
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para manter os ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino no julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas por suposta tentativa de golpe de Estado. Os três ministros fazem parte da Primeira Turma do Supremo, que na próxima terça-feira analisará a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o chamado núcleo da organização criminosa, que seria formado pelo ex-presidente e sete aliados. A defesa de Bolsonaro também pediu que a denúncia fosse julgada pelo plenário do Supremo, composto pelos 11 ministros, e não pela turma, que tem cinco.
Entre os réus, estão os generais Walter Braga Netto e Mário Fernandes. Os advogados do primeiro pediram o afastamento de Moraes da relatoria das investigações; a defesa do segundo, o de Dino. A defesa de Bolsonaro defendia o impedimento de Zanin e Dino. Argumentava que os ministros do STF já processaram o ex-presidente no passado.
Os ministros que são alvos dos questionamentos não analisaram os recursos contra eles, somente os relacionados aos colegas. Votaram contra impedimento Luís Roberto Barroso, presidente da Corte, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Dias Toffoli e Luiz Edson Fachin, além de Dino e Moraes.
Inelegível, Bolsonaro insiste na manutenção de sua pré-candidatura à Presidência e pretende transformar seu julgamento num palanque eleitoral, mantendo uma candidatura natimorta como uma espécie de chapéu na cadeira de candidato do PL. O efeito colateral dessa estratégia, que previa uma ampla mobilização popular pela anistia dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, é o distanciamento do Centrão.
Ontem, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que não existe exilado político no Brasil, que vive um regime democrático pleno. Referia-se, obviamente, ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do cargo e anunciou que pedirá asilo político aos Estados Unidos por sentir-se perseguido. Ontem, nos EUA, o filho 03 fez ataques ao Supremo e chegou a chamar Moraes de psicopata. Disse que não há democracia no Brasil e reiterou que defende a adoção de sanções econômicas e jurídicas contra o ministro.
A radicalização do discurso de Eduardo Bolsonaro tem por objetivo criar um contencioso grave entre o presidente Donald Trump e o Supremo, como ponto de partida de uma escalada de ações, cujo objetivo é desestabilizar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ofensiva retórica, porém, não tem correspondência com a mobilização dos eleitores do ex-presidente. O ato realizado por Bolsonaro, domingo passado, em Copacabana, no Rio de Janeiro, foi muito esvaziado, considerando-se que o esperado era um milhão pessoas. Mas armou um palanque eleitoral.
Palanque da direita
O governo Lula não está em seu melhor momento. Pesquisa Genial/Quaest, divulgada ontem, mostra que 60% do mercado financeiro consideram que Lula será candidato à reeleição em 2026, comparado a um percentual de 70% que assim pensavam no levantamento anterior, em dezembro.
Se Lula, de fato, se candidatar, 66% avaliam que não será o favorito a vencer — um percentual igual ao que se viu no levantamento de dezembro. Para 93% do mercado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o nome que teria a maior chance de vencer a esquerda em 2026. E 68% dos participantes na pesquisa consideram que Bolsonaro será preso — em dezembro, eram 55%.
Foram feitas 106 entrevistas junto a fundos de investimentos, em São Paulo e no Rio de Janeiro, com coleta por meio de questionários on-line entre os dias 12 e 17 de março. Participaram gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão. A pesquisa é sob medida para os setores empresariais que defendem a candidatura do governador paulista à Presidência.
Tarcísio é um aliado incondicional de Bolsonaro e usou o ato de domingo como um palanque da direita nas eleições do próximo ano, ao lado dos governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL); de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL); e de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil). Seu discurso contra o Supremo e a favor da anistia dos golpistas do 8 de Janeiro serviu como um divisor de águas para Bolsonaro, à sombra de quem se elegeu governador em 2022.
A outra face dessa moeda é a desagregação do centro, que tem três pré-candidatos quase irremovíveis: os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), liderança histórica dos ruralistas; de Minas, Romeu Zema (Novo), cujo partido tem tradição de lançar candidaturas e tem perfil de candidato antissistema, embora governe o segundo colégio eleitoral do país; e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que tem um compromisso de Gilberto Kassab, presidente do PSD, de que terá legenda para disputar a Presidência. Corre por fora o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que também tem um pé no PSD.