POLÊMICA

Em vídeo, senador bolsonarista Marcos do Val implora que EUA invadam Brasil

Parlamentar do Podemos, que concorreu à presidência do Senado, diz que o Brasil tomou "golpe" e que é preciso "recuperar" democracia, ao criticar Alexandre de Moraes 

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"O que mais falta para você poder entender que nós tomamos o golpe?", pergunta Marcos do Val ao Brasil em vídeo que circula nas redes sociais - (crédito: Ed Alves/CB/DA Press)

O senador Marcos do Val (Podemos/ES) gravou um vídeo em que pede “pelo amor de Deus” aos Estados Unidos para que invadam o Brasil. No registro, que não tem data, o parlamentar fala, em meio a palavrões, em um suposto golpe sofrido por cidadãos brasileiros e menciona o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em nota enviada ao Correio na última quinta-feira (27/2), o político afirma que o “posicionamento não foi um ataque à democracia, mas sim um alerta sobre sua degradação no Brasil” (veja ao fim da matéria).

Não há informações exatas sobre a data em que o vídeo foi gravado e nem sobre como ele chegou às redes sociais, já que Marcos do Val está com as contas suspensas devido a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, as gravações começaram a repercutir nas redes sociais nesta terça-feira (25).

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A razão do pedido do senador, alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, seria, portanto, “recuperar” a democracia do país. “O que nós vamos fazer?”, questiona, no vídeo. “Sozinho eu não consigo fazer. Agora Alexandre indo por água abaixo, mas sempre vai ter outro que vai assumir.”  

Responsável por julgamento de denúncia da Procuradoria-Geral da República que aponta Bolsonaro e outras 33 pessoas como envolvidas em suposta trama golpista para derrubar o presidente Lula em 2022, Moraes sofre ataques de apoiadores do ex-chefe de Estado por cumprir o papel que lhe é designado, perante a lei brasileira. 

Em acesso de raiva, Marcos do Val solta um palavrão direcionado ao Brasil. “O que mais falta para você poder entender que nós tomamos o golpe?”, pergunta. 

Confira o vídeo:

Em nota ao Correio, o parlamentar do Podemos explicou que mencionou os Estados Unidos pois eles são um país que “historicamente defende democracias ao redor do mundo”. Ele afirma que “não foi um pedido de intervenção externa, mas sim um pedido de socorro para a restauração da democracia brasileira”, e que as declarações “estão protegidas pela Constituição e dentro do escopo das prerrogativas parlamentares”.

Até dia 1º de fevereiro, Marcos do Val concorria à presidência do Senado. Em discurso durante reunião preparatória da Casa, quando oficializou retirada da candidatura, do Val fez críticas parecidas às que faz no vídeo em questão. “Acho que eu estou num mundo paralelo, porque inicialmente está todo mundo falando aqui que nós estamos vivendo num país democrático, sendo que vocês estão vendo aqui, agora, um Senador censurado há dois anos.” 

Em agosto de 2024, o senador afirmou que teve conta bancária e redes sociais bloqueadas após atacar o STF e Alexandre de Moraes, três meses após recuperá-las depois de um período de 11 meses de suspensão. Em novembro, ele disse, em pronunciamento no Senado, que o ministro “pratica perseguições políticas, crimes contra a humanidade, tortura e censura, além de destruir a Constituição” — segundo notícia publicada pela Agência Senado. 

Leia manifestação de Marcos do Val:

Meu posicionamento não foi um ataque à democracia, mas sim um alerta sobre sua degradação no Brasil. No entendimento técnico, onde há censura, não há democracia. E no Brasil, vivemos um cenário de censura crescente, onde ministros do Supremo Tribunal Federal, sem qualquer controle externo, legislam, governam e perseguem opositores políticos. O Judiciário extrapolou suas funções e impôs um golpe de Estado branco, o primeiro caso desse tipo no mundo. Trata-se de uma tomada de poder disfarçada, onde as instituições continuam operando formalmente, mas sem respeitar os princípios democráticos e os direitos fundamentais da população.

Diante dessa situação, e considerando que nossa democracia já não existe mais, foi que mencionei os Estados Unidos, um país que historicamente defende democracias ao redor do mundo desde o século XVIII. Esse não foi um pedido de intervenção externa, mas sim um pedido de socorro para a restauração da democracia brasileira, dentro dos compromissos internacionais assumidos por Brasil e EUA.

Os Estados Unidos desempenharam um papel central na defesa e na restauração de democracias ao longo da história moderna (...). Esse histórico demonstra que os Estados Unidos não interferem para impor regimes, mas sim para garantir que democracias não sejam destruídas por governos autoritários. Minha menção aos EUA, portanto, foi um alerta para a comunidade internacional, pois o Brasil já não vive sob um regime democrático, e a continuidade dessa situação coloca em risco a liberdade de todo o povo brasileiro.

(...)

Minha fala não foi um ataque ao Brasil, mas um chamado para que o mundo enxergue que nossa democracia foi destruída, e que aqueles que não perceberam ou compactuaram com esse golpe silencioso precisam entender que estamos vivendo sob um regime onde a censura e o autoritarismo já se consolidaram.

Portanto, reitero que:
•Minhas declarações estão protegidas pela Constituição e dentro do escopo das prerrogativas parlamentares;
•O Brasil enfrenta um cenário de censura e concentração ilegítima de poder no STF, o que descaracteriza um regime verdadeiramente democrático;
•Os Estados Unidos têm um histórico de defesa da democracia e fazem parte, junto com o Brasil, de diversos organismos internacionais que monitoram crises institucionais;
•O Senado deve cumprir seu papel constitucional e não se omitir diante da corrosão das liberdades democráticas no país.

Não estamos vivendo uma democracia plena, mas sim uma falsa democracia, onde vozes dissidentes são perseguidas sob o pretexto de “combate à desinformação”. Minha luta é para que o Brasil volte a ser um país onde as instituições respeitam seus limites e onde as liberdades fundamentais sejam garantidas.

Portanto, reafirmo que minhas declarações estão integralmente amparadas pela Constituição Federal e pelo meu papel como Senador da República. Dentro das prerrogativas parlamentares estabelecidas no Artigo 53 da Constituição, sou inviolável, civil e penalmente, por quaisquer de minhas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato. Assim, qualquer tentativa de criminalizar minha fala configura um ataque direto à imunidade parlamentar e à liberdade de expressão, garantida pelo Artigo 220 da Constituição.

 

Lara Perpétuo
postado em 25/02/2025 22:59 / atualizado em 28/02/2025 14:48