Atos golpistas

Bolsonaro sobre ser preso por tentativa de golpe: "Caguei"

Em evento do PL, na primeira aparição depois de a denúncia ser apresentada, acusa a PGR de construir "narrativa". Ministro Alexandre de Moraes, do STF, nega prazo maior para defesa do ex-presidente se manifestar

Com o advogado, Cid se desespera ao ouvir que seria preso devido a áudios em que acusa Moraes de pressioná-lo -  (crédito: Reprodução)
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Com o advogado, Cid se desespera ao ouvir que seria preso devido a áudios em que acusa Moraes de pressioná-lo - (crédito: Reprodução)

O ex-presidente Jair Bolsonaro menosprezou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), apresentada na terça-feira, que o aponta como chefe de uma organização criminosa que articulou um golpe de Estado. Diante de apoiadores no I Seminário Nacional de Comunicação do PL, ontem, desdenhou da possibilidade de ser preso.

"Nada mais tem contra nós do que narrativas. Tudo foi por água abaixo. A mais recente foi essa de golpe. Vão prender o Bolsonaro? Caguei para a prisão", afirmou, sob aplausos e gritos de "mito".

Foi a primeira aparição de Bolsonaro depois que a PGR entregou a denúncia contra ele e 33 pessoas por articular um golpe que pretendia anular o resultado da eleição presidencial de 2022. No planejamento, constava até mesmo a possibilidade de assassinar Luiz Inácio Lula da Silva, vencedor do pleito; o vice na chapa, Geraldo Alckmin; e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes.

Além da presença de apoiadores e parlamentares da bancada federal do partido na Câmara e no Senado, participaram do encontro do PL representantes de big techs, como X e Google. Em 30 minutos de discurso, Bolsonaro repetiu os argumentos apresentados para desacreditar as investigações da Polícia Federal.

"Quem precisa de 800 páginas para provar é porque não tem o que mostrar", afirmou, em alusão ao relatório apresentado pela PF, com as provas que embasaram a denúncia da PGR.

Bolsonaro convocou seus apoiadores a comparecerem às manifestações organizadas para 16 março — pediu que não levem cartazes. E voltou a acusar, sem provas, que as eleições de 2018 e 2022 foram fraudadas.

O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), reforçou a crítica de Bolsonaro ao atacar a denúncia da PGR. "São acusações absurdas, sem fundamento jurídico, sem o respeito ao devido processo legal. O presidente Bolsonaro não tem foro privilegiado, deveria estar na primeira instância", disse, destoando, porém, da narrativa da extrema-direita de que o país vive uma "ditadura".

"A população brasileira sabe que o país continua sendo um Estado Democrático de Direito, apesar das falências e da constante usurpação do Poder Judiciário sobre outros poderes", observou.

Outro que reforçou as acusações de Bolsonaro contra a PF e a PGR foi o senador Izalci Lucas (PL-DF). "Acho que não tem elementos para ser condenado. Ele vai fazer a defesa e, pela denúncia, não há nada consistente que possa provar que poderia ser condenado. Não trabalhamos com essa hipótese", afirmou.

Prazo maior negado

A defesa de Bolsonaro terá de correr contra o tempo para cumprir o prazo de 15 dias e responder à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado. Na noite de ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou o pedido da defesa do ex-presidente em conceder 83 dias para a apresentação das alegações.

Na decisão, o magistrado destacou que a solicitação carece de requisitos legais e afirmou que os advogados tiveram acesso ao processo antes mesmo da queda do sigilo. Segundo Moraes, não há base legal para a prorrogação do prazo determinado pelo STF.

"Carece de previsão legal o requerimento de apresentação de defesa prévia após a manifestação do colaborador, uma vez que ainda não existe ação penal instaurada", ressaltou o ministro.

Ao STF, os advogados de Bolsonaro alegaram que o prazo fixado era insuficiente diante da complexidade do caso e da denúncia, que tem 100 mil páginas de documentos. No entanto, Moraes apontou que a defesa do ex-presidente teve acesso ao processo e, portanto, tempo hábil para começar a elaborar as respostas solicitadas.

"Uma simples consulta ao andamento processual da presente investigação demonstra que os advogados constituídos pelo investigado Jair Messias Bolsonaro sempre tiveram total acesso aos autos, inclusive retirando cópias e com ciência dos despachos proferidos nestes autos, antes do levantamento do sigilo da investigação", frisou Moraes.

O ministro também autorizou tornar públicos os vídeos da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Os depoimentos do tenente-coronel do Exército foram colhidos, em 2024, pela Polícia Federal. O sigilo dos relatos foi derrubado 24 horas depois da apresentação da denúncia da PGR, mas as mídias não estavam liberadas.

Nas gravações, Cid aparece nervoso, inquieto e até chora ao comentar a divulgação do áudio da filha dele, em que ela falava sobre intervenção militar, com soldados nas ruas, para manter Bolsonaro no poder.

Cid se queixa e diz que, na investigação, foi o único que teve parentes expostos. "A imprensa revirou minha vida toda, revirou até a vida do meu irmão, da minha irmã, que não mora nem no Brasil. Expôs tudo. Expôs áudio da minha filha", criticou.

O militar reitera que Bolsonaro de tudo sabia e participou da tentativa de golpe. Um dos vídeos mostra seu desespero ao ser informado de que voltaria à prisão. Ao ouvir o juiz instrutor Airton Vieira, do gabinete de Moraes, Cid põe a mão esquerda na testa, empurra a caneta esferográfica e se debruça sobre a mesa — depois chegaria a desmaiar. Esse episódio é por conta de áudios, divulgados pela revista Veja, nos quais o militar acusava Moraes de pressioná-lo para dizer o que o ministro queria escutar.

Em outra imagem, Moraes o adverte de que a omissão de informações ameaçava o acordo de delação que fechara com o Ministério Público Federal e a PF. "A maior delas, das obrigações, é falar a verdade. É não se omitir, não se contradizer. Não há na colaboração premiada essa ideia de que 'só respondo o que me perguntam'", salientou.  (Com Agência Estado)

 

Danandra Rocha
Luana Patriolino
Fernanda Strickland
postado em 21/02/2025 03:55