O trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é aprovado por pouco mais da metade dos eleitores brasileiros, segundo pesquisa realizada pela Quaest, divulgada ontem. Sua gestão é apoiada por 52% e reprovada por 47%. Não sabe ou não respondeu representam 1%.
Esse índice de aprovação aumentou ligeiramente em relação a outubro, quando era de 51%, mas a rejeição subiu o dobro: era de 45%. Esses números podem ser impactados pela solidariedade em relação ao calvário de Lula, que, hoje, deve passar por uma segunda cirurgia na cabeça, para estancar o sangramento intracraniano provocado por uma queda no banheiro do Palácio do Alvorada, em meados de outubro.
A Quaest entrevistou 8.598 pessoas, individualmente, entre 4 e 9 de dezembro. Com essa escala, estatisticamente a margem de erro é de um ponto percentual para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A hospitalização de Lula pode ter impacto positivo na sua avaliação pelos eleitores.
Entretanto, a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom), que aumentou a taxa de juros de 11,25% para 12,25% (a segunda maior do mundo, só menor que a da Turquia), pode repercutir negativamente. Estão previstos mais dois aumentos de 1% em janeiro e março do próximo ano, por causa da perda de controle da inflação e do deficit fiscal do governo. Será um desastre, se nada for feito para restabelecer o equilíbrio das contas públicas.
O novo procedimento a que Lula será submetido hoje, por mais simples e bem-sucedido que seja, alimenta muitas especulações políticas sobre seu futuro. O médico Roberto Kalil Filho bem que tentou tranquilizar a sociedade na entrevista "quebra-queixo" que deu à porta do Hospital Sírio-Libanês, onde o presidente está internado desde a madrugada de terça-feira. Esclareceu que a "embolização de artéria meníngea já estava prevista anteriormente". Essa cirurgia terá como objetivo conter o sangue que ainda está vazando.
Quem governa?
Ao descer para falar com a imprensa, Kalil estava impaciente e se sentia incomodado com os questionamentos. Mas acontece que as informações médicas estão sendo fornecidas de forma muito lacônica e sem detalhamento dos procedimentos. Quando a notícia de que seria feita uma nova cirurgia vazou para a imprensa, ninguém no Palácio do Planalto sabia que isso aconteceria. A primeira-dama Janja da Silva, que acompanha o presidente, é a única pessoa realmente informada.
Algumas considerações sobre a situação de Lula circulam nos meios políticos. Por mais que os médicos digam que tudo evolui muito bem, que a cirurgia foi um procedimento simples do ponto de vista neurológico e que a evolução do tratamento é muito boa, Lula está com um dreno na cabeça e o sangramento ainda não foi contido. Em se tratando do presidente da República, para a maioria dos políticos e a opinião pública, não é uma situação normal. Ainda mais porque, nas redes sociais, há muitas especulações e fake news.
O fato de o vice-presidente Geraldo Alckmin não ter assumido a Presidência interinamente deixa o governo sem um interlocutor junto ao Congresso com poder de decisão. Hoje, Alckmin presidirá a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico no lugar de Lula. A situação favorece o ambiente de desagregação política no Congresso.
As mensagens são contraditórias. Ora fala o ministro da Comunicação, Paulo Pimenta, ora fala o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Nenhum dos dois comanda a Esplanada. Quem teria esse poder é o ministro da Casa Civil, Rui Costa, mas isso fragiliza o papel de Alckmin. Os líderes do Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e da Câmara, José Guimarães (PT-CE), se esforçam, mas não conseguem enquadrar nem os parlamentares do PT. Até por isso, não têm poder de convencimento junto às bancadas governistas para aprovar os projetos.
Quem fica na frigideira é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tenta evitar que a reforma tributária e o ajuste fiscal sejam desfigurados a ponto de perderem o impacto que poderiam ter para estabilizar a economia, recuperar o equilíbrio e controlar a inflação. Com a intervenção do Banco Central na política monetária, o aumento da taxa de juros provocará mais inadimplência e uma freada brusca nos investimentos das empresas.
Além disso, crescem as especulações sobre as eleições presidenciais de 2026. Não se sabe quando o presidente poderá reassumir plenamente suas funções, nem se teria condições neurológicas para disputar uma campanha eleitoral. Essas dúvidas não são apenas dos políticos de oposição, mas, também, dos governistas.
Caso Lula não seja candidato, quem disputaria em seu lugar? Essa pergunta está em todas as cabeças. Não se sabe quando e como Lula poderá reassumir o comando pleno do país. Quem teria o papel mais proeminente no governo? Alckmin, Haddad, Costa ou Janja? Hoje, tudo passa pela primeira-dama.
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