Pelo menos cinco brasileiros foram detidos na Nigéria no mês de novembro e permanecem presos pelas autoridades do país. Eles foram acusados de participação em crimes cibernéticos e conspiração contra o governo do país. De acordo com familiares, as vítimas foram atraídas pela promessa de emprego em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e não têm ligação com atividades criminosas. A proposta que receberam seria para atuar em casas de apostas on-line, do tipo bet, que ganharam adeptos no mundo todo, inclusive no Brasil.
De acordo com testemunhas ouvidas pelo Correio, após alguns meses em Dubai, os brasileiros foram levados para a Nigéria. Durante toda a viagem, os supostos representantes da empresa que fez o convite ficaram em posse dos documentos dos brasileiros.
No contrato enviado pela empresa Global Shuanggou Technology Co. Limited, que informa no documento que tem sede em Hong Kong, havia cláusulas abusivas, como jornada de trabalho de 12 horas diárias e 72 horas por semana. De acordo com os termos, seria permitido quatro folgas por mês. No entanto, essas folgas poderiam ser substituídas por um pagamento mensal de R$ 500. O grupo é formado por moradores de Planaltina e Sobradinho, no Distrito Federal, Salvador e São Paulo.
Na Nigéria, as vítimas foram colocadas em alojamento com diversos computadores. Quando a polícia do país foi até o local, após uma denúncia, alegou que todos participavam de ataques cibernéticos e conspiração contra o governo local. A Justiça do país está analisando o caso e todos foram presos durante o processo. O temor das famílias é de que ocorra condenação das vítimas junto a integrantes da empresa e pessoas de outras nacionalidades ou que sejam alvos do tráfico humano para outras nações — onde seria difícil a localização.
O Correio apurou que integrantes da empresa tentam dificultar que as famílias repassem informações para autoridades diplomáticas ou para a imprensa. A Polícia Federal, procurada, afirmou que não comenta eventuais investigações em andamento. "Ele não tinha muito conhecimento em tecnologia e nenhuma ligação com grupos terroristas ou de crimes virtuais. Não tem possibilidade de ter qualquer ligação com crimes on-line", afirma o parente de um dos brasilienses que foram detidos.
A reportagem teve acesso às conversas entre integrantes da companhia, vítimas e familiares. "Eles ficaram com nossos documentos, nossos passaportes. Mesmo que a gente tentasse ir embora, não daria certo", disse uma das vítimas.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) informou que, "por meio da Embaixada do Brasil em Abuja, acompanha o caso e presta assistência consular aos nacionais brasileiros". A pasta informou que, "em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros".
Procurada, a Polícia Federal informou que "não comenta eventuais investigações em andamento". A Global Shuanggou Technology Co. Limited não foi encontrada para comentar o caso e explicar as alegações de jornada excessiva e suposto tráfico internacional de pessoas.
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