Saúde

Imunização para todas as idades

Muito se fala em manter o calendário de vacinação das crianças em dia, mas adolescentes e adultos também precisam ficar atentos

Manuela Ferraz*
postado em 27/09/2020 08:00
 (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
(crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

As vacinas são poderosas aliadas no combate a doenças e epidemias, e essenciais em todas as fases da vida. Da mesma forma que a imunização em crianças diminui as chances de elas desenvolverem patologias graves, em adolescentes, jovens e adultos continua essencial.

Segundo Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur no Brasil, a vacinação desempenha um papel vital na construção de comunidades saudáveis e produtivas. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que de 2 a 3 milhões de mortes são evitadas anualmente no mundo com a imunização. “Nesse cenário de pandemia, as pessoas têm se esquecido que, além do novo coronavírus, há uma série de agentes infecciosos causadores de outras doenças graves preveníveis. É por meio da imunização que conseguimos controlar e até erradicar algumas dessas doenças.”

Algumas vacinas fundamentais e comumente tomadas na infância, como a antitetânica, precisam ser refeitas periodicamente na adolescência, vida adulta e idade mais avançada para que mantenham a proteção. Então, por que é comum encontrar carteiras de vacinação desatualizadas nesses públicos?

Para Mirian Dal Ben, médica infectologista do Hospital Sírio-Libanês, as mães são supercuidadosas com os filhos e, como crianças pequenas vão frequentemente ao pediatra, não esquecem das vacinas. “Quando chega à vida adulta, ou até a adolescência, acabam descuidando. É frequente vermos jovens e adultos que não têm a carteirinha de vacinação porque perderam ou, quando têm, as doses são restritas às da infância.”

Apesar de o Programa Nacional de Imunização (PNI) brasileiro ser referência, recentes levantamentos mostram queda dos índices de vacinação no Brasil — ficando, em média, em 60% da cobertura —, o que pode trazer problemas de saúde coletiva.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Vacinas para adolescentes (11 a 19 anos) e adultos (20 a 59 anos)

Influenza – gripe

Pode manifestar quadros mais graves em adultos e idosos, mas a imunização é importante para todas as faixas etárias. Deve ser tomada anualmente, uma vez que o vírus da influenza sofre mutações frequentemente. Quando disponível, a vacina influenza 4V é preferível à influenza 3V, por conferir maior cobertura.

A vacina 3V é disponibilizada nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para maiores de 55 anos e grupos de risco de qualquer idade.

Tríplice viral

Tem como objetivo proteger o organismo do sarampo, da caxumba e da rubéola. “Estamos vivendo um surto de sarampo e precisamos de cobertura alta para voltar a eliminar essa doença no país. A caxumba não raramente é motivo de surtos, e a rubéola é uma doença que, antes da vacinação, era causa de doença congênita, em que o bebê nasce com malformações graves”, explica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Até os 12 anos deve-se considerar a aplicação de vacina combinada quádrupla viral, que inclui, também, varicela / SCRV. Para indivíduos com caderneta de vacinação completa, não há evidências que justifiquem uma terceira dose. No entanto, podem ser consideradas situações de risco epidemiológico, como surtos de caxumba e/ou sarampo. Contraindicada para gestantes, e o uso em imunodeprimidos deve ser avaliado pelo médico.

A tríplice viral SCR está disponível nas UBSs para adolescentes e para algumas faixas etárias da vida adulta.

Dupla adulto (dT) e Tríplice Bacteriana Acelular do tipo adulto (dTpa ou dTpa-VIP)

A dT protege da difteria e do tétano, enquanto a dTpa, também, da coqueluche. Mesmo para indivíduos com esquema de vacinação completo, é recomendada dose de reforço, preferencialmente da dTpa, a cada 10 anos. Para não vacinados ou com caderneta básica incompleto são indicadas doses de dT e dTpa. Deve-se considerar antecipar reforço da dTpa contendo o componente pertussis para adolescentes que têm contato com lactentes. A vacina é indicada mesmo para quem teve coqueluche, já que a proteção conferida pela infecção não é permanente. Para indivíduos que pretendem viajar para países nos quais a poliomielite é endêmica, recomenda-se a vacina dTpa combinada a pólio inativada (dTpa-VIP).

Nas UBSs, é possível encontrar dT, disponível para todos, e dTpa, para gestantes e puérperas até 45 dias após o parto.

