FORÇAS ARMADAS

'Privilégios? Vem pra Marinha', slogan do Dia do Marinheiro

Vídeo de campanha institucional da Armada rebate narrativa de que medidas do pacote fiscal anunciado na semana passada foram feitas para combater "privilégios" dos militares e dar "igualdade" no tratamento da carreira militar em relação a outras atividades laborais

Preocupado com a imagem das Forças Armadas, o comandante da Marinha, Marcos Olsen, mandou mudar o slogan da campanha institucional pelo Dia do Marinheiro, comemorado em 13 de dezembro. O vídeo que a Armada lança, neste domingo (1º/12), na solenidade de troca da Bandeira Nacional, na Praça dos Três Poderes, já traz a nova mensagem: “Privilégios? Vem pra Marinha!”. O vídeo também marca a estreia da Marinha na plataforma TikTok, muito popular entre os jovens. 

Veja vídeo:

 

O vídeo original trazia imagens da árdua rotina de treinamento dos militares da Marinha e terminava com o slogan “Quer moleza? Vêm pra Marinha!”. A ideia era mostrar que o serviço militar é rigoroso, com muitas privações, mas, ao mesmo tempo, estimulante e desafiador. Mas, diante da repercussão do pacote fiscal anunciado na semana passada pela equipe econômica do governo, de que as medidas iriam no sentido de combater “privilégios” dos militares e dar “igualdade” no tratamento da carreira militar em relação a outras atividades laborais, o comandante Olsen mandou a equipe de comunicação do órgão refazer o vídeo institucional.

O comandante da Armada tem dedicado atenção especial em relação à comunicação e ao uso das redes sociais. No ano passado, a Marinha pediu à compositora Adriana Calcanhoto autorização para usar a música Ah, se eu fosse marinheiro no vídeo da campanha passada. A autorização foi dada e a repercussão acabou superando as expectativas, com muito engajamento nas redes. A ideia é manter a estratégia de comunicação a partir das plataformas.

A entrada da Marinha com uma conta oficial no TikTok faz parte dessa nova estratégia. Olsen quer atingir justamente o público mais novo e atraí-lo para a carreira militar, que, a cada mudança promovida pelo governo, perde atrativos. Mas o comandante quer, ao mesmo tempo, combater a imagem de que os militares são privilegiados em relação a outras atividades profissionais do serviço público.

Pronta resposta

Outra preocupação de Olsen é não deixar críticas sem resposta. Na semana passada, com a divulgação do inquérito da Polícia Federal sobre os atos golpistas que culminaram no 8 de janeiro, o comandante da Marinha determinou que sua assessoria divulgasse uma nota desmentido a informação de um dos investigados (identificado apenas como “Riva”) de que o ex-comandante da Força Almir Garnier — único alto oficial da Marinha indiciado pela PF — havia disponibilizado tanques para os golpistas.

Na nota, o comando da Marinha afirma que, “em nenhum momento, houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados para a execução de ações que tentassem abolir o Estado Democrático de Direito”. A nota termina com a mensagem de que “a constante prontidão dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais não foi nem será desviada para servir a iniciativas que impeçam ou restrinjam o exercício dos Poderes Constitucionais”.

No ano passado, Olsen também não se calou quando a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados começou a analisar o projeto que pretende incluir o marinheiro João Cândido na lista dos Heróis da Pátria. Conhecido como Almirante Negro, João Cândido liderou, em 1910, um motim contra os castigos físicos impostos pelos oficiais a marinheiros e militares de baixo escalão, que ficou registrado na História como a Revolta da Chibata. Em carta ao presidente da comissão, deputado Aliel Machado (PV-PR), o comandante da Marinha ratificou a posição da Armada de que a Revolta da Chibata foi uma infâmia, um “fato opróbio”.

Mais de 100 anos depois da revolta, João Cândido continua sendo tratado pela Marinha como um “reprovável exemplo de conduta para o povo brasileiro”. Para Olsen, que assinou a carta ao presidente do colegiado na Câmara, “enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado Democrático de Direito”.

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