
O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, durante depoimento prestado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o general Walter Braga Netto buscou recursos com empresários do agronegócio para financiar manifestantes envolvidos na tentativa de reverter o resultado das eleições de 2022. O relato faz parte de vídeo da delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, cujo sigilo foi retirado nesta quinta-feira (19/2).
Segundo Cid, Braga Netto inicialmente tentou conseguir financiamento por meio do Partido Liberal (PL), mas, diante da recusa, afirmou que "daria um jeito" e buscaria outras fontes de arrecadação. O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro relatou que o general conseguiu dinheiro com empresários do agronegócio, embora não soubesse exatamente quem foram os doadores.
"O general Braga Netto entregou e ele comentou que era alguém do agro que tinha dado. Mas eu não sei o nome de quem foi, quem passou para ele o dinheiro. A gente sabia que o pessoal do agro estava sempre ali, trazendo manifestantes e tudo. Mas teve essa parte do financiamento pelo general Braga Neto", enfatizou Cid.
O ex-ajudante de ordens também revelou que Braga Netto mantinha contato diário com Bolsonaro, atualizando-o sobre as movimentações e a situação política. Em uma dessas conversas, o general teria mencionado a existência de três grupos "ouriçados para fazer uma ação mais contundente", sendo todos ligados ao agronegócio e não às Forças Armadas.
“O general Braga Netto, todo dia de manhã e final da tarde ia conversar com o presidente [Jair Bolsonaro]. Normalmente, ele dava um panorama do que estava acontecendo. Eu não participava dessas reuniões. Teve um dia em que ele comentou que existiriam três grupos que estavam muito ouriçados para fazer uma ação mais contundente. Inclusive, ele disse que eram grupos do agro, não falou nem que eram grupos de militares”, apontou.
"Vai cair no meu colo"
Mauro Cid frisou, porém, que não pode dizer com certeza o que o Braga Netto passava para o presidente “Mas posso afirmar que ele comentava o que estava acontecendo e qual era a mobilização. E quando ele ficou sabendo que possivelmente poderia ter alguma ação de caminhoneiros, para fechar o país, o presidente dizia ‘não faz isso porque parar o país é horrivel, já está ruim, e vai cair no meu colo o problema econômico’”, revelou.
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As investigações apontam que a busca por financiamento ocorreu após uma reunião realizada no apartamento de Braga Netto, em 12 de novembro de 2022, que contou com a presença de militares das Forças Especiais. Cid disse que foi retirado da reunião pelo próprio general para que Bolsonaro não fosse diretamente envolvido na discussão do plano golpista.
Assista ao vídeo