No início da pandemia, os holofotes eram todos voltados ao sistema respiratório e circulatório e, aos poucos, os transtornos provocados pelo vírus sobre o sistema nervoso começaram a ser identificados. Os problemas incluem desde a redução do olfato, dificuldades de memória e dores de cabeça até derrames cerebrais, encefalite e estados de confusão mental e psicose. Isso sem falar dos efeitos das mudanças psicossociais do fenômeno pandemia, como depressão, ansiedade e estresse pós-traumático.
É difícil mensurar atualmente a frequência com que o sistema nervoso é afetado durante e após a infecção pelo SARS-CoV-2, já que a maior parte dos estudos publicados até o momento incluem apenas pacientes que foram internados. Sabemos que há uma série de pacientes com manifestações neurológicas que não apresentam qualquer outra queixa. Aqui, temos o cérebro como alvo principal da doença.
Em abril, tivemos a primeira evidência de inchaço e inflamação do cérebro de um paciente afetado pela doença. Tivemos também a demonstração de lesões na bainha de mielina, bem semelhantes às que são encontradas em doenças neurodegenerativas como esclerose múltipla. Sabemos que o SARS-CoV-2 pode, sim, invadir o cérebro, mas será que todas essas manifestações neurológicas são resultado da infeção direta ou o resultado de uma resposta imunológica de um corpo atacando o próprio cérebro? Essa resposta é crucial para direcionar o tratamento. Antivirais, se for o caso de infecção direta e, se o maior problema for a resposta imunológica exagerada, então, a indicação de terapias que modulam essa resposta seriam as mais indicadas.
As séries neuropatológicas publicadas até o momento apontam que a identificação do vírus no cérebro não é tão significativa quanto em outros órgãos. Uma explicação é que o cérebro não é rico em receptores ACE-2, a porta de entrada do vírus nas células e isso aponta a favor da resposta imunológica ser a maior causadora das lesões cerebrais. Futuros estudos devem encontrar marcadores biológicos que diferenciem o que é infecção direta e o que é autoimunidade. Saberemos também qual o impacto desse ataque cerebral no médio e longo prazo.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília
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