O sambista e compositor Claudio Lopes dos Santos, mais conhecido como Cláudio Camunguelo, morreu aos 61 anos, vítima de complicações causadas por diabetes na véspera de Natal de 2007. Era uma segunda-feira, dia da semana em que normalmente passava na Travessa dos Poetas de Calçada, um beco de 60 metros que liga a rua Treze de Maio com a Senador Dantas, no centro do Rio de Janeiro, antes de rumar para o Samba do Trabalhador, no Renascença Clube, no Andaraí, reduto histórico do movimento negro do Rio de Janeiro.
Estivador por profissão, Camunguelo era excelente flautista e grande partideiro, além de excelente cantor e dançarino. Parceiro de Zeca Pagodinho em Sinuca de Bico e Amarguras, é o autor do antológico samba Meu Gurufim, que sempre cantava nas rodas de samba: "Eu vou fingir que morri/Pra ver quem vai chorar por mim/ E quem vai ficar gargalhando no meu gurufim/ Quem vai beber minha cachaça/ E tomar do meu café/ E quem vai ficar paquerando a minha mulher".
Na segunda parte, o samba descreve uma situação muito parecida com o contexto político da convalescência de Lula, operado às pressas em São Paulo, na madrugada de terça-feira, depois de sentir muitas dores de cabeça e ser diagnosticado com um sangramento no crânio: "Quando o caixão chegar/ Eu me levanto da mesa/ E vou logo apagar/ As quatro velas acesas/ E vou dizer pra minha mãe/ Não chora/ Amigo a gente vê é nessa hora".
Lula passou por um segundo procedimento intracraniano, nesta quinta-feira, para conter o sangramento e evitar que isso ocorra novamente. Segundo a equipe médica do Hospital Sírio-Libanês, onde está internado, o presidente passa bem e sua alta está prevista para a próxima semana.
A primeira-dama Janja da Silva fez uma postagem nas suas redes sociais onde anuncia: "A equipe médica nos atualiza e tranquiliza a todo instante, e eu sigo ao lado do meu amor a cada hora de sua recuperação".
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que mantém Lula informado sobre a situação política. "Sei que está todo mundo querendo saber do presidente @LulaOficial. Recebi há pouco uma ligação dele, sempre muito focado e animado, pedindo atualizações do dia e de como está a pauta do governo no Congresso", escreveu Rui Costa no X, antigo Twitter.
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Esta não foi uma semana boa para o governo no Congresso. Sem Lula à frente das negociações com a própria base governista, as propostas do Executivo encalharam na Câmara, e a oposição aproveitou para aprovar sua própria agenda.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), insatisfeito com a regulamentação das emendas parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal (STF), deu prioridade às pautas das bancadas evangélica, do boi e da bala, ou seja, criou muitos problemas para o governo.
Oposição aproveita
O projeto que libera a compra de armas para quem está sob investigação em inquérito policial ou criminal, por exemplo, foi aprovado no plenário da Câmara. Outro projeto anistia quem tem armas ilegais. Um terceiro determina a castração química de condenados por crimes sexuais.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou as propostas de recontagem de votos nas eleições no país, obrigando que seja criado um sistema de voto impresso logo após a votação eletrônica, e a que dá aos produtores rurais o poder de acionar a polícia para retirar invasores de suas terras sem uma decisão judicial.
Entretanto, o Senado finalmente aprovou a regulamentação da reforma tributária, por 49 votos favoráveis a 19 contra. O projeto detalha regras para a cobrança dos três novos impostos sobre o consumo criados pela reforma tributária, promulgada em 2023. Entre 2026 e 2033, cinco tributos — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — serão unificados.
A cobrança será dividida em dois níveis: federal (com a Contribuição sobre Bens e Serviços, ou CBS); e estadual/municipal (com o Imposto sobre Bens e Serviços, ou IBS). Como sofreu modificações, entretanto, voltará para votação na Câmara dos Deputados, que terá a palavra final. Dificilmente a reforma será concluída neste ano.
Sem Lula no comando do governo, tudo ficou mais difícil neste final de ano. Entretanto, o mercado financeiro agora pressiona Lira e as bancadas do Centrão para aprovar o ajuste fiscal. E Lula deve mesmo voltar para Brasília na próxima semana.
Mesmo que não tenha condições de reassumir suas funções plenamente, tem o Natal e o ano-novo para descansar, e o recesso parlamentar alivia a pressão sobre o governo. Além disso, a pesquisa Quaest divulgada nesta quinta-feira aponta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, hoje, venceriam as eleições, em segundo turno, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em terceiro lugar viria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, seguido do influenciador Pablo Marçal ou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Ou seja, Lula e Haddad se mantêm com força eleitoral em 2026. A pesquisa neutraliza um pouco as especulações sobre as condições de saúde em que Lula chegaria ao pleito e a eventual necessidade de ser substituído por Haddad. Às vezes, a expectativa de poder é mais importante do que o próprio poder para manter a lealdade dos aliados.
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