Apoiadores do governo federal participaram, ontem, na Praça dos Três Poderes, da manifestação que lembrou os dois anos dos ataques extremistas do 8 de janeiro. Muitos vestiam camisetas com frases como "sem anistia para golpista" e "golpe nunca mais". Mesmo sob chuva, a maior parte do público ficou até o final.
O jornalista Miguel dos Anjos, de 68 anos, fez questão de participar do evento ao lado do marido, o enfermeiro Claudemir Vieira, 50, e de amigos. Comparando a democracia a uma eleição contínua, ele ressaltou a relevância de marcar presença. "Todo dia depositamos nosso voto nela para que, no final do dia, ela continue ganhando. É o caminho de tudo", afirmou.
Alguns ainda chegaram de longe para fazer parte do ato. Caso de Leandro de Lima Santos, 41, que veio de Goiânia, acompanhado da esposa, a professora universitária Monyele Camargo Graciano, 35, e da filha, Aurora Graciano, 1. O funcionário da Universidade Federal de Goiás (UFG) destacou a importância de relembrar os eventos de 8 de janeiro, a fim de prevenir episódios semelhantes. "Ficamos marcados de forma muito violenta após os atos golpistas de dois anos atrás", ressaltou.
Relembrando os acontecimentos daquele dia, Leandro descreveu a surpresa e o choque ao testemunhar a fragilidade da segurança na capital federal. "Não imaginávamos que, uma semana após a posse de um presidente eleito legitimamente, isso pudesse acontecer. Prova da necessidade de permanecermos vigilantes", declarou.
A professora de dança Edna Gomes, 61, não só prestigiou a cerimônia como também aproveitou para levar para casa uma lembrança especial: um dos vasos de flores que compunham a palavra "democracia" na Praça dos Três Poderes. Emocionada, ela enfatizou o valor do evento para lidar com as cicatrizes deixadas pelos ataques. "Foi uma violência tão absurda que nem conseguimos adjetivar. Estar aqui é como purificar a alma e rejuvenescer um lugar tão profundamente ferido", afirmou.
Para ela, eventos como o realizado ontem fazem com que a população se conscientize sobre a gravidade da tentativa de golpe de 2023. "Precisamos olhar atentamente o que aconteceu. A presença da gente aqui fortalece a ideia de que não vai se repetir, nunca mais, pelo bem do nosso país", disse.
Abraço à democracia
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, definiu o ato como um símbolo de resistência e reparação. "É um abraço à democracia, uma forma de desagravo à praça, palco daquela depredação. A ideia é mostrar que a democracia está vencendo e vamos consolidá-la", enfatizou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também participou do evento, que incluiu um desenho do mapa do Brasil formado pelos manifestantes. Após o discurso do chefe de Estado, acompanhado da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e de ministros, os apoiadores foram convidados a levar as flores que formaram a palavra democracia. "Cuidem com carinho para que, ao retornarem aqui, no próximo ano, as tragam de volta", pediu a organização.