HPV

Vírus comum, de ampla circulação entre a população. Nos quadros graves, pode causar câncer de boca, de cólon do útero, pênis, vulva ou ânus. Se o esquema de vacinação não foi iniciado, aplicar a vacina o mais rápido possível. Dois tipos estão disponíveis no Brasil: HPV4, para meninas e mulheres de 9 a 45 anos e meninos e homens de 9 a 26 anos, e HPV2, a partir dos 9 anos, para ambos os sexos. Segundo a SBIm, sempre que possível, prefira HPV4 para ampliar a proteção. Indivíduos mesmo que previamente expostos podem ser vacinados.

Nas UBSs, está disponível a vacina HPV4 para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos.

Hepatites A, B ou A e B

Em grande parte dos casos silenciosa, a infecção atinge o fígado, causando alterações leves, moderadas ou graves. Indivíduos não imunizados anteriormente para as hepatites A e B devem fazê-lo o mais rápido possível. A vacina combinada para as hepatites A e B é uma opção e pode substituir a vacinação isolada.

Nas UBSs, está disponível apenas a vacina para hepatite B.

Meningocócicas conjugadas ACWY/C

Existem diferentes tipos de meningite, que levam à inflamação das membranas que revestem cérebro e medula espinhal. Uma das manifestações mais graves é a meningite meningocócica, infecção bacteriana rara e perigosa. Sua principal forma de prevenção é pela vacinação. “Metade dos casos entre 2015 e 2019 ocorreu em indivíduos maiores de 15 anos. Doses de reforço no adolescente são essenciais” explica Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur no Brasil – que, recentemente, lançou a campanha Antes de pegar, melhor vacinar, sobre a importância da vacinação de adolescentes para a prevenção da meningite. Vacinados na infância devem tomar o reforço aos 11 anos ou cinco anos após a última dose. Adolescentes não vacinados: recomendação de duas doses com intervalo de cinco anos. Para adultos, a indicação, assim como a necessidade de reforços, dependerá da situação epidemiológica.

MenACWY está disponível nas UBSs para vacinação de adolescentes de 11 e 12 anos.

Febre amarela

Doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por mosquitos vetores, possui dois ciclos de transmissão: silvestre e urbano. “Hoje, sabemos que a pessoa tem que ter pelo menos uma dose da vacina. O risco está presente no Brasil inteiro e em todas as faixas etárias”, afirma a infectologista Mirian Dal Ben. De acordo com o risco epidemiológico, uma segunda dose pode ser considerada, em especial para aqueles vacinados antes dos 2 anos. Contraindicada para quem está amamentando bebês menores de 6 meses. O uso em imunodeprimidos e gestantes deve ser avaliado pelo médico.

Disponível nas UBSs.

Obs.: todas as vacinas estão disponíveis na rede privada.

Públicos especiais

Adolescentes e adultos com doenças crônicas, com comorbidades ou em outra situação especial podem recorrer aos Centros de Referências para Imunobiológicos Especiais (Crie), que integram o Sistema Único de Saúde (SUS). Para esses grupos, além das vacinas rotineiras, são oferecidos, gratuitamente, produtos imunobiológicos de moderna tecnologia e alto custo. Atualmente, há 51 Cries distribuídos pelo território brasileiro. Com objetivo de divulgar informações sobre os centros e sobre a importância da vacinação para grupos de risco, a SBIm e a empresa farmacêutica Pfizer criaram a campanha #CRIE+proteção recentemente.

Palavra do especialista

Muito se fala sobre a importância da imunização de bebês e crianças. É importante que adolescentes, jovens e adultos se vacinem?

A vacinação não deve se limitar às crianças, mas é normal que as pessoas entendam dessa forma, porque foi assim que começou, sempre foi essa a prioridade. No entanto, hoje, temos várias vacinas disponíveis no SUS, recomendadas pela SBIm para adolescentes, jovens, adultos e idosos. Especialmente jovens e adolescentes ainda têm um índice alto de doenças infecciosas e, geralmente, durante os surtos, são os que mais transmitem e adoecem.

A vacinação é menos frequente entre esses públicos?

Certamente a prática da vacinação da criança é mais conhecida e tem uma adesão maior do que entre adolescentes e adultos. Por exemplo, em relação a vacina Meningocócica C conjugada, que está disponível na rede pública, a cobertura vacinal em adolescentes fica entre 30% e 40%, por falta de informação. A maioria das famílias brasileiras não sabe que existe um calendário específico.

Por que vacinas são oferecidas em intervalos de idades?

Cada vacina têm um público-alvo. Apesar de a maioria das doenças infecciosas poder acontecer em qualquer idade, em termos de saúde pública, existe uma priorização daqueles grupos que mais adoecem, ou daqueles que, além de adoecer, são importantes transmissores. Além disso, crianças, normalmente, precisam de esquemas com mais doses para uma mesma doença, por terem um sistema imune imaturo.

Isabella Ballalai é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

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