ELEIÇÕES 2026

Pacheco descarta assumir ministério, mas mantém apoio a Lula em 2026 

Em reunião com Lula, ex-presidente do Congresso afirmou que não assumirá nenhuma pasta. Apoio para a disputa do governo de Minas em 2026 segue possível

Lula e Pacheco durante visita presidencial a Belo Horizonte em fevereiro de 2024 -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
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Lula e Pacheco durante visita presidencial a Belo Horizonte em fevereiro de 2024 - (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Uma reunião em Brasília no último sábado (15/3) selou uma decisão que terá impactos na reforma ministerial do governo federal e nas eleições para o governo de Minas em 2026. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para conversar sobre o futuro político do parlamentar recém-egresso da presidência do Congresso Nacional. A principal definição da conversa entre o petista e o mineiro foi a recusa do pessedista em assumir uma pasta na Esplanada dos Ministérios. 

Desde o início do ano, na abertura da segunda metade do mandato, Lula trabalha nos bastidores para viabilizar uma reforma ministerial em atendimento às demandas de partidos aliados no Legislativo e que cobram um preço alto para acompanhar o governo no Congresso. O nome de Pacheco, que encerrava seu mandato no comando do Senado, era um dos favoritos do petista para acenar ao PSD, legenda camaleônica que abriga nomes que transitam desde alas mais progressistas até o bolsonarismo.

Pacheco era cotado para integrar o governo no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços ou da Justiça, hoje ocupados pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e Ricardo Lewandowski, respectivamente. 

A integração do senador ao governo apaziguaria também uma demanda do PSD por cargos mais relevantes no Executivo. A legenda integra o governo Lula com Alexandre Silveira na pasta de Minas e Energia; André de Paula na Pesca e Aquicultura; e Carlos Henrique Fávaro, em Agricultura e Pecuária.

No encontro com Lula no Palácio da Alvorada, Pacheco descartou a hipótese de assumir qualquer ministério do governo federal, mesmo sem a realização de um convite formal por parte do presidente. Acompanhado do aliado e atual presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o mineiro anunciou que pretende seguir sua trajetória no Senado para os dois anos finais de seu mandato.

Com a recusa de Pacheco, o governo federal deve dar continuidade à sua reforma ministerial já sem a possibilidade de contar com o senador. Mesmo com as pressões vindas do Legislativo, até agora o Planalto não atendeu à necessidade de abrir espaços no governo ao Centrão. A única mudança feita na Esplanada se deu dentro do PT. Alexandre Padilha (PT-SP) deixou a Secretaria de Relações Institucionais com Gleisi Hoffmann (PT-PR) e assumiu o Ministério da Saúde no lugar de Nísia Trindade. 

Impacto em 2026

Lula já declarou publicamente em mais de uma oportunidade que tem em Pacheco seu nome favorito para disputar o governo de Minas em 2026. O planejamento do presidente prevê a reedição da dobradinha entre PT e PSD formada em 2022 quando os petistas apoiaram o ex-prefeito de BH, Alexandre Kalil, ao governo estadual e Alexandre Silveira ao Senado.

À reportagem, o vice-líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, Rogério Correia (PT-MG), disse que a opção de Pacheco por se manter no Senado não atrapalha as pretensões de apoiá-lo daqui a dois anos. O deputado federal, porém, ressalta que há no partido a expectativa por um posicionamento mais explícito do senador em relação à sua intenção de disputar o governo estadual e contar com o PT em sua chapa.

“É importante ter alianças e o nome do Rodrigo é importante para isso. Não sei o que ele pensa em relação à candidatura, mas se ficar no Senado, ótimo, vamos construir juntos essa parceria. Mas não precisamos e nem podemos ficar em uma completa dependência. Era fundamental que o senador colocasse uma posição mais clara sobre isso, porque precisamos construir uma candidatura ampla. Caso ele não seja candidato, precisamos construir alternativas. Eu tenho falado que temos quatro mulheres que podem compor uma candidatura: a Marília Campos (prefeita de Contagem), a Margarida Salomão (prefeita de Juiz de Fora), Beatriz Cerqueira (deputada estadual) e a Macaé Evaristo (ministra de Direitos Humanos)”, declarou Correia, que pretende reunir a bancada mineira do PT para conversar com Pacheco sobre o tema.

Para o presidente estadual do PT, o deputado estadual Cristiano Silveira, Pacheco segue como principal alternativa para o governo de Minas e não há a necessidade de cobrar uma postura mais aberta do senador em relação à disputa eleitoral neste momento. O parlamentar ainda avalia que o pessedista não terá um prejuízo de publicidade de suas ações por recusar um ministério em detrimento da permanência no Senado.

“Acho que recusar um ministério não interfere na viabilidade do Pacheco em 2026. É comum ter em mente que, para ter visibilidade, tem que estar em algum ministério, mas nem sempre é assim. As pautas dele no Senado devem ter a mesma projeção e ele terá o papel de ser o interlocutor do Lula na Casa. Além disso, não estando em um ministério, ele terá mais mobilidade para fazer as articulações políticas. O Pacheco é um estadista, ele vai ter um olhar para as coisas de Minas como teve no Propag (Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados). Todos os nossos gestos foram dados, tanto pelo presidente Lula como pela liderança dos estados. Sobre se declarar candidato, a gente respeita, ele tem um partido, um mandato para cuidar”, pondera Silveira.

O deputado estadual Cássio Soares, presidente do PSD em Minas Gerais, destaca que a decisão de não assumir nenhum ministério foi pessoal de Pacheco e não integra uma estratégia da legenda. Ele complementa elogiando o senador e dizendo que uma eventual candidatura em 2026 ainda precisa ser articulada dentro do partido.

“O PSD está focado em trabalhar e entregar resultados concretos para a população mineira. Acredito que ainda é cedo para qualquer especulação sobre as eleições de 2026. Nosso compromisso, neste momento, é continuar fazendo um bom trabalho para melhorar a vida das pessoas. O senador Rodrigo Pacheco tem todas as qualidades para ocupar qualquer cargo que desejar. Sua decisão de não assumir um ministério agora foi uma escolha pessoal, e o mesmo valerá para 2026. Qualquer definição sobre candidatura será construída com base no seu projeto político e em diálogo com o partido”, afirma.

PSD à direita

Na esfera federal, o PSD integra o governo Lula, mas sua bancada heterogênea no Congresso não vota em bloco nas pautas do Executivo. Na última semana, inclusive, o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, sinalizou que cerca de metade dos 42 deputados pessedistas pode votar pela aprovação do projeto de lei (PL) que anistia os condenados pela participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

Enquanto integra a Esplanada dos Ministérios de Lula, Kassab é secretário de Governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) em São Paulo. O cacique do PSD é o principal articulador político de um dos mais cotados nomes bolsonaristas para a disputa presidencial em 2026.

Para Rogério Correia, a possibilidade de um apoio do PSD à candidatura de Tarcísio ao Planalto em oposição a Lula ou outro nome governista comprometeria a aliança em torno de Rodrigo Pacheco em Minas Gerais. Sobre a lei da anistia, o deputado petista acredita não haver chance de impacto na articulação e manda um recado para Kassab. 

“Se houver um apoio ao Tarcísio, com certeza a aliança fica comprometida. Em relação à anistia não há risco. Isso é um blefe dos bolsonaristas, o projeto não vai ser votado. Kassab precisa parar de brincar e ter juízo”, comentou. 

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Bernardo Estillac
BE
postado em 17/03/2025 20:04