A Polícia Federal reproduziu um trecho do depoimento prestado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, no início do mês, no qual ele afirma que o general Braga Netto procurou seus familiares para obter informações sobre a delação premiada firmada com a PF.
Segundo Cid, a abordagem ocorreu logo após sua soltura, em setembro do ano passado, período em que decidiu colaborar e revelar tudo o que sabia. Além de Braga Netto, outras pessoas o procuraram para descobrir o conteúdo das informações compartilhadas.
“Basicamente isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele (Braga Netto) como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado. Isso fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado. Tanto que o meu pai na resposta, que é aquela de terceiro, disse não, o Cid falou que não era”, disse Mauro Cid, à PF.
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O ex-ajudante de ordens continuou entregando informações sobre o general quatro estrelas, destacando que os contatos provavelmente ocorreram por telefone, já que seu pai residia no Rio de Janeiro e Braga Netto vivia no Lago Sul, bairro nobre do Distrito Federal, naquele período.
“Então talvez intermediários pudessem estar tentando chegar perto de mim, até pessoalmente, para tentar entender o que eu falei, querer questionar, mas como eu não podia falar, eu meio que desconversava e ia para outros caminhos, para não revelar o que foi falado”, disse Cid aos investigadores, em depoimento.
Pai de Cid procurado
O relatório ainda cita que Braga Netto procurou o general Mauro César Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens, para obter detalhes sobre a delação premiada firmada por Cid com a PF.
De acordo com o documento, o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, nas eleições de 2022, tentou acessar informações contidas no acordo de colaboração. Para sustentar essa conclusão, a PF mencionou que, durante buscas e apreensões realizadas contra investigados, foram encontradas mensagens trocadas entre o general Mário Fernandes e o coronel Jorge Luiz Kormann.
Nos diálogos, os pais de Cid tranquilizavam Braga Netto e o general Augusto Heleno, afirmando que a homologação do acordo de delação de Mauro Cid com a PF era “tudo mentira”. As conversas ocorreram três dias após a homologação, em setembro do ano passado.
Na avaliação da PF, o contato entre as partes, que chegou ao conhecimento de Mário Fernandes, indica que Braga Netto buscava informações sigilosas sobre o conteúdo da delação, atualmente mantido sob sigilo pela PF e pelo STF.
A prisão do general também foi embasada em informações prestadas por Mauro Cid ao ministro Alexandre de Moraes, em novembro, segundo as quais Braga Netto teria entregue dinheiro em espécie aos chamados Kids Pretos do Exército, utilizando caixas de vinho, para financiar um plano golpista. As declarações de Mauro Cid reforçaram a continuidade de seu acordo de delação premiada, à época ameaçado, e sustentaram o pedido de prisão preventiva de Braga Netto.
Braga Netto, que concorreu como vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição em 2022, foi preso em casa, no Rio de Janeiro, pela Polícia Federal. Em Brasília, a corporação cumpriu outro mandado, contra o ex-assessor do general, coronel Flávio Botelho Pereguino.
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