oral, ou seja, beber muito líquido.
- Cuidar da hidratação tópica, ou seja, usar hidratante nos pés duas vezes ao dia, o que vale também para prevenção. “De preferência após o banho, para melhor absorção do produto”, orienta.
- Usar cremes com ureia e vaselina
- Antes de dormir, passar hidratante e colocar meia ou enrolar os pés com papel filme
- Evitar andar descalço e com sapatos abertos
- Secar bem entre os dedos após o banho. Caso essa seja uma dificuldade, a especialista sugere colocar o vento do secador na temperatura fria. Isso evita fungos
- Se a pele estiver muito espessa, pode ser necessário associar a hidratação a ácido salicílico para melhorar a absorção do hidratante pela pele.

Diagnósticos diferenciais

Caso não melhores em cerca de 30 dias, é importante avaliação médicas, pois é possível que seja:
- Psoríase
- Micose (algumas causam descamação)
- Dermatite de contato, ou seja, alergia ao material de algum sapato. Nesse caso, é possível fazer o teste em casa, parando de usar certos calçados. Segundo Luanna, uma das alergias mais comuns é à borracha

Palavra do especialista

Muitos diagnósticos de problemas hormonais começam por sinais nos pés?
Sim. Inclusive, é muito importante os pacientes, principalmente os mais idosos, os com histórico familiar de diabete e os obesos, na hora do banho, fazerem um exame minuciosos dos pés. Ver se tem lesões neles, entres os dedos, porque isso pode ajudar um diagnóstico de diabetes, sobretudo quando há infecções fúngicas de repetição. Até porque o diabético pode perder um pouco da sensibilidade e não sentir as lesões.

Então, as rachaduras nos calcanhares podem estar associadas a desequilíbrios hormonais?
De certa forma, sim. O hipotiroidismo leva ao ressecamento dos pés. A diabetes predispõe infecções fúngicas, como frieiras, que são as lesões entre os dedos, mina a água, causa hiperuricemia. Então, as rachaduras podem ocorrer com paciente diabéticos. A doença pode desencadear lesões descamativas nos pés.

Quando desconfiar que é mais do que só secura?
Quando tem dores nos dedos, presença de inchaço, principalmente no primeiro dedão, como se fosse uma artrite. Nesse caso, pode ser gota, ou seja, ácido úrico alto. No hipotiroidismo, ocorre ressecamento da pele como um todo, braço, e vemos também edema. Quando a descamação é causada por fungos, tem bolhas, presença de líquido, é um indício indireto de diabetes.

Rafaela Cordeiro Corrêa é endocrinologista da Clínica Simone Neri

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