A expectativa por mudanças no primeiro escalão do governo Lula tem sido o centro das atenções na política em Brasília neste início de ano. Com o Congresso de recesso e prestes a eleger os novos presidentes da Câmara e do Senado, a definição dos novos ocupantes do primeiro escalão será crucial para definir a relação do Executivo com o Legislativo este ano.
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Sem agradar os caciques que controlam o Congresso, o governo não conseguirá aprovar matérias com apoio popular que terão peso na disputa eleitoral de 2026, como a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Nessa equação, está, ainda, o pagamento de emendas parlamentares, que foi uma pedra no sapato tanto do governo quanto do Congresso em 2024.
A expectativa é de que as mudanças nos ministérios, se autorizadas pelo presidente, sejam realizadas até 21 de janeiro, quando deve ocorrer a primeira reunião ministerial do ano. A informação foi confirmada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, na semana que passou. "O presidente está focando em aperfeiçoar a gestão. Portanto, há um indicativo do presidente de que as mudanças que ocorrerem, ele deve fazer neste mês, até para quem entrar ter mais tempo de fazer as alterações que o presidente espera. Nós teremos uma reunião de ministério no dia 21 e eventualmente as alterações, se o presidente assim decidir, podem ser feitas antes dessa reunião ministerial", disse o ministro Rui Costa (Casa Civil) à GloboNews.
Divisão
Além do PT, com 11 ministérios, o governo tem atualmente ministros do PDT, PCdoB, PSol, Rede, Republicanos, PP, MDB, PSB, do União Brasil e do PSD. Os quatro últimos são os que ocupam mais chefias de pastas no primeiro escalão depois do partido do presidente, com três ministros cada.
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O PSD, especificamente, tem pressionado por mais espaço, ou, ao menos, por cargos mais relevantes. A sigla ocupa hoje a Agricultura (Carlos Fávaro); a Pesca (André de Paula) e o Ministério de Minas e Energia (Alexandre Silveira).
Ainda não há indicativos de quantas mudanças serão feitas. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse, na última semana, que não é possível classificar as mudanças como uma "reforma ministerial". "Não acredito que o presidente Lula vá fazer uma reforma ministerial. Ele fará mudanças pontuais, como fez na área da comunicação do governo", disse Alckmin em entrevista à Rádio Eldorado. O vice-presidente pode deixar o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Serviços, para facilitar a dança das cadeiras.
A demissão do ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), foi a primeira em 2025. Ele foi o quinto a cair desde o início do terceiro mandato de Lula. A mudança já era esperada desde o ano passado, quando se intensificaram as críticas ao trabalho do ministro tanto dentro quanto fora do governo.
Em dezembro, durante um evento do PT em Brasília, Lula praticamente anunciou a demissão de Pimenta. Disse que havia problemas de comunicação no governo e que era "obrigado" a fazer mudanças. Também admitiu que se esforçava pouco para dar entrevistas e que queria adotar uma postura diferente.
Na ocasião, o próprio PT, partido ao qual Paulo Pimenta também é filiado, aprovou uma resolução sugerindo mudanças na estratégia de comunicação do governo, embora tenha evitado falar sobre a possibilidade da saída do ministro. Para a cúpula do partido, Lula precisaria aparecer mais em rádios e TVs para dar publicidade aos atos do governo, especialmente aqueles que podem se traduzir em mais apoio popular.
Espaço do PT
Com a saída de Pimenta, o PT passará a ter o comando de 10 ministérios na Esplanada. Esse número ainda pode cair se o governo decidir reduzir o espaço do partido para acomodar os partidos do Centrão. Há, ainda, uma dúvida pairando sobre a Secretaria de Relações Institucionais, comandada pelo ministro Alexandre Padilha.
Ele, que é responsável pela articulação com o Congresso, deixou a desejar em 2024, na opinião de líderes partidários. No início do ano, chegou a balançar no cargo quando o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o chamou de incompetente publicamente e disse que não haveria mais conversa com o ministro. Quem teve que assumir as conversas com a Câmara foi Rui Costa.
Ao longo do ano, a tensão diminuiu. Terminou 2024 com a moral alta depois da aprovação do pacote de corte de gastos, embora o crédito das articulações seja principalmente de Lira, de Rodrigo Pacheco (presidente do Senado, PSD-MG) e dos líderes do governo na Câmara, no Senado e no Congresso.
Com a saída de Lira da Presidência da Casa Baixa em fevereiro, Padilha talvez ganhe uma sobrevida. O cotado a assumir a Câmara é Hugo Motta (Republicanos-PB), que é visto nos bastidores como um perfil mais "amigável". No Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) também tem alinhamento com o governo similar ao de Rodrigo Pacheco. Lula sabe, no entanto, que errar na articulação com o Congresso este ano pode custar a eleição de 2026 e isso será considerado na hora de decidir quem fica e quem sai.