governo

Lula dá sinais de que mudará novos ministros a partir de janeiro

Após a difícil aprovação do pacote de ajuste fiscal e da regulamentação da reforma tributária pelo Congresso Nacional, o presidente Lula dá sinais de que mudará, em janeiro, o time de ministros para abrir mais espaço aos partidos aliados

Foto da reunião ministerial da semana passada: alguns nomes não devem estar no próximo encontro da equipe de Lula, marcado para janeiro -  (crédito: Ricardo Stuckert / Presidência da República)
Foto da reunião ministerial da semana passada: alguns nomes não devem estar no próximo encontro da equipe de Lula, marcado para janeiro - (crédito: Ricardo Stuckert / Presidência da República)

Ao que tudo indica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está próximo de iniciar mais uma reforma ministerial em seu governo. Apesar de manter o tom ameno, neste fim de ano, após cirurgia na cabeça, o chefe do Executivo tem assuntos com urgência de ajuste já no início de 2025. Alguns nomes podem, inclusive, deixar o governo ainda neste fim de ano.

Da equipe de 37 ministros que estreou o terceiro mandato de Lula, em janeiro de 2023, cinco deixaram o governo, mas, ao todo, seis trocas foram efetivadas. Márcio França foi retirado de Portos e Aeroportos para dar lugar a um representante do Centrão, mas recebeu a chefia de um 38º ministério, o do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

Ana Moser (Esportes), Daniela Carneiro (Turismo), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional), e Silvio Almeida (Direitos Humanos) foram as baixas nestes últimos dois anos.

Um dos mais cotados para mudar de função é o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta. Como ressaltado pelo próprio presidente Lula, no encerramento de um seminário do PT, no último dia 6, antes de Lula passar por procedimentos na cabeça, "há um erro no governo na questão da comunicação, e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias". Lula deixou explícito o descontentamento com a atuação de Pimenta, entre outros motivos, por não estar dando tantas entrevistas como gostaria.

  • Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

O substituto tem nome certo: é Sidônio Palmeira, marqueteiro responsável pela campanha eleitoral de Lula em 2022. Convidado para a reunião ministerial da semana passada, ele deve ser o responsável pelo tradicional discurso à nação que Lula fará na noite da véspera de Natal. A substituição ainda não foi anunciada, segundo interlocutores, por causa do estado de saúde do presidente, que submeteu-se a uma cirurgia para drenar um hematoma na cabeça. Por isso, ficou em São Paulo por dez dias.

Pimenta, no entanto, não ficará desassistido, e é bem cotado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência da República. Atualmente, a pasta é chefiada por Márcio Macêdo que, caso concretizada a mudança, deixaria o governo e retornaria à direção nacional do PT, na qual ainda ocupa o cargo de vice-diretor, após passar cinco anos como tesoureiro da legenda.

Macêdo concretizou uma importante ação internacional do Brasil, o G20 Social, realizado em novembro deste ano, no Rio de Janeiro — a primeira inclusão de organizações da sociedade civil na cúpula do grupo das maiores economias do mundo. No entanto, foi algumas vezes criticado publicamente por Lula, como no ato de 1º de maio, Dia do Trabalhador, que o presidente chamou de "mal convocado". Em café da manhã com jornalistas, na última semana, o ministro mostrou-se conformado com a possibilidade, dizendo que era um "direito" do presidente promover mudanças na equipe ministerial.

Militares

Outro ministro que deve deixar o cargo muito em breve, por vontade própria, é José Múcio Monteiro, titular da pasta da Defesa. Desde que foi convidado pelo presidente para ocupar a vaga, o ministro tinha avisado que não pretendia permanecer no governo até o final do mandato. Agora, ele tem confidenciado a interlocutores que está pronto para deixar o governo. Segundo o Correio apurou, ele costuma dizer que já "cumpriu a missão" dada por Lula de pacificar os quartéis e melhorar a relação das Forças Armadas com o governo, abalada pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

Ainda não há confirmação se o pedido já foi feito ao presidente, que não gostaria de perder o leal auxiliar. A vontade de Múcio de deixar o cargo foi acentuada pelo recente vídeo publicado pelo comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, em que compara o trabalho árduo dos militares com uma suposta vida tranquila dos trabalhadores civis. A intenção era fazer um contraponto às críticas de que a carreira militar oferece privilégios que deveriam ser extintos no pacote de ajuste fiscal do governo. Uma das medidas aprovadas, que provocou reação do alto comando das três Forças, fixou idade mínima de 55 anos para passar para a reserva (aposentadoria). Lula ficou irritado com a situação, que comparou a uma insubordinação, e ameaçou demitir Olsen.

Além disso, o ministro da Defesa também enfrenta a tensão da investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado, cujo ápice foram os atos de 8 de janeiro de 2023. O inquérito indiciou 25 militares por participação em uma suposta organização criminosa que preparou e tentou deflagrar um golpe de Estado no país.

A pessoa mais cotada para ocupar a vaga de José Múcio é o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. No entanto, há dúvidas se ele aceitaria o convite. Outra possibilidade, apontada por quem acompanha de perto a rotina do Planalto, é o atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowsky.

Padilha

Um ponto adicional de atenção de Lula para o próximo ano deve ser a articulação política e econômica com os outros Poderes. Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais do governo, não teve sucesso em intermediar a relação do Executivo com o Legislativo, após fortes embates com o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL). Padilha também estaria de olho em pastas com maior visibilidade e orçamento, como a da Saúde, que chefiou nos governos de Lula (2009-2010) e Dilma Rousseff (2011-2014). (Leia mais sobre reforma ministerial na página 3)

Mayara Souto
postado em 22/12/2024 03:12
x