Intérprete de André em 3%, série da Netflix cuja última temporada estreou em 14 de agosto, Bruno Fagundes espera um futuro para o Brasil muito menos caótico do que o mostrado na trama. O ator orgulha-se de fazer parte do elenco da primeira produção nacional da plataforma de streaming, ainda mais porque, segundo ele, a distopia diverte e também leva o público à reflexão sobre questões políticas “sem ser partidária”.
Três perguntas // Bruno Fagundes
Depois de duas temporadas, fica mais fácil voltar ao personagem?
É um processo mais complexo do que isso, muito artesanal, meticuloso e detalhado. O que fica mais fácil é que há mais intimidade com aquele personagem. A dificuldade é a mesma, senão maior. Você tem que lembrar o que fez nas temporadas anteriores, não pode abandonar o personagem que existiu nas outras temporadas, tem que acrescentar camadas, e isso é um desafio incrível. Ainda mais no caso do André, que “virou a casaca’’, que aprofundou questões mal resolvidas, que está mais agressivo, mais intolerante. Ao mesmo tempo, ele ainda é o André da segunda temporada, que se fragiliza ao ver a irmã, que ficou um ano numa solitária cheia de espelhos. Então, o desafio é maior, mas muito prazeroso.
3% mostra uma divisão social que é muito atual. Qual é a importância de se falar sobre isso?
A série sempre se comprometeu em ser política, mas sem ser panfletária, ela aborda questões políticas e sociais de forma alegórica, mas muito contundente. A série é de ficção científica, mas menos das ciências tecnológicas e mais das ciências sociais. Ela tem muito a ver sobre a questão política atual, polarização, intolerância, agressividade vigente, sobre resolver as coisas na base do grito. A produção foi muito atenta para deixar a série atual, e ao mesmo tempo universal, isso que é incrível. Ela conversa com a situação do nosso país, mas com qualquer regime autoritário, que seja contra a democracia.
Com a pandemia, muitos artistas optaram pela produção remota.
Qual é a lição que fica desse período para a arte?
Acho que a lição pós-pandemia não é para os artistas, é para quem consome a arte. A gente não vai parar, sempre lutamos contra diversas adversidades, por uma maior valorização, espaço, adaptação de linguagens. O que temos visto são os artistas fazendo um esforço desumano para transpor a linguagem para uma situação remota. Sinto muito pelo teatro, logo ele que tem a força na aglomeração, em lotar uma sala com diversas pessoas focadas só no que está acontecendo no palco. Temo que talvez a gente não consiga retomar esse público. A lição que fica é: se você gosta de arte, teatro, museu, cinema, quando isso tudo passar, volte massivamente e incentive a produção artística.