EM 2025

África do Sul presidirá o G20 a partir de dezembro deste ano

É a primeira vez que um país do continente recebe a presidência do grupo. Liderança da África do Sul ocorre 30 anos após o apartheid. Neste ano, a cúpula do bloco ocorre no Rio de Janeiro e movimenta a cidade

Em 1º dezembro de 2024, o G20 será presidido pela primeira vez por um país africano. Com mais de 63 milhões de habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a África do Sul é o único país do continente no G20. O marco acontece em um ano simbólico: os sul-africanos comemoram 30 anos do fim do apartheid. Em abril de 1994, o país teve as primeiras eleições multirraciais com a eleição do primeiro negro presidente, Nelson Mandela, um ano após ter vencido o Prêmio Nobel da Paz.

Em Brasília, esse repasse de gestão aconteceu no Congresso Nacional, na última sexta, no último dia 10ª Cúpula de Presidentes dos Parlamentos do G20, o P20. A parlamentar sul-africana Annelie Lotriet recebeu a presidência do P20 pelas mãos de Arthur Lira (PP-AL), em gesto simbólico, uma vez que a oficialização ocorrerá no Rio. "Isso traz um momento histórico não apenas para nossa nação, mas para todo continente africano", declarou Annelie.

Em seu discurso, a parlamentar sul-africana defendeu maior representatividade do continente na participação em negociações e acordos multilaterais e garantiu o compromisso do país em dar continuidade às propostas do P20 na busca pela paz e na defesa dos direitos humanos. Annelie convidou aos parlamentares presentes a se juntarem ao encontro no próximo ano: "estamos ansiosos para receber vocês".

Em seguida, o governo transmitiu um vídeo informativo sobre o G20 no país: "nós somos o berço da humanidade". O anúncio celebrava a conquista africana inédita. O G20 coloca a África do Sul em evidência 15 anos depois da 19ª Copa do Mundo Fifa, a primeira no continente. Neste ano, a cúpula do bloco ocorre no Brasil, na cidade no Rio de Janeiro.

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A apenas uma semana para dar início à 19ª Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, o Brasil se movimenta para garantir a segurança e estrutura para receber pela primeira vez representantes das maiores economias do mundo. A expectativa é que os 19 países e os dois organismos internacionais membros do grupo tragam 60 delegações estrangeiras e 40 chefes de Estado para a capital fluminense nos dias 18 e 19 de novembro.

A agenda da cidade já começa a ficar movimentada esta semana e a receber autoridades internacionais. A partir do dia 14, o prefeito Eduardo Paes (PSD) vai receber mais de 60 prefeitos e delegações de mais de 100 cidades estrangeiras para o Urban 20 (U20). Criado em 2017, em Paris, o evento de diplomacia entre cidades busca debater as pautas de economia, clima e desenvolvimento na perspectiva das cidades de países do G20, promovendo o debate e a articulação política entre os membros.

Simultaneamente, até o dia 17, o Rio será palco do lançamento do G20 Social, a iniciativa popular criada pelo governo brasileiro, que preside o grupo este ano. O país recebeu a presidência do G20 da Índia, durante ao final da 18ª Cúpula em 2023 em Delhi, capital indiana. Na cerimônia de encerramento do encontro no Rio, será a vez do Brasil transferir a presidência do grupo para a África do Sul.

Rotatividade

Com presidência rotativa e anual desde 2011, o Grupo dos Vinte (G20) é um fórum internacional de cooperação econômica fundado em 1999. A necessidade de unir as maiores economias mundiais em um só grupo surgiu após a crise financeira no continente asiático. Dessa forma, ministros de finanças e presidentes de bancos centrais destes países poderiam debater e gerenciar o sistema econômico global.

O encontro inaugural da cúpula aconteceu em Berlim, Alemanha, em 1999, e consagrou o até então ministro das Finanças do Canadá, Paul Martin, como o primeiro presidente. Os integrantes do grupo são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia. E dois organismos internacionais: União Africana e da União Europeia.

Eles representam mais de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, 75% do comércio global e cerca de dois terços da população do planeta. E, desde sua criação, o G20 desempenha um papel crucial no fortalecimento da arquitetura financeira internacional e da governança mundial, apoiando o crescimento e o desenvolvimento de políticas nacionais e de cooperação internacional.

No comando do grupo, o governo brasileiro estabeleceu tópicos prioritários a serem debatidos ao longo do ano, em especial, durante o encontro do grupo no P20 e no G20. Divididos em três frentes de trabalho, os países devem trabalhar e encontrar soluções para combater a fome, pobreza e desigualdade; promover o desenvolvimento sustentável nas esferas econômica, social e ambiental; e realizar uma reforma na governança global, que ainda segue normas criadas no século passado.

África em evidência

A África do Sul participou ativamente do P20. A delegação levou três parlamentares para representar o país: vice-presidente da Assembleia Nacional da África do Sul, Annelie Lotriet, e os parlamentares do Congresso Nacional Africano, Mikateko Golden Mahlaule e Liezl Linda van der Merwe. Os outros quatro países do continente convidados pelo Brasil para o P20 vieram: Angola, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe.

O continente teve mais duas representações parlamentares. A parlamentar tanzaniana eleita em 2023 presidente da União Interparlamentar (UIP), Tulia Ackson, e a terceira vice-presidente do Parlamento Pan-Africano, a cabo-verdiana Lucia Maria dos Passos, no cargo desde 2022. Todos os representantes africanos tiveram a oportunidade de discursar para os parlamentares presentes.

A presidente da Assembleia Nacional da Angola, Carolina Cerqueira, primeira presidente mulher do Parlamento angolano, destacou o papel da mulher africana na tomada de decisão. "Em quase todo o continente, principalmente nas zonas rurais, há barreiras no exercício à cidadania por motivo de cultura e tradição que impedem o acesso das mulheres à educação escolar e à qualificação técnica e profissional, o que gera um profundo impacto negativo sobre as gerações futuras".

"Quando ocupam cargos de liderança, têm que lutar contra os esteriótipos de gênero que consideram, por exemplo, que a mulher que ascendeu àquele cargo não o fez por mérito próprio — enfrentar o preconceito de gênero", revelou. Ela defendeu a importância em se estabelecer regras para financiamento eleitoral.

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