Especialistas e integrantes do governo consideram que as mudanças anunciadas por Mark Zuckerberg na política de checagem de publicações da Meta são um claro aceno ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump — crítico do bilionário e da postura da Meta, que considera "progressista". Não à toa, ele afirmou, ontem, que "provavelmente" influenciou a decisão do magnata.
"Assisti à coletiva de imprensa deles e achei que foi muito boa. Acho que eles, honestamente, acho que eles percorreram um longo caminho. O cara (Zuckerberg) foi muito impressionante", destacou. Indagado se teria influenciado na nova postura da Meta, Trump não se furtou. "Provavelmente. Sim, provavelmente".
Preocupação
O secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, João Brant, criticou Zucklerberg, interpretando suas falas como um ataque direto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às iniciativas de checagem de fatos. Para ele, a posição do bilionário "antecipa o início do governo de Donald Trump".
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também mostrou-se preocupado. "Tivemos um anúncio de uma importante organização global dizendo que vai retirar filtros contra fake news, aderindo à mentalidade de que liberdade de expressão inclui calúnia, mentira e difamação. Isso nos preocupa profundamente", lamentou.
Para Marcelo Senise, CEO do Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial, a decisão de Zuckerberg representa um retrocesso nos esforços para combater a desinformação. "A moderação de conteúdo por verificadores independentes, apesar de suas falhas, era uma tentativa válida de trazer equilíbrio ao ambiente digital. A substituição por notas da comunidade abre espaço para polarização e manipulação, principalmente em países com alta desigualdade de acesso à informação, como o Brasil", explicou.
Regramento
Senise destacou que a confiança no sistema de notas colaborativas dependerá do engajamento responsável dos usuários, algo difícil de alcançar em cenários polarizados. Ele ressaltou que o Congresso precisa definir regras não apenas para redes sociais, mas, também, para o uso de inteligência artificial (IA) — que, conforme observa, pode destruir a democracia, fraudando eleições, por exemplo.
Entre os parlamentares governistas, mais críticas a Zuckerberg. "Topa tudo por dinheiro. Depois de Elon Musk, agora é a vez de Mark Zuckerberg abraçar a extrema-direita para aumentar ainda mais sua fortuna — já estimada em mais de US$ 200 bilhões. Democracia, para os bilionários das Big Techs, é só uma palavra bonita, e nada mais. Revoltante!", publicou o deputado Guilherme Boulos (PSol-SP).
O deputado André Janones (Avante-MG) também lamentou o que chamou de aliança entre Zuckerberg e a extrema-direita global. "A extrema-direita, que vive de mentiras, está comemorando a decisão do Mark Zuckerberg de se unir a Donald Trump e a Elon Musk. Mas esquece que, no Brasil, temos leis e o Musk voltou com o rabo entre as pernas e obedeceu ao ministro Alexandre de Moraes", lembrou.