Nosso cérebro pode processar informações em frações de segundo quando se trata de coisas simples como o ato de perceber sinais de dor física numa pessoa à nossa frente. Entretanto, a capacidade de análise moral de situações com contextos psicológicos e sociais está associada a processos cerebrais que necessitam de mais tempo para reflexão, uma atenção emocional mais persistente e isso já foi demonstrado por um estudo liderado pelo renomado neurocientista Antonio Damasio da Universidade da Califórnia do Sul.
Os pesquisadores submeteram voluntários a assistir histórias reais contadas por pessoas reais que geram sentimentos de admiração pela virtude humana ou de compaixão à dor física ou social. Exames de neuroimagem demonstraram que o cérebro respondia instantaneamente à percepção de dor física do outro, mas demorava cerca de 6 a 8 segundos para responder às histórias que evocavam admiração ou compaixão pela dor emocional. Essas respostas além de demorarem mais para serem ativadas, também tinham uma duração maior. Outro resultado importante foi que as áreas cerebrais ativadas ao se perceber a dor do outro foram as mesmas que nos fazem ter consciência do nosso próprio corpo – uma expressão biológica daquilo que conhecemos como” não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você”.
Os resultados do grupo de Damasio levantam sérias questões relacionadas ao nível de impacto que a alta velocidade do mundo contemporâneo terá na construção de nossa sociedade. Qual será o impacto dos videogames violentos, em que a rapidez não permite a geração de sentimentos pelo infortúnio das personagens? O quanto de emoção nosso cérebro vivencia numa sociedade que tem cada vez mais se comunicado através de mensagens de texto curtas? A admiração é uma das principais ferramentas que nos ajuda a separar o bom do ruim, e junto à compaixão, representam dois importantes pilares de nosso sistema moral. Nosso cérebro não reclama em correr para entender mensagens Twitter ou reconhecer que o outro está com uma perna quebrada, mas demora para entender que o outro está com o coração partido.
Por outro lado, já foi demonstrado que a literatura aumenta a percepção das emoções de outras pessoas. Obras de ficção estimulam a imaginação e o pensamento criativo, incentivando a sensibilidade necessária para a compreensão da complexidade emocional dos personagens. Assim como na vida real, os mundos retratados na ficção literária são repletos de indivíduos cuja intimidade raramente é revelada e, por isso, exigem uma investigação emocional.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasilia
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