Desde que criou a trilogia de livros Cabala da Comida, da Inveja e do Dinheiro, o rabino gaúcho Nilton Bonder percebeu que poderia trabalhar conceitos do sistema filosófico e religioso judaico com questões do dia a dia da sociedade. E é exatamente isso que Bonder faz na nova série de livos intitulada Reflexos e refrações, em que aborda sete temas utilizando pequenas parábolas, como uma plataforma de um sistema. “Decodificar vários níveis ou campos ajuda a aprofundar um assunto”, explica em entrevista à Revista.
Até agora, já foram lançadas três obras da série: Cabala e a arte de manutenção da carroça: Lidando com a lama, o buraco, o revés e a escassez; Cabala e a arte do tratamento da cura: Tratando a dor, o sofrimento, a solidão e o desespero; e, o mais recente, Cabala e a arte de preservação da alegria. Ao todo, serão sete volumes que se valem dos ensinamentos presentes no judaísmo.
Os livros podem ser lidos separadamente, pois cada um trata um conceito. “No entanto, acho que o leitor que acompanhar a série — não necessariamente em nenhuma ordem — desfrutará da parte mais interessante desse trabalho. Assim como numa série de temporadas, você pode ver apenas um episódio e tirar o que ele tem a oferecer, porém, é muito mais rico conhecer sistemicamente os personagens e as situações. Essa ‘similaridade distinta’ é que chamamos de sistêmica, permitindo muitas reflexões e refrações sobre os vários assuntos. Daí o título da série”, detalha.
Alegria x felicidade
O mais recente livro foi lançado em julho nas livrarias. A obra tem como tema a alegria, conceito que Nilton Bonder acredita ser percebido de forma errada na sociedade. “Tento desconstruir a ideia de que estar alegre é estar feliz. A alegria não é uma emoção, como a felicidade. Fico feliz quando algo acontece de bom na vida e eu reajo ficando feliz ou, ao contrário, infeliz. A alegria, por sua vez, não é uma emoção, mas uma disposição, um humor. Alegria é a animação por sentir emoções. Algo inato no ser humano. Você nasce alegre e, se souber preservar essa alegria, morre alegre”, comenta.
Na obra, Bonder ensina a preservar a alegria com a qual o ser humano nasce. Para isso, utiliza pequenos contos, como Os sete pedintes, uma narrativa em que pessoas em situação de rua ajudam diferentes personagens a recuperar a alegria perdida. “A cabala é apenas um sistema, e pode ajudar a compreender e assimilar. O que é importante para nossos tempos é a alegria. Como há disposição por sentir, ela pode se fortalecer muito, mesmo diante de todos os desafios. A alegria pode e deve ser protegida.”
Origem judaica
Trata-se de uma sabedoria que busca mergulhar nas questões mais essenciais da humanidade a partir de ensinamentos ocultos extraídos das mais de 300 mil letras hebraicas dos escritos de Torá, livro sagrado do judaísmo que reúne os cinco primeiros da Bíblia. Segundo o conceito da cabala, as histórias de Torá têm ensinamentos mais profundos do que realmente está escrito. São lições sobre crescimento espiritual e de vida encontradas pela combinação de letras e números no estudo da guimátria, a numerologia judaica. Os textos fornecem metáforas para cura e crescimento na vida diária. Durante anos, foi um conhecimento pouco difundido, até que se tornou popular com adeptos famosos, como Madonna, Glória Maria e Luciano Huck.