Entrevista

Kassab: "O Brasil não quer mais as extremidades"

Na avaliação do presidente nacional do PSD, para 2026, as perspectivas são mais favoráveis a candidatos que se descolarem de embates ideológicos, e diz que Ratinho Jr. deve ser o nome do partido na corrida. Para ele, investigação da PF sobre golpe pode mudar o quadro político do país

Kassab:
Kassab: "Ações (sobre golpe) podem mudar o quadro político do país" - (crédito: Andrea Naline/CB)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, na terça-feira, a Lei Complementar nº 201, que trata da transparência das emendas parlamentares. Para o presidente nacional do PSD e secretário de Governo e Relações Institucionais de São Paulo, Gilberto Kassab, além da clareza sobre os repasses, a regulamentação é essencial para assegurar que os recursos públicos promovam justiça social.

"Eu faço uma crítica respeitosa aos meus colegas parlamentares: se tiver total transparência nas emendas parlamentares, fica muito mais fácil para a sociedade entender a importância delas, se o Congresso resolver mantê-las", ressaltou Kassab, em entrevista aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Denise Rothenburg, no programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.

Kassab foi cauteloso ao comentar as investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado e o fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro estar no centro da trama, segundo a corporação.

"Precisamos esperar os desdobramentos com as investigações do Ministério Público, mas são ações que podem mudar o quadro político do país. Então, estou com muito cuidado, esperando o momento certo para me manifestar, torcendo para que tudo isso seja um pesadelo. Parece que não é, mas estou na torcida para que seja."

O dirigente enfatizou o crescimento do centro nas eleições municipais, "enquanto a esquerda e a direita, em suas posições mais radicais, tiveram uma diminuição bastante sensível". O partido dele, o PSD, foi a legenda que conquistou mais prefeituras, um total de 887. Em capitais, ganhou no Rio de Janeiro, com Eduardo Paes; em Belo Horizonte, com Fuad Noman; em São Luís, com Eduardo Braide; e, em Curitiba, com Eduardo Pimentel.

"Todos (população) querem saber de melhor saúde pública, melhor ensino público e mais segurança. Essa é a pauta do brasileiro, que vai se acentuar nas próximas eleições. A perspectiva é para aqueles que pregam a moderação, que pregam políticas públicas, em vez de ficarem em embates ideológicos que não levam a lugar nenhum", frisou.

Segundo Kassab, para 2026, se o PSD lançar candidato à Presidência, o nome deve ser Ratinho Jr., governador reeleito pelo Paraná ainda no primeiro turno.

O tema da transparência das emendas parlamentares dominou o debate político aqui em Brasília. Como avalia essa questão?

O foco precisa ser, primeiro, a transparência e, depois, uma regulamentação das emendas, para que elas sejam indicadas em projetos que modifiquem a infraestrutura do país. Cabe ao governo federal, com seu orçamento, trabalhar pela renovação e pelo fortalecimento da nossa infraestrutura. Eu faço uma crítica respeitosa aos meus colegas parlamentares: se tiver total transparência nas emendas parlamentares, fica muito mais fácil para a sociedade entender a importância delas, se o Congresso resolver mantê-las. Mas, para ter emendas, para ter transparência, é preciso ter um direcionamento adequado.

De que forma?

Não cabe as emendas estarem sujeitas a direcionamentos que resolvem pequenos problemas, que deixem o Brasil sem investimento de renovação de parques industriais. Se as emendas atenderem a esses objetivos, com transparência, e a sociedade enxergar que está sendo atendida, não tem por que não ter as emendas. Mas não pode ser emenda que fique solta, sem objetivo ou critério, porque são recursos públicos que precisam ter como prioridade o atendimento na justiça social, para que a gente possa melhorar a saúde, a educação, a segurança. Então, eu acredito que, se o Congresso não caminhar para que essas demandas sejam atendidas, cada vez mais a sociedade vai cobrar pelo fim das emendas.

Como avalia o cenário político nas próximas eleições presidenciais, após a divulgação do relatório de golpe envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro?

Precisamos esperar os desdobramentos com as investigações do Ministério Público, mas são ações que podem mudar o quadro político do país. Então, estou com muito cuidado, esperando o momento certo para me manifestar, torcendo para que tudo isso seja um pesadelo. Parece que não é, mas estou na torcida para que seja.

Que análise faz da instabilidade política no Brasil?

A conduta do eleitor brasileiro mudou nessa eleição municipal. O Brasil não quer mais as extremidades, prevaleceram propostas e partidos de centro, tomando como exemplo o crescimento do MDB e até do PSD; enquanto a esquerda e a direita, em suas posições mais radicais, tiveram uma diminuição bastante sensível, especialmente em relação às expectativas que elas tinham. Todos querem saber de melhor saúde pública, melhor ensino público e mais segurança. Essa é a pauta do brasileiro, que vai se acentuar nas próximas eleições. A perspectiva é para aqueles que pregam a moderação, que pregam políticas públicas, em vez de ficarem em embates ideológicos que não levam a lugar nenhum. Isso é bastante claro em relação a 2026.

O governador do Paraná, Ratinho Jr., praticamente se colocou como pré-candidato à Presidência. Ele é o nome do partido?

