
A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (23/4), uma moção de repúdio ao acolhimento diplomático concedido pelo governo brasileiro à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia. O projeto é de autoria do deputado Luciano Lorenzini Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara, e acabou respaldado pela maioria dos parlamentares presentes na sessão.
Heredia é formada em comunicação e pós-graduada em sociologia. Ela foi condenada a 15 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro e desembarcou no Brasil após pedir asilo na embaixada brasileira em Lima, acompanhada do filho de 15 anos. A vinda dela ao país acabou viabilizada por meio de uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). O marido, o ex-presidente Ollanta Humala, também condenado pelo mesmo esquema, segue preso no Peru.
Durante a sessão, Zucco foi enfático ao criticar a decisão do governo. "É o cúmulo da inversão moral. O Brasil, que foi protagonista da Lava-Jato e chegou a prender figuras como Marcelo Odebrecht e até o próprio Lula, agora concede abrigo político àqueles que roubaram milhões do povo latino-americano. É como se os criminosos descondenados estivessem hoje protegendo seus antigos parceiros de corrupção”, disparou o parlamentar.
A moção classifica o episódio como um ato de afronta à moralidade administrativa, à imagem internacional do país e aos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. O documento menciona especificamente a Convenção sobre Asilo de 1954, que veda a concessão de proteção a condenados por crimes comuns, como é o caso da ex-primeira-dama.
Heredia foi beneficiária de recursos ilícitos vindos da construtora Odebrecht — hoje Novonor — e do governo venezuelano, na época, comandado por Hugo Chávez, durante as campanhas presidenciais de 2006 e 2011. Parte desses valores, afirmam os promotores, teria origem em contratos com o governo brasileiro e financiamento do BNDES, em um esquema com fortes paralelos aos investigados pela Operação Lava Jato no Brasil.
Para Zucco, a concessão do asilo representa mais do que um erro diplomático — simboliza a subversão de valores. “A política externa do governo atual virou um instrumento de blindagem para os amigos da velha corrupção latino-americana. Enquanto se persegue opositores e patriotas no Brasil, oferece-se guarida diplomática a condenados internacionais. Isso é inaceitável”, afirmou o líder da oposição.
A crítica não parou por aí. A utilização de recursos públicos na operação que trouxe Heredia ao Brasil também foi duramente questionada. O parlamentar considerou a ação “desnecessária e lesiva aos cofres públicos”, e apontou que o uso da FAB para o transporte “agrava ainda mais o simbolismo do episódio, transformando o Brasil em um porto seguro para criminosos do colarinho branco”.
A defesa de Heredia, por sua vez, argumenta que ela é vítima de perseguição política em seu país, e que não teve garantias do devido processo legal. Seus advogados compararam o caso ao tratamento recebido por réus da Lava-Jato no Brasil, sustentando que a motivação do asilo é humanitária e jurídica.
A confirmação do asilo foi feita oficialmente pelo Itamaraty em 17 de abril, após o caso ser revelado inicialmente pelo governo peruano. Agora, a moção aprovada será encaminhada à Presidência da República e ao Ministério das Relações Exteriores, com um pedido formal para que o Brasil reavalie a medida e reafirme seu compromisso com tratados internacionais de combate à corrupção, como a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida).
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