O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, ontem, os decretos que nomeiam Gabriel Galípolo o sucessor de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central (BC) e outros três indicados para a diretoria da instituição. Ele assume o comando da autoridade monetária num momento em que a taxa básica de juros está em 12,25% para tentar conter a inflação e de disparada do dólar, que fecha o ano em alta de 27,3%, em função das desconfianças do mercado financeiro para as medidas de contenção do deficit fiscal.
Lula também aproveitou para conhecer os futuros integrantes da cúpula do BC, mas não conversou pessoalmente com eles. A assinatura ocorreu no Palácio da Alvorada, com a presença de Galípolo, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e dos novos dirigentes. Os indicados tomarão posse oficialmente amanhã, depois da publicação dos decretos no Diário Oficial da União (DOU).
"Ele foi apresentado aos diretores. Os diretores novos ele nomeou, mas não os conhecia. Quem os entrevistou foi o Galípolo. E hoje (ontem) eles foram conhecer o presidente, ocasião em que assinou os decretos de nomeação", comentou Haddad depois do encontro.
Os novos diretores são Nilton David, que será responsável pelo setor de Política Monetária; Gilneu Vivan, que atuará à frente de área de Regulação; e Izabela Correa, que assumirá a seção de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do BC. Todos foram indicados por Lula e aprovados em sabatina pelo Senado.
Haddad também elogiou a atuação do BC, ainda sob o comando de Roberto Campos Neto, depois da escalada do dólar em dezembro. A autoridade monetária precisou intervir no câmbio, realizando leilões da moeda norte-americana.
"Penso que as intervenções do Banco Central foram corretas, no sentido de dar liquidez para quem estava eventualmente fazendo remessa, enquanto o mercado processava as informações a respeito das medidas fiscais", avaliou.
Turbulências
Galípolo vem atuando como presidente interino do BC desde 21 de dezembro, data em que Campos Neto antecipou a saída do cargo. Até então, atuava como diretor de Política Monetária da instituição.
Indicado por Lula, Galípolo assume a cadeira diante de um cenário econômico complicado e pressões tanto do governo quanto do mercado financeiro. Investidores desconfiam que o novo presidente do BC cederá à influência do presidente da República, atuando, por exemplo, para reduzir a taxa de juros.
Com as mudanças na cúpula do BC, sete dos nove diretores são indicados por Lula. Desde o começo do mandato, o presidente tem sido um crítico implacável dos percentuais da Selic — a gestão de Galípolo começa com a taxa básica da economia no patamar mais alto do atual governo e há indicações de que pode chegar a 14,25% nas duas próximas reuniões do Comitê Política Monetária (Copom).
A desvalorização do real frente ao dólar é outro desafio para a nova gestão do BC. Galípolo chega em um cenário de incertezas dentro e fora do Brasil, especialmente pelo novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos, que volta oficialmente à Casa Branca em 20 de janeiro próximo. Na seara interna, pairam desconfianças sobre o pacote de corte de gastos apresentado pelo Palácio do Planalto e aprovado pelo Congresso com vários itens desidratados.
No discurso, porém, Galípolo reforça a defesa da independência do BC, demonstrou alinhamento com Campos Neto e até rebateu a tese governista de um "ataque especulativo" de investidores contra o governo, que teria levado à disparada do dólar acima dos R$ 6.
Salário mínimo
Lula assinou, também ontem, o decreto que fixa o salário mínimo em R$ 1.518 para 2025. O texto foi publicado hoje no Diário Oficial da União (DOU) e entra em vigor a partir de amanhã. Em comparação ao mínimo de 2024, de R$ 1.412, o aumento é de R$ 106.
Porém, o decreto considera a nova regra para definição do mínimo, que limita o crescimento real (acima da inflação) a 2,5%. A restrição consta em lei sancionada por Lula em 27 de dezembro e que faz parte do pacote de corte de gastos elaborado pelo governo federal.
Na regra anterior, definida por Lula em agosto de 2023, o valor era reajustado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC, que mede a inflação oficial) acumulado dos últimos 12 meses até novembro, somado ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. O INPC até novembro de 2024 ficou em 4,84% e o do PIB em 2023, em 3,2%.
Pela regra anterior, o reajuste levaria o mínimo a aproximadamente R$ 1.528. Agora, porém, o crescimento da parcela do PIB está limitado a 2,5%.
Segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), cada R$ 1 do mínimo equivale a um gasto de R$ 392 milhões no orçamento, pois o valor é usado como referência para pagamentos da Previdência Social e de programas como o Benefício de Prestação Continuada (BPC). A mudança representa uma economia estimada de R$ 3,9 bilhões em 2025.