Minuta Golpista

Minuta golpista deixou comandante do Exército "irritadíssimo", diz Cid

O sigilo da delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro foi retirado por decisão de Alexandre de Moraes nesta quarta-feira (19/2)

No relato, o tenente-coronel detalha a reação indignada de Freire Gomes durante reunião prévia à tentativa de golpe -  (crédito: Evaristo Sa/AFP )
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No relato, o tenente-coronel detalha a reação indignada de Freire Gomes durante reunião prévia à tentativa de golpe - (crédito: Evaristo Sa/AFP )

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, revelou em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), detalhes sobre a apresentação de uma minuta golpista aos comandantes das Forças Armadas. Segundo Cid, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, reagiu com grande irritação ao documento, especialmente após o comandante da Marinha, almirante Garnier, afirmar que a força "estava pronta" para agir.  

Cid prestou depoimento no âmbito de sua colaboração premiada, cujo sigilo foi retirado nesta quarta-feira (19/2) por Moraes. Ele relatou que a minuta foi levada aos chefes militares com o objetivo de convencê-los a aderir a um plano de intervenção para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022. Segundo ele, o documento foi "esmiuçado" pelo então presidente e continha considerações sobre supostas interferências do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no governo.  

No relato, o tenente-coronel detalha a reação indignada de Freire Gomes durante a reunião. “E aí o general Freire Gomes ficou irritadíssimo, ele falou: ‘Você não tem efetivo, você quer botar na minha conta’”. A frase teria sido uma resposta ao almirante Garnier, que demonstrou disposição da Marinha em participar do plano.  

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As revelações de Mauro Cid vieram à tona após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Jair Bolsonaro, o ex-ministro Braga Netto e mais 32 pessoas por envolvimento em uma trama golpista para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A denúncia, assinada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, será analisada pela Primeira Turma do STF após liberação do relator, ministro Alexandre de Moraes.  

O documento da PGR afirma que Bolsonaro tentou atrair a cúpula das Forças Armadas para um ato de "insurreição", reunindo os principais comandantes militares para discutir o planejamento da intervenção. “Quando um Presidente da República, que é a autoridade suprema das Forças Armadas, reúne a cúpula dessas forças para expor planejamento minuciosamente concebido para romper com a ordem constitucional, tem-se ato de insurreição em curso, apenas ainda não consumado em toda a sua potencialidade danosa”, descreve Gonet.  

A denúncia cita ainda o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, como um dos responsáveis por apresentar o plano de golpe aos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.  

Fernanda Strickland
postado em 19/02/2025 14:44 / atualizado em 19/02/2025 15:32