Ratinho faz um trabalho extraordinário à frente do governo do Paraná. Foi reeleito no primeiro turno. Acaba de eleger o prefeito de Curitiba. Isso tudo mostra a qualidade do seu trabalho, a sua liderança num estado difícil, um estado muito politizado. É uma liderança inconteste em todo o Sul do país, pelo que faz no Paraná. É um quadro de excelência, preparadíssimo para ser bom presidente, se um dia o for. O que ele tem dito, e eu estou de pleno acordo, é que ele, instado por lideranças partidárias do Paraná e do Brasil, aceita colocar o seu nome à disposição. Se o partido tiver candidato a presidente da República, o Ratinho será o candidato porque é o nome hoje que se dispõe a fazer isso e com qualificações para isso. Eu, como dirigente partidário, sempre digo que um partido que não se esforça para ter candidatura própria para prefeito, para governador, para presidente da República, é um partido que não vai para lugar nenhum. Nestas eleições, se pudermos ter candidatura própria, vamos nos esforçar para ter. E se pudermos, muito possivelmente, será o governador Ratinho.

Como está o PSD para 2026, já que uma parte está muito fechada com o governo Lula e outra muito afinada com o bolsonarismo?

Posso afirmar que não há divisão no PSD hoje. Todos entendem com muita naturalidade, por sermos um partido de centro, na hora que um candidato vai mais à esquerda ou mais à direita. Dessa maneira, a gente vai fortalecendo o partido. O resultado dessas eleições municipais mostrou que o partido está no rumo certo.

Como enxerga o desenrolar, no Congresso, da proposta de anistia aos presos do 8 de janeiro?

Esse projeto cresceu dentro do Congresso Nacional por conta da candidatura à Presidência da Câmara, em que o Hugo Motta é o favorito. Então, o PL quis impor um compromisso principal com o candidato, pedindo a anistia. Já o PT fez o movimento contrário com o Motta. Acredito que essa proposta será algo conduzido depois das eleições, porque ambos não querem brigar com Motta.

Em relação ao envolvimento do PL com o 8 de janeiro e com a proposta de anistia, como o senhor avalia as possibilidades de punição para um partido implicado com atos antidemocráticos?

Evidentemente que, quando algum partido tiver uma conduta inadequada, e que fique clara e comprovada essa conduta, a punição deve existir, mas tem que ser conduzida com muito cuidado, porque um partido envolve não apenas seus dirigentes, mas também uma cadeia enorme de representações do plano estadual, do plano municipal, que nos faz ter muito cuidado nas nossas manifestações e julgamentos. Além de, com certeza, também o Poder Judiciário precisa de muito cuidado nas suas decisões.

Que análise faz da saída de Antônio Britto da disputa pela Presidência da Câmara?

Tenho certeza de que Antônio Britto é um dos parlamentares mais qualificados da história do Congresso Nacional. É uma pessoa culta, fala cinco línguas e representa, com muito idealismo, o estado da Bahia. Tem uma bandeira social das Santas Casas, onde tem uma atuação não apenas baiana, mas nacional e universal. É uma pessoa de muito valor. Não é o PSD que ganharia, é o Brasil que ganharia muito se ele fosse presidente da Câmara, porque todos sabem que ele não ficaria questionando essas divergências partidárias, ele iria discutir políticas públicas para mudar o padrão de discussão hoje no Congresso. Ele tinha todas as credenciais para ser um dos melhores presidentes na história da Câmara.

Não seria o caso de lançar uma candidatura avulsa?

Acredito que não. Primeiro, é preciso respeitar a maioria, e o Motta compôs a maioria. O apoio do PT e do presidente Lula foi fundamental para ele ter essa maioria, o que prejudicou a campanha de Britto, sim.

O que pensa de coligações de partidos?

Acho que a gente caminha para banir do nosso sistema político as coligações. Já eliminamos as coligações de eleição proporcional, que é aquela que trata de vereador, deputado estadual e deputado federal. Estou entre aqueles que defendem a aprovação do fim da coligação majoritária para prefeito, para governador, para presidente. O Brasil caminha para ter de seis a oito partidos, o que é razoável. Não temos mais do que isso em termos de ideologia, porque o partido é para expressar e representar uma tendência ideológica programática, não precisa mais do que isso.

Sobre a discussão da reforma tributária, qual a sua perspectiva?

Dos últimos 10 governadores de São Paulo, é a primeira vez que o estado dá um voto de confiança no Brasil em relação à reforma tributária. Agora, o Congresso precisa tomar cuidado para não quebrar as pernas de São Paulo, porque, se quebrar as pernas de São Paulo, quebra as pernas do Brasil. Essa reforma está sendo apoiada pelo governador Tarcísio, desde que São Paulo tenha o respeito que merece. Com os interesses econômicos do estado preservados, são também preservados os interesses do país.

Como o partido vai se preparar para as candidaturas nos próximos dois anos?

No âmbito municipal, agora é apoiar os eleitos para que eles tenham um bom desempenho. Já no quadro estadual para as eleições daqui a dois anos, o nosso esforço será realmente apresentar um número expressivo de candidatos que possam nos representar com dignidade em candidaturas majoritárias. Vamos nos esforçar muito para ter muitos candidatos a governador.

Qual é a sua avaliação sobre as próximas candidaturas no Distrito Federal?

Tenho certeza de que o Paulo Octávio vai se esforçar muito para ter candidatura própria e, assim, o PSD cresce. Tivemos uma participação importante dele na última eleição, com o seu filho, André Kubitschek, que teve uma votação muito expressiva. Tudo isso faz com que eu entenda que o Paulo Octávio vai saber caminhar dando prioridade a uma candidatura majoritária.

E para São Paulo, o projeto é a reeleição do governador Tarcísio de Freitas?

Não posso falar por ele, mas posso dizer que o nosso projeto para São Paulo é estar ao lado do governador. Na hora certa, vamos discutir essas questões.

*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa

 

 

postado em 28/11/2024 03:55
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