O relatório da Polícia Federal (PF) encaminhado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes aponta que o general Braga Netto, preso na manhã deste sábado (14/12), procurou o general Mauro César Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid, para obter detalhes sobre a delação premiada firmada por ele com a PF.
De acordo com o documento, o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, nas eleições de 2022, tentou acessar informações contidas no acordo de colaboração. Para sustentar essa conclusão, a PF mencionou que, durante buscas e apreensões realizadas contra investigados, foram encontradas mensagens trocadas entre o general Mário Fernandes e o coronel Jorge Luiz Kormann.
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Nos diálogos, os pais de Cid tranquilizavam Braga Netto e o general Augusto Heleno, afirmando que a homologação do acordo de delação de Mauro Cid com a PF era “tudo mentira”. As conversas ocorreram três dias após a homologação, em setembro do ano passado.
Na avaliação da PF, o contato entre as partes, que chegou ao conhecimento de Mário Fernandes, indica que Braga Netto buscava informações sigilosas sobre o conteúdo da delação.
A prisão do general também foi embasada em informações prestadas por Mauro Cid ao ministro Alexandre de Moraes, em novembro, segundo as quais Braga Netto teria entregue dinheiro em espécie aos chamados Kids Pretos do Exército, utilizando caixas de vinho, para financiar um plano golpista. As declarações de Mauro Cid reforçaram a continuidade de seu acordo de delação premiada, à época ameaçado, e sustentaram o pedido de prisão preventiva de Braga Netto.
Prisão
Braga Netto, que concorreu como vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição em 2022, foi preso em casa, no Rio de Janeiro, pela Polícia Federal. Em Brasília, a corporação cumpriu outro mandado, contra o ex-assessor do general, coronel Flávio Botelho Pereguino, que atualmente trabalha no gabinete de um deputado distrital da Câmara Legislativa (CLDF).
Saiba Mais
A operação
O ex-ministro Walter Braga Netto foi preso, na manhã deste sábado (14/12), pela Polícia Federal, no âmbito do inquérito que investiga tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A prisão ocorreu no Rio de Janeiro, sob a acusação de obstrução de Justiça, por ordem do ministro Alexandre de Moraes. Também foi cumprido mandado de busca e apreensão contra o ex-assessor do general, em Brasília, coronel Flávio Botelho Peregrino.
Segundo a corporação, foram cumpridos um mandado de prisão preventiva, dois mandados de busca e apreensão e uma cautelar diversa da prisão "contra indivíduos que estariam atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal". Ainda de acordo com a corporação, as medidas judiciais têm como objetivo evitar a reiteração das ações ilícitas.
- Leia também: Braga Netto: "Nunca se tratou de golpe"
Em comunicado emitido no início do mês, a defesa do general, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa do governo Jair Bolsonaro (PL), afirmou que ele "não tomou conhecimento de documento que tratou de suposto golpe e muito menos do planejamento de assassinato de alguém".
O militar havia sido indiciado pela Polícia Federal em novembro. A PF atribui ao general os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Somadas, as penas máximas previstas chegam a 28 anos de prisão.
Plano de golpe
Braga Netto é apontado pela Polícia Federal como figura central na tentativa de golpe. O relatório do inquérito da corporação afirma que "os elementos probatórios obtidos ao longo da investigação evidenciam a sua participação concreta nos atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e da abolição do estado democrático de direito, inclusive na tentativa de embaraçamento e obstrução do presente procedimento".
O plano de golpe, segundo apurou a corporação, incluía o planejamento do assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
À época do indiciamento, o general também se manifestou pelo X, antigo Twitter: "Agora parte da imprensa surge com essa tese fantasiosa e absurda de ‘golpe dentro do golpe’. Haja criatividade..."
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou, em depoimento à PF em 5 de dezembro, que Braga Netto teria entregado dinheiro vivo a militares das Forças Especiais, conhecidos como “kids pretos”, para financiar o plano golpista. A informação também é rechaçada pela defesa do general.