
O embaixador Júlio César Gomes dos Santos foi o último palestrante da Mesa I - Democracia 40 anos: As conquistas consolidadas do evento "Democracia 40 anos, conquistas, dívidas e desafios", realizado pelo Correio Braziliense, Cidadania, a Fundação Astrojildo Pereira e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Santos ficou 38 dias ao lado de Tancredo Neves antes de sua morte e relembrou episódios dessa época. "Eu era subchefe do cerimonial, e meu chefe me disse: "Você vai ser o homem junto ao doutor Tancredo". Foram 38 dias inesquecíveis, tristes e que é difícil de esquecer. Vieram algumas coisas que não foram publicados e que mostravam o que era aquele momento tão difícil para o Brasil", começou.
Uma das lembranças contadas pelo embaixador foi a sua surpresa ao ver as condições do Hospital de Base, em Brasília, para receber o presidente. "Surpreendeu-me, enormemente, a deficiência desse hospital. O Dr. Tancredo com os seus médicos, desceu um dia para a sala de radiografia do hospital, onde havia uma fila de pessoas que iam, entravam, eram radiografadas, saíam, e o enfermeiro passava um pano em cima da mesa. E quando chegou vez do Dr. Tancredo, o homem passou um pano como se fosse um outro paciente que estava na fila e eu me perguntei: "Meu Deus do céu, será que não existe ressonância magnética? Não desinfetaram essa mesa?", contou.
Outro episódio que o embaixador fez questão de contar, foi sobre um livro onde autoridades e famosos assinaram no hospital em São Paulo quando Tancredo esteve internado. "O presidente Tancredo estava no terceiro andar e eu montei então uma sala de cerimonial no primeiro. O livro que deve estar em algum lugar, que deve valer uma fortuna hoje, porque ninguém podia subir ao quinto andar para cumprimentar. Então, instituíram o livro com uma capa de couro, lindíssima, e as pessoas chegavam, assinavam e escreviam alguma coisa. Todas as celebridades e autoridades do Brasil", rememorou.
Proximidade com Sarney
Após o falecimento do presidente, o embaixador conheceu o presidente José Sarney no velório de Tancredo Neves, e foi quando ele soube que Sarney daria conta do recado. "Eu tenho uma foto de quando eles chegaram para ver o corpo de Tancredo deitado no caixão, com aquela janelinha para que pudessem ver o rosto, e eu disse: "Ele (Sarney) vai aguentar essa barra". Ele vai aguentar essa barra porque estava presidindo a sessão da emenda. Na hora de chamarem um deputado, Zequinha Sarney, votou a favor da emenda. Eu disse: "ele descende de um democrata" e eu tinha certeza disso. Tudo que se falou sobre ele, até agora, eu já tinha visto antes", afirmou.
E o início de uma relação mais próxima entre as duas autoridades se iniciou coma nomeação de Santos para o cerimonial do Itamaraty, que na época, foi uma grande surpresa para o embaixador. "Um ano e três meses depois da posse, quando ele me nomeou chefe de cerimonial, eu soube pelo Diário Oficial, e lhe disse: "presidente, o senhor me nomeou chefe do cerimonial!" E ele: "sim, e eu só vou lhe dar uma recomendação, não é uma exigência: que você nunca deixe de zelar pela liturgia do meu cargo". E assim tratei de fazer", finalizou.
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